Creio que, desde 1976, estas serão as eleições autárquicas que nos deverão merecer maior empenho e cuidado na apreciação das propostas apresentadas por cada força política em presença.
Por vezes, alguns descuram este ato eleitoral porque se acomodam à ideia de que o seu voto nada decide porque tudo está já decidido entre as elites partidárias locais e os que se seguem serão mais do mesmo.
Porém desta vez é da maior importância que todos exerçam o seu direito à escolha dos projetos e das competências de quem os propõe para os tornar exequíveis. Desta feita é todo um futuro da nossa Cidade que está em causa.
Em boa hora a Câmara de Leiria lançou, e lançou-nos a todos nós seus munícipes, o repto de uma candidatura a Capital Europeia da Cultura para 2027. Se Leiria ganhará essa honra, se será este ou aquele partido ou grupo de cidadãos que à altura estará à frente dos destinos da autarquia, é assunto que, por ora, será de somenos importância.
Importante, sim, é todo o percurso de uma candidatura desta dimensão e relevo. A falência das narrativas aglutinadoras do século XX, uma nova ordem mundial, a globalização, senão mesmo o desvio acelerado de alguns valores éticos e sociais que nortearam o nosso viver comunitário, obrigam-nos a reinterpretar e reinventar as novas dinâmicas sociais e humanitárias.
Este é o território da Cultura, entendida na sua dimensão comum de identidade, de pertença, de relação, de defesa do nosso património histórico e patrimonial. A Cultura é, sem dúvida, a matriz sobre a qual se devem erguer os modelos individuais e sociais do século presente.
[LER_MAIS] É, assim, uma questão que a todos diz respeito: é uma questão política, mas não só dos executantes da política, antes do contributo de cada um de nós desafiados que somos a negar as dicotomias redutoras entre partidos, desporto e arte, agentes culturais ou usufruidores.
Se Leiria for Capital Europeia da Cultura em 2027, tanto melhor. Se não for, a arquitetura de pensamento que desenharmos até lá perdurará por muitos e longos anos. Daqui a dez anos, os agentes culturais de hoje serão passado. Mas os nossos filhos de hoje serão o presente de então e o futuro de todos nós. Por isso este é o tempo de pensar cuidadosamente no amanhã que se prolongará.
Os responsáveis pelo futuro da nossa Cidade terão que ser gente honesta, íntegra. Mas sobretudo corajosa, porque nos próximos quatro anos haverá que distinguir o trigo do joio; o que são ideias avulso que se esgotam no tempo de um fósforo, dos projetos que visam alicerçar um modelo cultural; dos narcísicos que apenas buscam protagonismo, dos que se empenham na vida cultural como ao serviço de uma causa comum; das amizades interessadas, dos que pensando diferente de nós nos incluem no seu pensar e fazer.
*Psicólogo Clínico