O Mundo de Sofia ou, em norueguês, Sofies verden, best seller de Jostein Gaarder, publicado em 1991 e traduzido para mais de sessenta línguas, romance que é, ao mesmo tempo, um verdadeiro guia básico de filosofia, veio-me à memória quando vi a reportagem da SIC sobre a Web Summit.
Nessa peça, foi entrevistada a robot "Sofia", que demonstrou uma assustadora aptidão para responder às questões que lhe foram colocadas. É certo que as respostas eram absolutamente racionais, mas "Sofia" é apenas o protótipo do exército de "raparigas mecânicas" que irá "povoar" o planeta, juntamente com os "rapazes", naturalmente, nos próximos cinquenta anos.
Hoje em dia, é já uma realidade ver robots em fábricas a desempenhar uma multiplicidade incrível de tarefas, habitualmente desempenhadas por pessoas. Esses "operários" não precisam de pausas, não dormem, não engravidam, não descontam para a Segurança Social e (por enquanto) não reclamam nem têm sindicatos.
As previsões mais otimistas determinam que a taxa de substituição do homem pela máquina ronde os quinze por cento em cada década. Assim sendo, daqui a apenas quarenta anos, os robots ocuparão, de forma crescente, a maioria esmagadora dos postos de trabalho deixando para o homem apenas um pequeno número de tarefas essenciais ligadas às ciências humanas.
[LER_MAIS] Assistentes sociais e psicólogos serão dos últimos a cair na batalha de "o homem contra a máquina". Por via dessa nova revolução, em que apenas uma pequeníssima parte da população ativa terá trabalho, todo o modelo social sofrerá alterações radicais.
Os sistemas de Segurança Social obterão proventos dos impostos sobre o que é produzido e não sobre quem produz, apenas porque o "quem", praticamente, desaparecerá da equação. Os Estados terão de, na repartição dos impostos arrecadados, reservar uma substancial fatia dos seus orçamentos anuais para assegurar um subsídio universal.
Não será um rendimento mínimo garantido para todos, dado que isso, enquanto ideal, seria humanamente degradante e, por isso, inaceitável. Terá de ser um instrumento bem mais audaz, algo do género do que está a ser feito, a título experimental, na Finlândia, que atribui o "rendimento básico incondicional" a desempregados, sem lhes pedir explicações relativas a "como e onde" gastam o dinheiro atribuído, mantendo o subsídio por dois anos mesmo que os beneficiários arranjem emprego. E não se pense que esta é uma teoria defendida apenas pela Esquerda, pois o governo finlandês é de Centro-Direita.
O futuro da Humanidade passará por atribuir às pessoas um rendimento fixo, sem que seja necessário elas darem o que quer que seja em troca. Essa subvenção estatal terá, necessária e desejavelmente, que ser bem acima do mínimo necessário para viver.
Trabalhar para garantir o sustento individual ou familiar será, no futuro, algo que será considerado inconcebível, e o futuro é já o próximo grão de areia a cair na vertiginosa ampulheta do tempo.
*Jurista/autor
Texto escrito de acordo com a nova ortografia