Aliás, à hora que escrevo este texto é incerto qual o desfecho da sessão do Parlamento da Catalunha – não sei portanto se houve algum tipo de proclamação de independência. Sei, no entanto, que são grandes as pressões – sociais, políticas e económicas – para que não haja qualquer proclamação. Mas será legítima a aspiração da Catalunha de se separar do Estado Espanhol?
A constituição de Espanha reconhece como nacionalidades históricas – ou seja, comunidades com identidade cultural e linguística própria – Catalunha, País Basco e Galiza. Parece, portanto, enquadrar-se no espírito da Paz de Vestefália de “estado-nação”, em que uma entidade cultural (nação) é coincidente com uma entidade política (estado).
Ou seja, a aspiração parece legítima, mas será que os catalães querem ser independentes? O referendo que foi convocado para o dia 1 de Outubro pretendida esclarecer essa dúvida. Era considerado uma boa ideia, quer para partidários da independência quer pelos defensores da unidade espanhola. Mas o referendo foi considerado ilegal e a sua realização em condições normais foi inviabilizada pelo governo espanhol.
[LER_MAIS] A posição política do governo espanhol é compreensível. Sem a Catalunha, Espanha seria mais débil do ponto de vista económico. Abriria, também, um precedente para a independência do País Basco, talvez da Galiza e para uma atomização da Espanha.
Seria o desmembramento de uma média potência económica – com efeitos nefastos para Portugal e para o poder relativo dos países do Sul da Europa dentro da UE. Contudo, a forma como Rajoy tratou este assunto – secundado pelo Rei – demonstra uma inabilidade suprema.
Ao enviar polícia de choque, destruir boletins de voto, fechar páginas de internet, prender dirigentes e bater em manifestantes, o governo central comportou-se como uma potência autoritária a reprimir uma revolta num seu domínio – fazendo lembrar a repressão soviética da Primavera de Praga.
A causa da independência catalã não podia pedir melhor: um inimigo tirano, mártires e argumentos para arregimentar indecisos e moderados. Ou seja, muita incompetência dos governantes.
*Professor e Investigador (nuno.m.reis@ipleiria.pt)
Texto escrito de acordo com a nova ortografia