Vítor Pratt é um apaixonado pelas emoções provocadas por ter um monstro de potência sob seu controlo. Começou a competir em 1988 e durante anos e anos participou em provas automóveis, sobretudo de todo-o-terreno, nacionais e internacionais.
No entanto, após a Baja Portalegre 500 de 2004 teve de tirar o capacete e pendurar as luvas. Foi compelido pela falta de apoios e de patrocínios no desporto motorizado, facto agravado pelo aumento do imposto de comercialização dos jipes que “excluiu muitas pessoas” das provas.
E ele, que participava nas categorias mais baratas, corria com o carro com que ia dar aulas no dia seguinte, punha os amigos a fazer os autocolantes da publicidade à tesourada e o navegador era também o mecânico, foi forçado a abdicar.
“Não havia dinheiro que vedasse e tive de fazer opções. Fazer uma corrida podia custar 10 mil euros”, justifica. “Todos víamos isto como um desporto e de repente tornou-se num negócio.”
Mas agora, 17 longos anos depois, o professor de Leiria está a preparar o regresso à competição automóvel através de uma experiência inovadora, o Campeonato de Portugal de Novas Energias.
“Pensava que tinha encostado as botas e encontrei uma forma económica, não poluente e muito divertida de poder voltar ao activo. Não me sinto velho, corro na praia, ando de mota e faço kitesutf. Só não fazia corridas de automóveis. E não era por não ter vontade, era por não ter dinheiro, porque hoje em dia é preciso ser rico ou filho de gente rica para poder estar no desporto automóvel”, explica o piloto que se iniciou nos ralis pirata da região.
Vítor Pratt tem a “certeza absoluta” de que este é o caminho a seguir. Já tem, de resto, a transição energética em curso no próprio dia-a-dia.
“Vou de bicicleta eléctrica para a escola onde dou aulas. Não faz sentido andar de carro, a poluir e a gastar dinheiro. Estou nesta onda e acredito que mais cedo ou mais tarde todos vão ter de fazer a mudança. Sou daqueles que acredita que daqui a pouco tempo a Fórmula 1 será disputada por carros eléctricos. Não sei se será o hidrogénio ou a pilhas, mas que vai acontecer vai e quero agarrar esta enorme oportunidade que me parece ser a conversão do desporto com motores de combustão para os motores eléctricos.”
[LER_MAIS]Até porque, acredita, “um dia vão limitar as corridas de automóveis a combustão”.
“Pedem às pessoas para não poluirem e depois metem 600 carros movidos a combustíveis fósseis numa prova? Não pode ser. Vamos chegar a este momento. Ainda por cima, actualmente, quando há um evento eléctrico vai lá muita a gente e os meios de comunicação social todos, mas a um rali do Campeonato Nacional só vão aos aficionados”.
Por tudo isto, o sofrimento da ausência está a chegar ao fim. Vítor Pratt, não esconde, está entusiasmado. Propõe-se participar com o carro do dia-a-dia, de tracção às quatro rodas, um Model S Dual Motor 75D, da Tesla.
Para começar, na última prova da edição deste ano do Campeonato de Portugal de Novas Energias, disputada no autódromo do Estoril. Em 2022 quer entrar nas quatro previstas no calendário: os Eco Rallies de Oeiras e Proença-a-Nova, a rota eléctrica pela EN2 e o circuito do Estoril.
“Se gostava de pegar num Porsche a combustão? Claro. Não há nada como aquilo. Mas acredito que agora a competição vai noutro sentido. Estamos a falar de uma brincadeira que, tenho a certeza, vai originar um campeonato nacional de carros eléctricos. Hoje, é feito a pensar na eficiência energética, temos de cumprir a regularidade que nos é imposta”, prossegue Vítor Pratt, que terá a seu lado Filipe Fernandes, um dos mais laureados navegadores do desporto automóvel português, mais conhecido por Fifé.
A competição é organizada pela Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK) com a aprovação da Federação Internacional do Automóvel (FIA). A aceitação tem sido “brutal”.
“Não precisas de licença desportiva, o carro não tem de ter características especiais, não é necessário fato, nem capacete, nem arco de segurança. Faz com que qualquer pessoas possa participar e também tem uma certa piada. O ambiente e o convívio são os mesmos, vamos ter o mesmo gosto em estar com as organizações, com os patrocinadores e vamos encontrar lá pilotos de topo, como o Fifé.”