Um passo. Um único passo. O filósofo chinês Lao-Tsé dizia que até a maior das epopeias começa da maneira mais simples e despretensiosa.
Com um passo. Iniciamos, também com um passo solitário, este artigo, pretexto para uma viagem de norte para sul do distrito, cheia de sugestões de férias na nossa região, neste ano de pandemia e de cuidados extra de saúde.
Este é o ano da inauguração dos grandes passadiços na região. Não fosse a pandemia e recordes de visitante e de ocupação de unidades hoteleiras seriam batidos.
O primeiro foi o das Fragas de São Simão, em Figueiró dos Vinhos, e o próximo será o da Ribeira de Quelhas, já na Serra da Lousã, mas ainda em território de Castanheira de Pera. Avancemos, pois, para o norte do distrito.

Sugerimos uma estada num dos alojamentos locais na aldeia de Casal de São Simão, turismo rural à entrada da vila de Pedrógão Grande, ou no campismo, ou no Hotel da Montanha, em Pedrogão Pequeno.
Toda a região é indicada para percursos pedestres, mas é mais ainda para mergulhos nas águas frias e retemperadoras das praias fluviais. Em Pedrógão, a da albufeira permite manter as distâncias, bem como a do Mosteiro, alguns quilómetros a sul, junto ao IC8.
Se quiser aliar caminhada, com um mergulho, o melhor será mesmo dar uma oportunidade aos passadiços. Quando aos sítios para um repasto rico em produtos locais, o melhor será ver a lista que elaborámos na página 7.
Descendo mais alguns quilómetros para Sul, damos de caras com a imponente Serra de Sicó e as suas florestas autóctones, de doce odor a carvalho, rosmaninho, alecrim e alfazema.
É dos poucos locais na região onde isso é possível.
No limite entre os concelhos de Ansião, Alvaiázere e Pombal, há vários percursos pedestres marcados e até um trecho do milenar Caminho de Santiago, que cruza as ruínas romanas de Santiago da Guarda, onde podemos encontrar o mais extenso trecho de mosaico romano em Portugal.
Para dormir, sugerimos a centenária vila da Redinha. De manhã cedo, o melhor é regressar ao IC8 e seguir em direcção à praia do Osso da Baleia, com galardão de praia inclusiva e dourada, garantia de extenso areal, muita natureza e pouca ocupação humana.
Após uns mergulhos, sugerimos agora um piquenique, uns quilómetros mais abaixo na Lagoa da Ervedeira.
O passadiço que semi-circula a massa de água permite escolher um local espaçoso e com distâncias.
A oferta hoteleira na vila de Monte Real, ali perto, permite retemperar forças para o desafio do dia seguinte.
Visita ao Parque Natural
Muita gente desconhece o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros.
Deixando as torres verdes do Castelo de Porto de Mós para trás, encontramos uma terra dura, agreste, habitada por gente de coração de ouro, capaz de tirar o melhor trigo do mais inóspito campo de cardos.
É um sítio de contrastes. Verde no Inverno e dourado no Verão, espartilhado pelos tradicionais muros de pedra seca, que até são candidatos a maravilha de Portugal.

É também um sítio de palácios subterrâneos encantados, escavados na rocha pela acção paciente de milenares gotas de água. A nossa sugestão é uma estada no ninho de águias de São Bento, no topo da Serra dos Candeeiros ou no grande vale de Alvados.
Entre ambas as localidades há percursos pedestres que permitem visitar a fórnea, uma formação geológica monumental onde muitos identificam a cabeceira de um antigo glaciar, a Praia Jurássica e a Costa de Alvados.
Com recurso ao carro ainda é possível ir às Grutas de Alvados, de Santo António e às de Mira de Aire, que são uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal e, ainda, ao Monumento Natural das Pegadas dos Dinossáurios.
