A colheita de ginja em 2020 na região Oeste está entre as piores das últimas décadas. No concelho de Óbidos, onde se concentra a maior parte da produção, os empresários do sector falam de “um desastre” originado pelo Inverno atípico, com menos horas de frio. Mas não só. Apontam, também, a disseminação da mosca drosophila suzukii, praga importada da Ásia, que ataca o fruto logo quando se forma na árvore.
“Na minha experiência de 22 anos, nunca aconteceu isto”, afirma Vasco Gomes, gerente da empresa David Pinto & Companhia, de Alcobaça, que explora a marca premiada M.S.R. e se abastece no concelho de Óbidos (tem ginjal e compra a terceiros). A quantidade de ginja recolhida em 2020 é 12 vezes inferior em comparação com o ano passado e cinco vezes face a 2018.
Segundo Vasco Gomes, a drosophila suzukii “ataca de forma voraz os frutos vermelhos” que, depois de serem picados, “ao fim de dois ou três dias estão podres”. Não é a única praga a provocar dores de cabeça aos proprietários de ginjais no Oeste: a capnodis tenebrionis e a caliroa cerasi são outras ameaças.
“Qualquer uma delas teve um aumento exponencial que associo à importação de árvores de ginja”, refere, em defesa da variedade folha no pé ou galega, que só se encontra na região de Óbidos e Alcobaça.
Dário Pimpão, responsável por outro licor premiado, o Oppidum, com sede no Sobral da Lagoa, confirma que “a campanha foi muito fraca”, com “uma produção residual” e quebras “superiores a 90%”. Dos 100 pequenos produtores que regularmente fornecem a empresa, “bastantes nem entregaram” fruto. Inédito? “Lembro-me de duas ou três vezes em 40 anos”. Para Dário Pimpão, a meteorologia “mais irregular” é a “causa maior” da baixa produtividade. No entanto, reconhece o perigo que a drosophila suzukii representa: “Não é complicado combatê-la, mas é preciso combatê-la”.
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As armadilhas são o método mais eficaz para controlar a mosca asiática, segundo Rui Maia de Sousa, coordenador do pólo de Alcobaça do INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária. O engenheiro agrícola sugere a necessidade de uma “estratégia conjunta” que envolva todos os produtores e as juntas de freguesia e câmaras municipais com acções de sensibilização e informação.
Além da drosophila suzukii, cuja presença “está a aumentar” na região, outras pragas que sempre existiram “tornaram-se mais prejudiciais” com as alterações climáticas, diz Rui Maia de Sousa. O técnico explica que o último Inverno não proporcionou horas de frio suficientes (abaixo de 7,2 ºC), com Janeiro e Fevereiro muito quentes, seguidos de chuva abundante em Abril e Maio e temperaturas anormalmente altas em Junho e Julho.
A boa notícia é que não vai faltar licor: tanto a M.S.R como a Oppidum garantem que têm stock para abastecer o mercado, pelo menos nos próximos tempos.