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Júlio Vieira: “Assistimos a enormes dificuldades de clubes e a dirigentes muito bem sucedidos”

Miguel Sampaio por Miguel Sampaio
Outubro 29, 2020
em Entrevista
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Júlio Vieira: “Assistimos a enormes dificuldades de clubes e a dirigentes muito bem sucedidos”
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Dedica-se sobretudo à certificação dos clubes enquanto entidades formadoras. Os clubes estão cada vez mais bem preparados para formar?

Tendo sido eu dirigente de um clube, contrariamente a muita gente que anda no dirigismo desportivo e que assentou praça como general e nunca foi soldado nem sargento, tenho a consciência de que os clubes são a célula viva disto tudo. A nossa existência enquanto dirigentes associativos ou federativos só faz sentido porque há clubes. O facto de estar numa área que me permite criar as ferramentas para ajudá-los a melhorarem a sua organização interna na sua área mais nobre, a formação desportiva, é muito gratificante. Somos o País campeão da Europa no futebol e no futsal, em seniores e nos escalões de formação. Aparentemente está tudo bem, mas com a evolução do processo de certificação tivemos em 2018/19, pela primeira vez, 754 entidades avaliadas.

Que conclusões tirou?

Percebemos que mais de 80% dos clubes não tinham coisas absolutamente fundamentais para uma entidade formadora, como dossiers de treino em todos os escalões, planos de transição, documento orientador da formação ou acompanhamento médico em treinos e jogos, e quando digo isto não é estar lá um médico, mas pelo menos alguém com suporte médico de vida, o antigo massagista, o fisioterapeuta ou o enfermeiro. Nem sequer tinham coordenador técnico, ou seja, cada equipa era uma ilha e cada treinador era o dono da sua equipa. É como abrir um café e não ter máquina de café nem mesas para as pessoas se sentarem. Achamos que está tudo bem e não está. Este processo obriga os clubes a melhorarem.

A verdade é que formamos alguns dos melhores do mundo. São obras do acaso?

Não. Beneficiamos do facto de termos quatro ou cinco clubes que apanham tudo o que mexe e que depois formam bem. As selecções nacionais também trabalham bem e ajudam a exponenciar essa qualidade, mas nada disso pode ser confundido com o trabalho que se desenvolve nos outros 1.400 clubes. Nos últimos dez anos, quando passámos de quatro escalões de formação para sete, quando passámos a ter benjamins, traquinas e petizes, baixámos na pirâmide. Começamos agora quando as crianças têm quatro anos e isso alterou o paradigma da formação por completo. Com a introdução dos escalões informais, os pais começaram a pagar uma mensalidade. No fundo, os clubes estão a prestar um serviço idêntico ao ballet, à música ou ao inglês.

A formação passou a ser uma das principais fontes de receitas dos clubes e não uma despesa.

O que trouxe problemas novos. Hoje, temos dirigentes de clubes a arrendar a formação como quem arrenda uma casa. É evidente que quem arrenda a formação não o faz para ajudar a formar bem e para promover a prática do futebol. Fá-lo para obter um resultado financeiro. É uma actividade comercial e está pouco preocupado em ter 20 equipas a treinar num campo onde treinavam bem dez. Os pais passaram a interferir no processo e vemos problemas graves nas bancadas, com vê-los à chapada. Só acontece porque não têm cultura desportiva, a maior parte não foi praticante.

“Mobilizar a cidade e em torno de um clube bandeira é um trabalho para uma equipa empenhada e competente, o que infelizmente não tem acontecido”

Os resultados de Portugal são anormais se tivermos em consideração a dimensão e a população do País.

No conjunto das 54 federações que fazem parte da UEFA, somos dos países com menos número de praticantes. Só no ano passado conseguimos ultrapassar os 200 mil e na formação temos cerca de 150 mil, que comparam com 900 mil da Alemanha, por exemplo. Sempre tivemos menos praticantes do que a maioria dos países europeus, mas temos duas coisas que nos distinguem. Uma é a qualidade natural para a prática do futebol. Somos um bocadinho como os brasileiros e temos qualquer coisa genética que nos dá essa aptidão. Depois, temos meia-dúzia de clubes em Portugal que formam muito bem.

Esses clubes formam bem, mas depois nem sempre apostam nos seus talentos.