Há ainda passeios de BTT e trilhos por floresta autóctone. Para dormir, sugerimos o Rito Hall da Serra, em São Bento, com espaço de restauração, onde um chef serve pratos criados a partir da gastronomia da região. Indicado para famílias e casais em escapadinha.
Na lista de sugestões, encontramos também o Cooking and Nature Emotional Hotel, um estabelecimento de quatro estrelas, em Alvados, que acaba de inaugurar um novo espaço. O Nest by Cooking and Nature.
Trata-se de uma casa de campo, com piscina, excelente para famílias ou para quem preza a privacidade.
A unidade hoteleira está ainda a lançar uma app que ajuda a descobrir a região, oferecendo pontos de interesse, seis percursos pedestres com tamanhos entre os seis e os 90 kms e recurso a bicicletas eléctricas.
Da serra para o mar
E eis que está na hora de procurar o mar. A Nazaré é a praia da região que, em tempo de Covid-19, tem o areal com maior capacidade de ocupação. Bastaria a idiossincrasia natural das gentes da praia para se estar perante um ponto de interesse.
Mas a gastronomia local, a vila da Pederneira e a promessa de frescos banhos de água salgada, seguidos de tarde preguiçosas ao sol, sobrepõem-se a tudo o resto.
A subida ao Sítio, desde o areal, é uma das tradições que se impõem, tal como provar, pelo menos uma vez, o peixe seco ao sol da Nazaré. Ao fim do dia e depois de um passeio pela marginal para saborear um sorvete, sugerimos a estada nas Casas do Quico.
Espere simpatia, segurança, limpeza, privacidade e conforto nestas casas com alma nazarena, que combinam a tradição local com o conforto e design contemporâneo.
Há três Casas do Quico, geridas pelos Quico e que, de uma maneira ou de outra, estiveram ligadas à família: a Casa Joaquim da Praia, no Bairro dos Pescadores, de tipologia T2, T1 e T0, com piscina, a Casa da Irene, na Rua Adrião Batalha, com dois apartamentos T2 e dois estúdios T0, a dois minutos a pé da praia e, “a” Casa do Quico, na Avenida de Olivença, de tipologia T2, T1 e T0 onde até são admitidos animais de estimação.
Para os mais novos e famílias, as Casas do Quico promovem actividades lúdicas para conhecer a vila da Nazaré. Outra vantagem desta praia é a excelente ligação com a cidade de Alcobaça e os seus doces conventuais, mesmo ali ao lado.
Sempre em direcção a sul, o melhor será estabelecer a “base de operações de férias” em Óbidos. As unidades de alojamento local, os hotéis de baixa densidade ou, se a bolsa o permitir, os resorts locais são o destino ideal.
A partir do mais central dos concelhos do sul do distrito, há a possibilidade de visitar Caldas da Rainha, Bombarral e Peniche. E, entre a oferta, há o surf de Peniche, o artesanato e os museus das Caldas e as premiadas adegas do Bombarral.
Este é um roteiro que pecará por não incluir todos os locais de interesse, restaurantes e unidades hoteleiras de qualidade, mas servirá de base para outro roteiro de férias com muitos atractivos e possibilidades de melhoramento: o seu.
2020, o ano que ia ser, mas não foi
Este 2020 ia ser ‘o ano’. Em 2019, o Turismo do Centro teve 27 milhões de visitantes e os números de Janeiro e Fevereiro mostravam que todas as marcas atingidas iriam ser ultrapassadas, tando em número de visitantes, como de estadas.
Mas a sorte lançou os dados e um inimigo invisível e insidioso frustrou os planos de milhares de empresários dos sectores da hotelaria e restauração.
O tradicional acolhimento de braços abertos, que tanto agrada aos turistas, foi revertido e transformado em conselho de segurança e mensagem de serenidade: “haverá tempo”; haverá tempo, passada esta provação para que nos voltemos a encontrar e a celebrar a unicidade da cultura e património nacionais.

