O concerto exclusivo (chamemos-lhe, doravante, “espectáculo”) que os míticos Laibach fizeram em Leiria no passado dia 27 de Novembro, no Teatro Miguel Franco, foi demasiado importante e perfeito para que não fique registado nalgum lado.
As fotografias foram totalmente proibidas e a gravação vídeo efectuada pela organização foi entregue à banda. Restam-nos, pois, a memória e as palavras. O espectáculo terá sido para muitos o que foi para mim: um dos melhores, senão mesmo o melhor, a que assisti na vida.
E não vos escreve alguém que se deslumbra facilmente, nem tão pouco quem tem apenas meia dúzia de concertos no “currículo”. Era a terceira vez que a Fade In organizava os Laibach no nosso país. A primeira em Gaia, em 2005, e a última no festival Entremuralhas 2015, apenas cinco dias depois de terem sido notícia, a nível mundial, pelo insólito concerto que fizeram em Pyongyang, na Coreia do Norte.
Desta vez, foi a própria banda que quis regressar a Leiria, agora para apresentar Also Sprach Zarathusta, um espectáculo com a “primeira parte” baseada no seu recente disco, mais experimental e sensorial, e uma “segunda parte” repleta dos seus clássicos, completamente refeitos e rearranjados em conformidade com o que de mais moderno a produção sonora pode conferir nos dias de hoje.
[LER_MAIS] E foi, precisamente, neste particular que o espectáculo dos Laibach começou por surpreender. A qualidade superior do som, cristalino e definido, proporcionou uma experiência áudio inolvidável (não foi por acaso que a Fade In, a desejo da banda, reforçou o som residente do teatro com um sistema “Line Array”).
O jogo de luz em sincronia perfeita com as incríveis imagens projectadas em 10 telas (dez!), duas das quais micro-perfuradas e colocadas à frente de dois dos músicos, conferiram, muitas vezes, uma ilusão “holográfica” tridimensional e “fantasmagórica” muito impactante.
A pura magia de todo o ambiente cénico e sonoro foi fruto de uma articulação perfeita dos 16 elementos de Laibach que estavam em Leiria. Desses, apenas seis pisaram o palco, dois dos quais para disputar a atenção dos nossos olhares: o poderoso e “gutural” Milan Fras e a elegante e “celestial” Mina Špiler.
No final, os ruidosos e vibrantes aplausos de um público arrebatado e totalmente rendido eram reflexo da fenomenal hora e meia a que acabáramos de assistir. Para a história, fica a performance imaculada de uma banda eslovena fundada em 1980 que, numa “pequena” cidade do nosso país, numa segunda-feira, com bilhetes a 30 euros, num teatro esgotado com dois meses de antecedência, mostrou continuar a ser portadora de uma estética de vanguarda entre as linguagens artísticas mais arrojadas deste mundo. E eu estive lá!
*Presidente da Fade In