O problema é o modelo de negócio ao nível do futebol profissional. Se olharmos para a base da selecção nacional, ela ciclicamente muda de clube. É fruto das dificuldades financeiras de determinado clube, porque quando isso não acontece, o modelo de negócio, muito na base de compra e venda de jogadores, ainda por cima a maioria deles estrangeiros, cria dificuldades de afirmação do jogador português. Se continuarmos a apostar nos sub-23, nas equipas B e a ter boas academias em Portugal, tendo nós essa qualidade genética, não tenho grande receio de perder qualidade. Não vamos formar Ronaldos todos os dias, mas também já se percebeu que conseguimos ganhar sem ele. É porque formamos outros com dimensão muito elevada.

Quilómetros sem fim pelas estradas lusas

Júlio Vieira é homem de longas estradas. Foi, durante seis anos, presidente da Associação Desportiva Portomosense. Depois, durante 17, assumiu os destinos da Associação de Futebol de Leiria, cargo que abandonou em 2016, quando foi convidado por Fernando Gomes, reconduzido em Julho último, para integrar a Direcção da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Anda há quatro anos a “fazer piscinas” diárias entre Porto de Mós, onde reside, e a Cidade do Futebol, em Oeiras, onde trabalha. O carro faz a conta por ele: são “100 a 110 mil quilómetros por ano”. Contudo, sente que o tempo “passou quase sem dar por ela”. Não evitou algumas multas, até porque a principal pasta que assumiu enquanto director da FPF, a certificação dos clubes enquanto entidades formadoras, o obriga a deslocar-se aos quatro cantos do País. São os “ossos do ofício”. “Se a cidade do futebol estivesse a 30 quilómetros de Porto de Mós seria mais fácil. Ou então ir para lá dormir, e podia fazê-lo, mas estar a emigrar, aos 57 anos, não era justo. Nos últimos 30 anos dei muito tempo ao movimento associativo e castiguei muito os garotos e a minha mulher. Eles não reclamam, graças a Deus, mas tenho essa consciência.”

E por que razão é difícil explicar a esses dirigentes que a aposta em jovens portugueses deve ser feita?

O que é difícil é abandonarem a lógica de negócio e não darem primazia à transacção de jogadores e à partilha de comissões. Esse é o ponto da questão. É por isso que assistimos a enormes dificuldades de clubes e a dirigentes muito bem sucedidos na vida. Tem que ver com a evolução do futebol, que se tornou sobretudo num negócio de milhões, e também não é por acaso que em Portugal somos dos países da Europa em que mais comissões se pagam. Mas ninguém tem dúvida, nem esses dirigentes, que o negócio deveria assentar na capacidade de formar bem para depois ter melhores equipas no futebol sénior e obter mais-valias na venda dos passes desses jogadores formados no clube. Só que para o negócio, a compra e venda é essencial e assim muitas vezes se perdem talentos que podiam ser importantes para os clubes e para as selecções nacionais.

A Direcção-Geral da Saúde não permite que os treinos das modalidades colectivas nos escalões de formação decorram de forma normal.

Já estamos nesta vida há seis ou sete meses e se não houver retoma do desporto de formação corremos o risco sério de perder não só uma geração, como perder um número muito significativo de clubes. Hoje, mais de 90% dos clubes vive sobretudo da formação. E não é só da mensalidade, é de tudo o que envolve: o bar a funcionar, as camisolas que se vendem aos pais e os patrocinadores. A máquina está montada em cima da formação e se não arrancar entretanto temo que seja um descalabro financeiro e um descalabro desportivo. O feedback que nos tem chegado é de imensa preocupação. Sobretudo aqueles que já retomaram, cumprindo as exigências da DGS, retomaram com menos de metade dos praticantes e das equipas. Tenho muitas dúvidas que, mesmo com a retoma, os clubes não tenham uma redução muito significativa de praticantes e equipas.[LER_MAIS]

“Podem ir 80 ou 90 pessoas à missa e depois, se quiserem ir ver o clube da terra, num espaço aberto, não podem? Isto faz algum sentido?”

É possível recuperar?

Será um trabalho muito grande. Até temos termo de comparação, pois em 2010 também tivemos uma crise, de características distintas, menos grave porque era apenas financeira, mas perdemos na altura, em Leiria, quase 20 clubes. Só pela amostra das provas seniores já deu para perceber que quase 20 clubes já ficaram pelo caminho outra vez. Transportando isto para a formação, que é o grosso da coluna, corremos o risco de levar um rombo muito grande.

Depreendo que não concorda com essa medida.