Tal como Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro, afirmou, recentemente, na Nazaré, estamos perante um “desígnio nacional” de recuperarmos as nossas vidas, a actividade profissional e a indústria do turismo que estão suspensas há meses.
“Até 18 de Maio tivemos um tempo de confinamento, onde o TCP desafiou os portugueses a ficar casa. Haveria tempo, para conduzir, para ir à praia, para ir aos restaurantes”, disse.
Agora, o desafio é para os portugueses darem valor ao que é seu e “consumirem” Portugal, aproveitando os espaços abertos e o ar livre que não é apenas salgado pelo Atlântico, mas adocicado pelo odor fresco dos rios e das florestas de carvalhos do interior do País e do distrito.
“Foi quase num contrassenso, tivemos de dizer aos portugueses para não saírem de casa, quando habitualmente dizemos o contrário”, “num misto de patriotismo e de responsabilidade, no qual o País e as empresas fizeram um esforço enorme, que ainda não acabou, mas ao qual temos sinais de que estamos a recuperar e do qual queremos recuperar”.
Às agências de viagem os pedidos que chegam são, como seria de esperar, para cumprir o slogan do Turismo de Portugal: “ir para fora cá dentro”. A quebra no negócio chegou a níveis jamais vistos e só vai animando com pedidos para destinos dentro de fronteiras.
“Isto está muito, muito mau. As pessoas pedem Açores, Madeira e Algarve, de preferência em alojamento local e turismo rural”, refere Margarida Coelho, da Capital Tour.
Mas a oferta é pouca. Afinal, o interior sempre teve dificuldade em conseguir captar os milhões de turistas que se concentravam em Lisboa, Porto e Coimbra, até porque os apoios e políticas de incentivo para o interior, para a paisagem, embora muito prometidos, nunca chegam.
E agora, com a pandemia, havia a oportunidade de aproveitar os pedidos por alojamento fora dos grandes centros urbanos, mas tudo esbarra contra a inexistência de apostas no interior.
É uma sina e um fado que a ninguém agrada. “Nota-se que as pessoas querem aventurar-se a descobrir Portugal, agrada-lhes a ideia de passar férias com a família em alojamentos locais e pousadas com piscina, mas depois percebem que a qualidade desses locais é muito alta e que o preço é elevado e não irá baixar”, explica Rafael Silva, da Stella Travel.
Com expectativas mais baixas, redesenham-se os planos de férias e enceta-se nova aventura, desta vez nos hotéis com o selo Clean and Safe.
“Já se nota que agora a modalidade favorita são as escapadinhas de duas ou três noites ou um programa de férias em mais do que um destino, com diversas paragens”, explica o agente de viagens.
Há ainda uma outra opção, que são as férias em conjunto. Ora com outra família, ora com um grupo de amigos chegados, numa casa arrendada. Quando tudo o resto falha, nada como aproveitar os Açores ou a Madeira, apesar da obrigatoriedade do teste à Covid-19.
“São sítios seguros, que permitem alguma despreocupação”, entende Rafael Silva, que diz não valer a pena esperar que os preços baixem, no caso de se pretender uma visita ao estrangeiro. “É mais certo os operadores cancelarem uma operação do que baixarem os preços.”
Margarida Coelho explica que os voos para destinos fora de portas são raros, mas que devem abrir, entretanto, pacotes para as ilhas espanholas do Mediterrâneo.
Até lá, o destino favorito serão alguns resorts nacionais longe da confusão e com distância física entre hóspedes. “Há algumas oportunidades. Por exemplo, sei de sítios na Nazaré, T1 junto ao mar, a 80 euros por noite, em Agosto. É uma pechincha e é negociável.”
A agente de viagens recorda que, no início da pandemia, muitos destinos estavam já esgotados, mas que com o encerramento de fronteiras, os clientes receberam vales válidos até Dezembro de 2021, a serem usados em 2022, situação que foi piorada pelo “drama da TAP”.
