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Home Sociedade

Quintais da Nazaré. Há uma história escondida nos bairros da vila

Daniela Franco Sousa por Daniela Franco Sousa
Outubro 17, 2021
em Sociedade
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Quintais da Nazaré. Há uma história escondida nos bairros da vila
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O passar dos anos fez proliferar prédios altos, edifícios novos, que foram cercando pequenos bairros típicos da Nazaré. Chamam-se quintais, estão localizados em vários pontos da vila, e concentram punhados de casas, em muitos casos caracterizadas pela minúscula dimensão da sua única assoalhada, bem como pela grandiosidade da história que nelas habita.

Resguardados dos olhares dos turistas, que não lhes conhecem as serventias estreitinhas, estas construções do início do século XX albergam ainda testemunhas de tempos idos, quando quase tudo na praia dependia da faina. Mas, envelhecidas as habitações e os inquilinos, a Nazaré arrisca-se a perder, num curto espaço de tempo, um pedaço da sua história.

No Pátio José Paiva, António Trindade – por todos conhecido como “Russo” -, apruma-se para nos receber. Tem 55 anos e é o mais jovem dos últimos quatro moradores deste quintal. Foi pescador, tal como fora o seu pai, mas agora é em casa, numa única divisão de três por quatro metros, que tem passado os seus dias. A música da telefonia e as notícias do televisor ajudam-no a distrair-se, quando já pouco resta da vivacidade do bairro que conheceu na juventude.

Neste quintal apertadinho chegaram a viver cerca de 80 pessoas. “Só o Zé Quinzico tinha 11 filhos”, recorda “Russo””. Na única divisão de cada casa, havia cama e cozinha. “De manhã, íamos vazar o pote ao mar”, conta o morador, frisando que só mais tarde alguns inquilinos improvisaram um quarto de banho. “Tínhamos 5 ou 6 anos e já ajudávamos na pesca. Mas aqui brincávamos. Quando chovia muito, isto parecia uma piscina. Com água pelos joelhos, até nadávamos”, lembra o morador.

À medida que as pessoas foram morrendo, ou saindo para locais de maior conforto, o que se intensificou a partir de meados dos anos 80, o quintal foi-se degradando. E actualmente, cercado por prédios altos, o sol quase não lhe chega. “Aqui é frio acamado”, relata o inquilino. Viúva, doente e sem reforma, Lídia [LER_MAIS]Murraças vai ficando pela casa onde habita desde que casou. Noutro local, esclarece, não conseguiria pagar renda.

Pelos quintais sempre viveram de resto as famílias mais carenciadas. A octogenária conta que em tempos antigos, não tendo dinheiro para pagar dívidas de pão, muitas pessoas não tiveram alternativa se não entregar as suas casas ao padeiro. Alguns desses agregados acabaram por ter de se mudar para estes pequenos bairros.

Apesar da dureza desses dias, também esta moradora lembra com entusiasmo a dinâmica do quintal de outrora. De quando o marido era pedreiro, de quando ela ainda trabalhava no peixe e de quando por ali se criavam os filhos, com grande entreajuda da vizinhança. É dessa amizade que fala Deolinda do Carmo, de 84 anos. “Aqui era tudo bom. Cinco estrelas. Era uma grande família. Quando um não tinha, tinha o outro.”

A vida era quase toda feita no estreito caminho que medeia as duas fileiras de casas. “Cheirava sempre a sabão azul e branco, com as mulheres a lavar roupa nos tanques”, conta Deolinda. Como tantos homens do bairro, também o seu marido trabalhava no mar. A ela competia tratar dos filhos e da casa.

E com tanta gente a morar numa porção de espaço tão reduzida, quase todos os dias eram de festa, conta a moradora, que recorda com emoção as celebrações que deixavam o quintal adornado de bandeiras coloridas de papel. E por ali se arranjavam namoricos. Mas, tal como numa grande família, também tinham lugar as bulhas entre crianças e até as mulheres sedesavinham. “Deixavam de se falar. Depois faziam as pazes.”