O Governo, acredito que bem intencionado, escolheu a estratégia errada. Deveríamos ter iniciado a prática desportiva regular em Agosto e Setembro. A pandemia estava num patamar mais baixo e seria a altura ideal para a retoma. Hoje, provavelmente, ja estaríamos como nos Açores e na Madeira, em retoma efectiva dos escalões de formação, não correndo grandes risco acrescidos, porque os jovens que estão na formação são exactamente os mesmos que estão na escola. E os riscos que correm na escola e em contexto familiar e social são exponencialmente superiores a jogar à bola num campo de futebol ou num pavilhão. A estratégia foi ao contrário e agora temos um problema, porque estamos em contra-ciclo. Vamos ter de retomar na mesma, mas será em circunstâncias mais difíceis. Se não for já em Novembro, receio que teremos uma situação grave de retrocesso da prática desportiva e sobretudo do numero de clubes, que tem vindo numa tendência de perda e que se acentuará de forma significativa.

E a proibição de público?

Confundir o público dos competições profissionais e de quatro ou cinco clubes que têm claques organizadas com o das competições distritais é um erro. Em qualquer estádio do distrital, se permitirem 20 ou 30% da lotação, é mais do que suficiente para lá caberem as 50, 100 ou 150 pessoas que costumam ir ver o jogo. Essa presença é fundamental para manter em actividade o clube. Então, podem ir 80 ou 90 pessoas à missa e depois ,se quiserem ir ver o clube da terra, num espaço aberto, não podem? Isto faz algum sentido?

“Já tivemos 2.400 clubes, hoje temos 1.900 e o mais natural é que tenhamos uma redução ainda maior”

No edifício do futebol português, o que está a ficar para trás para lá da pandemia?

Há três questões que me preocupam bastante. Uma delas é o declínio do movimento associativo. Já tivemos 2.400 clubes, hoje temos 1.900 e o mais natural é que tenhamos uma redução ainda maior. Como o sistema está montado em cima dos clubes, do dirigente desportivo benévolo, isto preocupa-me. Outro problema grave é não termos instituições fortes. Em Espanha, o desporto é uma das dez alavancas da retoma e vai ter 400 milhões de euros em apoios extraordinários. Em Portugal? Zero. Estamos em cima de uma pandemia e não existe uma medida concreta. É assustador e revelador da importância que o desporto não tem no contexto das instituições portuguesas e do Governo, apesar da importância fulcral que tem na saúde e na área social. O terceiro é a arbitragem. O modelo de iniciação, recrutamento e retenção só não preocupa quem não o conhecer. Está esgotado e se não o mudarmos vamos ter muitos problemas. Hoje já não temos cobertura para metade dos jogos e se não mudarmos estruturalmente o modelo daqui a meia dúzia de anos não teremos nem para um terço.

Consegue perceber por que razão Leiria continua a não ter um clube na 1.ª Liga?

Sou do tempo de vir de Porto de Mós na Rodoviária Nacional para ir ver jogos a um Magalhães Pessoa cheio de público e a cidade mobilizava-se. A partir de determinada altura, houve alguém que tomou conta da União de Leiria e afastou toda a gente – adeptos, a cidade e a região – e criou a ideia de que era um clube de uma homem só. Voltar a mobilizar a cidade e a região em torno de um clube bandeira, como deveria ser a União de Leiria, é um trabalho para uma equipa empenhada e competente, o que infelizmente não tem acontecido, e para vários anos. Para ajudar, vivemos num contexto do futebol negócio, com a constituição e venda das SAD, que bem utilizada é um instrumento para potenciar o nível competitivo do clube, mas mal utilizada pode trazer um conjunto enorme de problemas, como testemunhamos um pouco por todo o lado e Leiria não é excepção. Lamento profundamente, porque faz falta um clube bandeira, ainda por cima tem o estádio, e é uma pena que não consiga retornar ao futebol profissional, de onde, na verdade, nunca deveria ter saído.

Por falar em estádio, fala-se na candidatura conjunta de Portugal e Espanha à organização do Mundial de 2030. Acha que Leiria se deve meter nisso?

Sem conhecer as exigências é difícil de responder. Estamos a falar de um Mundial com 46 selecções. Se me disser que para se candidatar tem de fazer ligeiras melhorias no estádio e colocar uma bancada amovível, não vejo motivo nenhum para Leiria ficar de fora. Se me disser que é necessário uma lotação de 50 mil, ter de fazer obras no estádio e depois ficar com um recinto com 50 mil lugares quando na prática só se precisa de 10 ou 15, então será um erro.

Etiquetas: AFLfederaçãoFPFfutebolJúlio VieiraPorto de mós
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