A situação financeira do Bairro dos Anjos, que tem estatuto de utilidade pública, “é muito preocupante”, admite o vice-presidente Carlos Gonçalves.
As aulas de natação e hidroginástica nas piscinas municipais de Leiria movimentam 2.200 utentes por mês que são a principal fonte de receitas do clube. Mas a actividade está suspensa desde meados de Março, por força das restrições para todo o sector decididas pelo Governo no contexto da Covid-19.
De acordo com o dirigente, o impacto nas contas equivale a uma diminuição de “90 a 95 por cento” na parcela dos recebimentos, ou seja, dinheiro que deixa de entrar no Bairro dos Anjos, ao mesmo tempo que se mantêm elevadas as despesas do clube que resultam dos pagamentos à Segurança Social, salários (30% sobre 70% da remuneração, de acordo com o modelo de lay-off simplificado), seguros e fornecedores.
Entre treinadores e outros funcionários, o Bairro dos Anjos tem 17 colaboradores sob contrato e 36 em recibos verdes, com Carlos Gonçalves a reconhecer que pode ser necessário “começar a dispensar pessoas”.
“O clube neste momento está a viver de donativos de particulares e empresas” e de um número residual de utentes que “não estão a usufruir das piscinas” mas optaram por continuar a pagar a mensalidade como forma de ajudar, afirma ao JORNAL DE LEIRIA.
As escolas de natação e pentatlo moderno frequentadas até há três meses e meio por pessoas de todas as idades, dos bebés aos mais idosos, juntamente com o programa municipal Viver Activo, também parado por estes dias, são um suporte indispensável para o financiamento das modalidades de competição no Bairro dos Anjos, em que se incluem a natação pura, o pentatlo moderno, o laser run, a esgrima e o atletismo, alerta Carlos Gonçalves.
Servem também para fazer face a outros compromissos do clube, que recentemente, menos de dois anos, investiu em novas viaturas para transporte dos atletas e alunos.
Pelo Bairro dos Anjos, competem nomes como Eduardo Oliveira e Tiago Gonçalves (pentatlo moderno, atletas de alto rendimento e esperanças olímpicas), Filipe Gomes (nadador, certo nos próximos Jogos Olímpicos pelo Malawi), Vítor Clara e Nuno Silva (recentemente sagrados campeão e vice-campeão nacional, respectivamente, dos 5.000 metros livres na categoria de 16-17 anos) e jovens como Micael Denisov e Luana Domingues, entre outros com medalhas e recordes nacionais nos últimos meses.
Verbas insuficientes
Em resposta aos constrangimentos causados pela Covid-19, o Município de Leiria entregou mais cedo ao Bairro dos Anjos – e a outros emblemas do concelho – verbas contratualizadas para 2020 ao abrigo do regulamento Pro Leiria de apoio ao associativismo. E aprovou um subsídio adicional de aproximadamente 4 mil euros.
Valores importantes mas insuficientes para as necessidades do Bairro dos Anjos, que tem o naming do clube aberto a patrocinadores, mesmo depois de conseguir reduzir significativamente o passivo.
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No início do mês de Junho, a Federação Portuguesa de Natação emitiu um comunicado onde lembra que desde 29 de Maio, por resolução do Conselho de Ministros, a regra passa a ser que a generalidade das actividades retoma o funcionamento, salvo excepções. E remete para a orientação de 29 de Maio da Direcção-Geral da Saúde em que as piscinas cobertas e descobertas são autorizadas a reabrir, com restrições, por exemplo, a redução do número de participantes nas aulas de grupo e a não retoma de sessões de grupo dedicadas a grávidas, idosos e pessoas com doenças crónicas, pelo risco acrescido que parecem apresentar.
Só permanecem encerrados os equipamentos de sauna, banhos turcos, hidromassagem, jacuzzi e similares.
Município: “Problema não é fácil de ultrapassar”
Em Leiria, no entanto, as piscinas municipais só estão a ser utilizadas por atletas de competição. De acordo com o vereador do Despor to na Câmara de Leiria, Carlos Palheira, perante as normas da Direcção-Geral da Saúde (DGS) relacionadas com limpeza, desinfecção, distanciamento entre pessoas, circuitos de circulação e carga burocrática, o Município optou por não reabrir para o público.
“Porque as regras são muito exigentes”, explica, “torna-se inviável” a abertura das piscinas “do ponto de vista da funcionalidade”.
Na opinião de Carlos Palheira, “o problema do Bairro dos Anjos não é fácil de ultrapassar”. E depende da reavaliação pela DGS e autoridade de saúde pública no concelho das condições exigidas em cada momento.
“É importante referir que fomos dos primeiros a abrir as piscinas para os atletas”, salienta o vereador.
Quando as aulas de natação e hidroginástica puderem recomeçar, está garantido um desconto de 50% no valor que o Bairro dos Anjos paga por pista à autarquia. Resta saber que soluções o clube consegue encontrar até lá.