A alegria é contagiante na casa dos irmãos Mapril e Mário Bernardes. Com uma forte ligação entre eles e habituados a terem sempre uma qualquer desculpa para juntar a família de todos os lados, este ano a Covid-19 obrigou a maior recato e a um afastamento físico para evitar o contágio por SARS-CoV- 2. Há menos encontros entre a família alargada, mas a responsabilidade individual que assumem assim o obriga.
No Natal não será diferente. “Somos sempre à volta de 20 pessoas no mínimo, entre pais, filhos, netos e primos mais próximos, mas já chegámos a ser 40, quando juntamos sogras, cunhados…”, conta Mapril Bernardes, advogado.
Na noite da Consoada, a tradição é cumprida todas os anos. À mesa não faltam as caras e postas de bacalhau, com couves e batatas, num jantar “bem regado com um belo vinho”.
“Obrigamos todos a comer bacalhau, mas os mais novos optam pelo bacalhau com natas.” As sobremesas também seguem as ‘regras’ milenares, não faltando o bolo rei, tronco de natal ou as filhoses.
Como os netos de Mapril ainda são pequenos, o sono chega primeiro do que a meia-noite. Por isso, as prendas são abertas pouco depois da sobremesa. E a festa para a criançada é grande.
[LER_MAIS]O Pai Natal, barrigudo como manda a tradição, bate surpreendentemente à janela para entrar e fazer a distribuição dos presentes.
“Até chegámos a ter renas a acompanhar o Pai Natal. Mas há sempre um pequenito que chora com medo”, revela Mário. Assumidamente católica não praticante, a família revela que também “canta ao menino Jesus” na noite de Natal.
O convívio estende-se pela noite dentro. Como já estão casados, os dois filhos de Mapril vão fazer o almoço de Natal com a família das mulheres. Quem fica para o almoço do dia 25 da família Bernardes come a “roupa velha e o cabrito”, explica Mário, coordenador nacional da Federação Portuguesa de Andebol.
Este ano tudo será diferente.
“Se contássemos apenas os mais próximos, seríamos, no mínimo 17. É de mais. Temos de estar confortáveis e não esquecer que o Natal é todos os dias”, afirma Mapril Bernardes.
Por isso, este ano, as gargalhadas das famílias e os gritos dos mais pequenos vão ser menos ruidosos, porque o número será bem menor. Os manos vão jantar com as respectivas mulheres, filhos e netos, estes apenas de Mapril Bernardes.
“Depois do jantar juntar-nos-emos num salão grande que tenho para darmos os presentes às crianças, mas será um momento breve e com todos de máscara, muita desinfecção das mãos e garantindo o distanciamento social recomendado”, sublinha Mapril.
Mário acrescenta que vão acabar por “fazer muitos natais”, reunindo-se depois aos poucos com a restante família.
Recordando a infância, na Gândara dos Olivais, Leiria, onde nasceu, Mapril conta que quando era pequeno deixava o sapatinho junto à lareira e só no dia seguinte era contemplado com os presentes. Mas um dia ficou à espreita e percebeu quenão havia Pai Natal.
Anos mais tarde, Mário fez o mesmo e ficou destroçado ao saber que o Pai Natal afinal era a… mãe.