Cumprindo uma das suas promessas da campanha eleitoral, Donald Trump decidiu reconhecer Jerusalém como capital de Israel e, consequentemente transferir a Embaixada dos Estados Unidos para essa cidade.
E fê-lo bem consciente das consequências que inevitavelmente tal decisão traria para o processo de paz no Médio Oriente. Jerusalém é considerada por judeus, cristão e muçulmanos como a “cidade santa”. Aí coexistem, na parte oriental da cidade, os “lugares sagrados” das três grandes religiões monoteístas. E foi esta a razão – a coexistência de uma diversidade de religiões e culturas – que levou a ONU, já em 1947, a iniciar um processo que visava a internacionalização da cidade, o que nunca veio a acontecer.
Recorde-se que em 1949 Jerusalém foi dividida em duas partes, tendo ficado a parte Ocidental sob o domínio de Israel e a parte Oriental sob domínio da Jordânia. Só que em 1967 Israel ocupou a parte Oriental da cidade. Tal anexação veio a ser considerada pela ONU como uma violação do direito internacional e um dos obstáculos à paz naquela região.
[LER_MAIS] Tem existido até agora um acordo tácito entre a generalidade dos países sobre o estatuto de Jerusalém, razão pela qual as embaixadas em Israel se situam na cidade Telavive. E foi esse consenso que Trump violou.
No entanto, a decisão ora tomada pelo Presidente dos Estados Unidos tem antecedentes históricos. Em 1989 o Estado de Israel arrendou àquele país um terreno situado em Jerusalém por um montante meramente simbólico (1 dólar/ano) com o objectivo de ser aí construída a embaixada dos Estados Unidos, o que no entanto nunca chegou a concretizar-se.
É também certo que em 1995 o Congresso Americano decidiu que era aquele o momento de os Estados Unidos iniciarem a transferência da embaixada de Telavive para Jerusalém. Mas também esta decisão do Congresso nunca foi levada à prática por qualquer um dos Presidentes dos Estados Unidos que antecederam Trump: Clinton, George W.Bush e Baraka Obama.
Trump decidiu assim alterar a posição dos seus antecessores para, de forma provocatória, tomar uma decisão completamente irresponsável, sem a mínima preocupação com as consequências que daí iriam necessariamente advir.
E essas consequências já se começaram a fazer sentir: o deflagrar de uma terceira intifada já declarada e com mortos no terreno, que inevitavelmente tornará inviável qualquer processo de paz. E é isto o que Trump pretende, apesar de afirmar, de forma cínica e despudorada, precisamente o contrário!
É que Trump tem perfeita consciência que a sua decisão irá apenas aumentar a revolta do povo palestiniano e tornar inviável qualquer negociação, destruindo, como referiu recentemente o embaixador da Palestina em Portugal, “todas as esperanças de paz entre os dois povos”. E o único beneficiado com esta atitude de Trump é Israel e o seu presidente de extrema-direita Benjamin Netanyahu, que perdeu assim todo o interesse num qualquer processo de paz.
*Advogada