Para este ano “perspectiva-se uma forte contracção da economia portuguesa em resultado do choque económico provocado pela pandemia da doença Covid-19 e das medidas de contenção implementadas”. Está prevista uma “queda abrupta na taxa de variação real do PIB [Produto Interno Bruto] para 6,9%, a maior contracção de que há registo nas últimas décadas”.
A informação consta do texto de enquadramento do Programa de Estabilização Económica e Social (PEES), lançado no início de Junho, que estima que o impacto ocorra principalmente no segundo trimestre do ano, após a quebra de 2,3% registada no primeiro trimestre.
“Estima-se que a pandemia tenha um efeito negativo na procura externa relevante para as exportações portuguesas em 2020, prevendo- -se uma redução de 15,4%”, depois do crescimento de 3,7% no ano passado. Também o consumo privado deverá cair 4,3%.
No mercado de trabalho, “antecipa-se uma redução no emprego de 3,9% em 2020, após registar-se um crescimento de 0,8% no ano anterior, e prevê-se um aumento da taxa de desemprego, a qual deverá atingir 9,6% (6,5% em 2019)”, lê- -se no PEES.
No distrito de Leiria os impactos da pandemia também se fazem sentir com alguma intensidade. No final de Maio (último mês para o qual há dados disponíveis), estavam inscritos nos centros de emprego do distrito de Leiria 13632 desempregados, número que representa um aumento de 51,3% face aos 9011 do mesmo mês do ano passado.
Durante o mês de Maio, inscreveram-se 2008 pessoas, uma diminuição de 28,3% face aos números de Abril, altura em que as inscrições tinham aumentado 18% em relação a Março. E este mês tinha já trazido um aumento no número de inscritos face a Fevereiro. As estatísticas do Instituto de Emprego e Formação Profissional dão conta que nesse período se inscreveram 2366 pessoas, um aumento de 48% em relação a Fevereiro.
[LER_MAIS] Em Maio deste ano, tal como já tinha acontecido em Abril, foram sobretudo os despedimentos e o fim de contratos de trabalho não permanente que fizeram crescer o número de desempregados na maioria dos concelhos do distrito de Leiria.
Também o consumo caiu. Entre Março e Maio, de acordo com os dados da SIBS, o valor das operações efectuadas com cartões multibanco ascendeu a 715,1 milhões de euros, uma quebra de 20,5% (menos 184,4 milhões de euros) do que em igual período do ano passado.
Quanto às exportações, os dados do Instituto Nacional de Estatística relativos a Abril reportam uma quebra de 31,4% nas vendas do distrito de Leiria ao exterior, face a igual período do ano passado. A diminuição fica, apesar de tudo, abaixo da média nacional. É que as exportações portuguesas diminuíram 39,8% no mês de Abril em termos homólogos, “reflectindo os constrangimentos à actividade económica determinados pelas medidas de contenção à disseminação da pandemia Covid-19”.
A nível nacional, “quase todas as categorias de produtos apresentaram decréscimos significativos” nas vendas ao exterior, e o mesmo aconteceu no distrito de Leiria. Analisando o top five dos produtos mais exportados, a maior queda – 45,9% – registou-se no grupo ‘minerais e minérios’, cujas vendas somaram cerca de 22 milhões em Abril deste ano, montante que compara com os 40,6 milhões do período homólogo, revelam os dados do INE
A 23 de Junho (últimos dados disponíveis), havia 5285 empresas do distrito de Leiria em lay-off simplificado, segundo dados do Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. A 2 de Junho eram 5243 e a 8 de Maio (cinco dias depois do início do desconfinamento) eram 4976. A 30 de Abril eram 4640, ou seja, tem crescido o número de entidades em lay-off simplificado no distrito.
A nível nacional, segundo a Lusa, que cita as estatísticas da Segurança Social, o número de empresas que aderiram ao lay-off definido no Código do Trabalho – e não ao regime simplificado previsto no âmbito da pandemia da Covid-19 – aumentou em mais de 30 vezes entre Abril e Maio, para 4629, e os trabalhadores abrangidos totalizaram 44403, “o valor mais alto de sempre”.
Na semana passada, na intervenção que fez na cerimónia dos 35 anos da Nerlei, o presidente da CIP mostrou-se preocupado com o fim do lay-off simplificado, tal como está, ainda este mês. “O que me assusta é o que vamos viver a partir de Setembro. Nos moldes em que está desenhado, o lay-off devia ir até ao final do ano”, defendeu António Saraiva, admitindo que podemos vir a ter uma “bomba relógio” em termos de desemprego.
Ao JORNAL DE LEIRIA, o dirigente da confederação empresarial reconheceu recear que, terminada a possibilidade de as empresas recorrerem ao lay-off simplificado nos moldes em que funcionou até aqui, muitas possam não resistir. Isso porque os encargos são constantes – “agora com a duplicação de salários devido a subsídio de férias” – e as receitas fracas.
“Até agora as empresas viveram com a tesouraria das vendas que tinham feito antes da crise. Durante a crise não venderem ou venderam muito pouco”. “Ausência de receitas com manutenção de custos é uma equação complexa, para não dizer impossível.
Por isso, ou sabemos encontrar novas soluções, ou receio que possamos estar na iminência de um problema de emprego complicado, e da inerente crise social daí decorrente”, antevê António Saraiva.
Quanto à situação no distrito de Leiria, também o presidente da Nerlei estima que em muitos sectores a situação possa ainda piorar. Noutros já “está a melhorar um bocadinho”. Para António Poças, a grande questão é quanto tempo vai demorar para que a actividade económica recupere. “Porque se isso acontecer muito lentamente, as empresas podem não aguentar”.
Crescimento do PIB em 2021