Não muito longe do Pátio José Paiva fica outro pequeno bairro, de onde sai à rua Paulo Fidalgo. “Este quintal nem tem nome”, explica o morador. “O meu pai era pescador, a minha mãe peixeira e eu também trabalhei no mar” relata o inquilino, de 61 anos. “As pessoas aqui só tinham filhos e filhos. Agora não há ninguém”, compara Paulo, o único que continua a morar no bairro a tempo inteiro. “

Estas casas eram autênticas cabanas, serviam como arrecadações de peixe. Só que muitos também viviam cá”, explica. Com o tempo, as habitações foram recebendo melhoramentos, mas mesmo assim há muito por fazer, expõe o inquilino.

Criar novas lógicas

João Paulo Delgado, recém-empossado vereador na Câmara da Nazaré pela CDU e cuja infância também passou pelos quintais desta vila, está a ultimar uma tese de doutoramento sobre as transformações da pesca em Portugal, debruçando-se sobre o caso particular da Nazaré. E parte da sua pesquisa é dedicada à habitação como sinónimo de diferenciação social, onde aborda as especificidades dos quintais.

“Na Nazaré existem algumas dezenas de quintais, de configurações diferentes. Eram comunidades paralelas à grande comunidade, na medida em que tinham hábitos muito próprios, de relacionamento de classe, de cruzamento entre famílias, com histórias de casamentos entre os moradores”, explica o investigador. “Tinham uma vivência muito particular, de partilha, de solidariedade, de entreajuda. Estabeleciam-se laços fortes entre as pessoas e as pessoas também se identificavam com o espaço onde viviam”, prossegue João Paulo Delgado.

“Trata-se de construções do início de século XX, entre 1920 e 1930, que foram sofrendo as actualizações possíveis, tendo em conta que sempre foram espaços ocupados pelas camadas mais desapossadas da sociedade, a maioria das quais ligadas à pesca”, salienta o investigador.

Bairros como o Pátio José Paiva “tendem a acabar nos próximos cinco ou seis anos”, acredita João Paulo Delgado. “São espaços privilegiados, situados numa zona baixa da Nazaré, onde o metro quadrado é dos mais caros do País. Sendo espaço cobiçado, desaparecendo estas pessoas, vai ser ocupado por mais um prédio.”

Apesar da distância geográfica, existe um paralelo entre as ilhas do Porto e os quintais da Nazaré. A filosofia da sua génese é a mesma: “albergar as pessoas com menos possibilidades, ligadas a sectores onde se ganhava muito pouco”, expõe João Paulo Delgado. No Porto, com ilhas associadas aos operários, à estiva. E na Nazaré, à pesca, especifica o investigador.

E, em ambos os casos, “a tendência é deitar tudo abaixo e rentabilizar cada metro quadrado. Não tem havido por parte das políticas públicas uma tentativa da preservação da memória. E sem preservar a memória, dificilmente conseguimos traçar o nosso futuro”, advoga João Paulo Delgado.

“Ninguém defende que se retorne a este tipo de vivência, assim como ninguém defende que se retorne a ditaduras, que privem as pessoas dos seus direitos elementares. Mas estas edificações, tal como aconteceu como o Forte de Peniche, agora preservado, salvaguardam uma memória e podem mostrar às novas gerações as dificuldades com as quais se depararam as famílias ao longo de décadas”, considera.

Para o investigador, os quintais podem assumir outras finalidades, como por exemplo residências artísticas. “Estes espaços poderiam ter novas roupagens, para termos pessoas a reflectir e a criar com base no que vêem à sua volta. Pessoas da escrita, pessoas das artes plásticas. Não é retornar ao que foi, mas é reutilizar os quintais, preservando a memória e alavancar outras lógicas para o território”, concretiza o investigador.

Etiquetas: bairroshistóriaNazarépobrezatradição
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