São vinhos produzidos nas Cortes, com vinhas das Cortes e que transportam para o copo longos anos de tradição de viticultura desta localidade de Leiria. O Vale da Mata e a Quinta da Serradinha são alguns dos projectos desenvolvidos à luz deste conceito.
Relativamente recente, o projecto Vale da Mata recupera a tradição dos vinhos das Cortes. “A primeira colheita Vale da Mata lançada para o mercado foi o Vale da Mata Reserva 2007”, recorda Catarina Vieira. “É um projecto novo, mas que recupera a tradição dos vinhos das Cortes e também uma tradição familiar, do vinho que era feito pelo meu avô”, acrescenta a responsável.
“Procuramos recuperar a tradição dos vinhos das Cortes, que há muitos anos chegaram a conquistar prémios a nível nacional, mas que foram desaparecendo, com o abandono da agricultura, e da viticultura em particular”, prossegue a empresária.
“São quatro hectares de vinha, de vinhos frescos, elegantes, características apreciadas por um mercado informado, um mercado maduro, que já bebe”, explica a enóloga e responsável pelo projecto. “Os estrangeiros procuram castas portuguesas, procuram vinhos genuínos. Querem perceber como fazemos os vinhos e conhecer a história que lhes está associada”, expõe a empresária.
Cerca de 60% do Vale da Mata segue já para exportação, sobretudo para a Europa, Estados Unidos e Brasil, mas conta com apreciadores em vários pontos do mundo. “Em cada país há apreciadores destes vinhos e a tendência é para que surjam cada vez mais”, acredita Catarina Vieira.
“O ano 2007 foi um ano exepcional, assim como também foram 2009 e 2011. O próximo vinho a ser lançado, de 2018, também será muito bom”, antecipa a responsável. “São vinhos muito gastronómicos, muito elegantes, com muita frescura. Vinhos de terroir. Acreditamos na interacção entre este solo, o clima e a casta. É um local de excelência para produzir vinhos de excelência”, realça [LER_MAIS]a empresária.
“Esta vindima também correu bem e achamos que 2021 é um grande ano. Fomos afectados pelo primeiro confinamento, mas o segundo tivemos o privilégio de não o sentir”, expõe a responsável pelo Vale da Mata, projecto que envolve 21 colaboradores.
Dentro de um mês, o Vale da Mata estará no mercado com uma imagem renovada, adianta Catarina Vieira. “Será um vinho com uma imagem mais fiel à sua história. Queremos que o novo rótulo seja uma homenagem mais genuína e mais pura ao meu avô”, explica a empresária, salientando ainda o trabalho constante que o Vale da Mata tem realizado no sentido da internacionalização.
“Ao projecto Rocim, que tem a Herdade do Rocim (Alentejo) e o Vale da Mata (Lisboa), e que já conta com o projecto Bela Luz (Douro), interessam sempre mercados novos, desde que neles tenhamos a consistência que temos conseguido.” O projecto Rocim exporta actualmente para 39 países. O volume de negócios de 2020 foi de três milhões de euros e a expectativa para 2021 é que sejam alcançados os quatro milhões de euros.
Serradinha e os seus vinhos biológicos
Na Quinta da Serradinha, António Marques da Cruz dá continuidade à tradição familiar dos vinhos, que remonta a meados do século XIX. “São vinhos biológicos e a ideia é levar para o copo a história da região, o clima atlântico e os calcários da serra”, sintetiza o responsável pela Quinta da Serradinha.
Neste projecto, entre 90 a 95% da produção destina-se ao mercado internacional. A exportação teve início nos anos 90, mas intensificou-se sobretudo a partir de 2010. Estados Unidos e Canadá são os maiores apreciadores deste vinho.
“Interessam-se por um vinho que os remete para uma região. Apreciam a diferenciação. Gostam de saber sobre as castas. Têm o prazer de beber e uma curiosidade profunda. E é um tipo de consumidor que está a crescer muito”, adianta António Marques da Cruz.
Neste projecto, de 5,5 hectares – um outro hectare está neste momento a ser preparado – trabalham a tempo inteiro apenas António Marques da Cruz e Guilherme Vitorino. No ano passado, a Quinta da Serradinha teve 150 mil euros de volume de negócios. É um projecto pequeno, mas desenvolvido com paixão e orgulho: “Trabalhamos exclusivamente as uvas que produzimos”, salienta o empresário.
Este ano, o granizo intenso que se fez sentir em Junho na região levou a uma quebra de 60% da produção. No entanto, apesar da perda em quantidade, António Marques da Cruz realça que Setembro foi fresco e que esse clima clássico permitirá ao vinho adquirir as características de tempos antigos. Haverá uma autenticidade a apreciar, apesar da dificuldade da vindima.