Como estamos na silly season, creio que devo entrar na onda para fazer jus à season e, por isso, vou contar-te uma história. Numa certa cidade, presidida por alguém que não foi eleito nessa qualidade porque o que foi está em mais alto posto, como, aliás, no devido tempo avisou que os que nele votaram o fizeram a pensar para ele mais altos voos, vive-se um ambiente simultaneamente eufórico e de pesadelo.
É, meu caro Zé, um real “oximoro” que resulta da contraposição de “cidade” (euforia) e cidadão (pesadelo). A cidade está cada vez mais atraente, bonita, cheia de obras sem qualquer planeamento prévio, é certo, mas o resultado final é “lindo” (os fins justificam os meios, não é?).
Entretanto o cidadão é invadido, junto da sua casa, por obras e mais obras que, frequentemente, nem o deixam sair de casa, para além de o acordarem às 8 da manhã com marteladas pneumáticas, porque os polícias ditos de trânsito (pelo menos é o que têm escrito nos coletes), estão-se nas tintas para o trânsito e a prioridade vai para a obra, ou seja, temos nessa cidade uma nova figura: o polícia da obra.
Depois de umas altercações com os polícias das obras, a arrepelar os cabelos (mesmo os carecas como eu) porque se levantaram para cumprir horários, mas os polícias das obras não deixam, lá conseguem arrancar para tomar o caminho normal! Isso é que era bom!
De súbito, por causa de outra obra, de um festival ou outra coisa qualquer, lá aparece uma placa ou um polícia (de trânsito ou de não trânsito?) a dizer desvio, ou só mesmo a mão do polícia a mandar andar para outro lado.
[LER_MAIS] Mas para onde? Avance! Avance! Problema seu! E lá avançamos por caminhos inusitados quando, inesperadamente (cada vez menos inesperadamente, é verdade) aparece o carro do lixo da Câmara a fazer recolhas, a passo de caracol e lá se vai o nosso horário, a nossa paciência, acumula-se o stress (mas isso obriga a tomar pílulas e ao menos aumenta o tão afamado PIB), para além do desgaste do veículo e do espantoso aumento do CO2 e poeiras que tudo isto origina.
Mas as agruras ainda não acabaram. Entra-se noutra rua e lá está tudo em segundas filas (as tais que o tal presidente tinha como prioridade do seu mandato impedir). E lá se chega ao destino, quando se chega! Mas o senhor é palerma, insinuam os cartazes espalhados: “ande de transportes públicos”.
Mas onde estão eles? Com que segurança e fiabilidade? A cidade e o cidadão não têm de ser necessariamente um oximoro e a melhoria da cidade não tem de ser contra o cidadão. É só preciso planear e informar!
É esse o respeito mínimo que o cidadão merece e não tem tido! Lembras-te de na última conversa ter citado um autor que dizia que os políticos agora compram os votos com o nosso dinheiro? Aqui tens um bom exemplo.
O que vale é que ninguém vai ler isto porque está tudo a banhos, com aqueles copos enormes cheiros de gin tónico com outros ingredientes. Eu, para sair da onda, vou antes tomar um porto seco tónico, o que é mais português e tem menos álcool! Vai um à tua!
Até sempre,
*Professor universitário
Texto escrito de acordo com a nova ortografia