O actual governo não fugiu à regra, mas teve a decência de as prometer para depois do acto eleitoral. É o que eu vou fazer também, dado estarmos a duas semanas de 1 de Outubro. Depois desta data, terei oportunidade de ir expondo mais algumas ideias sobre as autarquias e o seu papel no desenvolvimento local e no ordenamento do território.
O processo eleitoral autárquico está viciado. Porquê? Em primeiro lugar, porque foi concebido em forma partidária/parlamentar. Depois, e talvez em parte em consequência disso, porque todos os partidos, sem excepção, se apropriam destas eleições como se estivessem em legislativas, contando autarcas como se contam deputados eleitos.
Preocupam-se mais em cuidar de quantas câmaras/juntas vão conquistar do que com os problemas reais dos territórios em causa. Apesar de os candidatos poderem ser independentes (propostos por grupos de cidadãos), a quase totalidade é de propositura (apropriação?) partidária. As excepções contam-se pelos dedos das mãos.
O apoio partidário, em termos burocráticos e de campanha, pode ser útil, mas devia ficar por aí, sob pena de se tornar contraproducente. Em eleições autárquicas devíamos estar a votar em pessoas próximas de nós (vizinhos), e não em siglas partidárias, muito menos em “paraquedistas” que nos impõem (como, de resto, também fazem nas legislativas).
[LER_MAIS] Devíamos escolher os candidatos em função do seu conhecimento dos problemas locais e da sua capacidade para os resolver, isto é, pela competência e honestidade. E acredito que grande parte dos eleitores procede assim.
Mas, no fim da festa, todos os partidos se “apropriam” dos resultados como seu mérito e não dos eleitos, discutindo quantas câmaras/juntas ganharam ou perderam. Vão ver que a noite de 1 de Outubro não foge à regra. Ora, isso é, a meu ver, politicamente ilegítimo.
E foi devido a este erro de percepção que António Guterres se demitiu de PM, em Dezembro de 2001, quando não o devia ter feito. Já não é a primeira vez que abordo esta questão e tenho sido acusado de algum défice de ideologia, simpatia ou militância partidária.
Nada me move contra os partidos, desde que façam o que legitimamente lhes compete. Não voto no concelho nem no distrito de Leiria e, por isso, estaria à vontade para me pronunciar, com toda a independência, sobre os candidatos que se perfilam. Mas não o faço porque conheço mal os candidatos a nível distrital.
Ainda assim, invocando alguma “vizinhança”, imagino-me eleitor (que não sou) no concelho de Leiria. E ponderaria, no acto de votar, fazê-lo nos que têm experiência no “metier”, sem desrespeito democrático pelos restantes.
Olhava para os nomes em primeiro lugar (e não para as siglas), como, aliás faço no acto de votar para o PR, onde a pessoa é que vale. Quanto à Junta de Freguesia da “contra natura” – União de F. de Leiria, Pousos, Barreira e Cortes – votava no candidato que prometesse, sob compromisso de honra, lutar pelo seu desmembramento rápido. Isto era o que eu faria.
Quanto aos leitores/eleitores só tenho a sugerir que votem bem, que é como quem diz, em consciência. (continua)
*Economista