Mesmo assim, acredita que, a partir do dia 15, poderemos assistir a alguma abertura de destinos e melhorias. “Devemos retomar a sério apenas em 2021 e, em pleno, em 2022”, calcula.
O desafio, hoje, é encontrar lugares seguros para toda a família, de preferência certificados com o selo Clean and Safe – atribuído aos estabelecimentos que cumprem as normas de higiene, salubridade e afastamento físico, pelas entidades do Turismo.
Depois de meses de confinamento entre quatro paredes, teletrabalho, máscaras, distanciamento e limitação de movimentos, é hora de apreciar o que Portugal e a nossa região tem de melhor para oferecer.
Uma região no prato
Nenhum guia de férias pela região pode ficar completo sem sugestões de onde comer.
De Norte a Sul, coligimos uma lista de restaurante e iguarias, a curta distância dos principais pontos de interesse e locais de férias onde o garfo e a faca são reis. Gostaríamos de colocar aqui muitas mais sugestões de locais, porque merecem. Infelizmente, o espaço é curto, pelo que fazemos apenas curtas sugestões, mesmo correndo o risco de cometer eventuais injustiças.
Alcobaça À força do costume, quem passa por Alcobaça diz que vale a pena uma visita ao António Padeiro ou ao Granada. Outros há, igualmente afamados, mas, por ora, é nesta dupla que assentamos os corpos cansados de tantas e belas vistas. O primeiro abre portas na cidade de Alcobaça e a gula, pecado mortal familiar até ao pior dos cristãos, sairá daqui bem saciado. As sobremesas são premiadas e caseiras e os pratos de aves, como a perdiz, fazemnos lamber os dedos. O segundo dános, como bónus, a maresia de São Martinho do Porto. Os produtos do mar, claro, são a razão de força para nos perdemos pela praia: camarão, polvo ou bacalhau, nada falta na casa do vencedor da Revolta do Bacalhau 2019.
Ansião Produtos endógenos da serra. Por bandas da Serra de Sicó, é sabido que o queijo, o mel e os enchidos são um tesouro. Para quem chega, é uma oportunidade de saborear o cabrito no forno com grelos, batatas e arroz de miúdos. Onde provar? Na Casa do Ensaio, que chegou a ser a sede da filarmónica, obviamente.
Bombarral O Dom José figura em muitos guias gastronómicos nacionais, inclusivamente no mais recente levantamento do semanário Expresso. Peixe e marisco são especialidades, com destaque para o linguado à pescador ou à açorda de camarão. Na carne, são o coelho desossado frito à portuguesa e a feijoada de porco ibérico, os acepipes recomendados.
Caldas da Rainha A Adega do Albertino é conhecida pelo seu entrecosto com vinho, mel e amêndoas e é também reconhecida como uma casa cujo cardápio faria chorar o mais empedernido dos ascetas. Tudo é feito com mão, tempero e com o intuito de nos fazer pecar – muito – no primeiro de todos os pecados mortais, antes sequer de chegar ao “A” de Alheira Frita de Sendim.
Figueiró dos Vinhos Ir a Figueiró e não experimentar o peixe é como ir a Roma e não ver o Coliseu. A dois passos dos novos passadiços das Fragas de São Simão, encontramos a aldeia de xisto de Casal de São Simão e o Varanda do Casal. Enchidos, queijos, borrego, cabrito com castanhas ou uma cabidela, com cobertura de tigelada ou torta e laranja são mais do que motivos para retemperar as forças no Varanda após um passeio pelo passadiço.
Leiria Do alto da Senhora da Monte, às águas frias do Atlântico que beijam os pés à Praia do Pedrógão, há propostas gastronómicas para todos os paladares. A poucos quilómetros da nascente do Lis, a Casa da Nora marca há décadas o bom comer e melhor viver deste concelho. Alheiras de caça de Mirandela, cogumelos, lulas, polvo, tudo é confeccionado para dar pesadelos a um abade. À saída, se ainda tiver espaço, atreva-se e dê um salto à Companhia Portugueza do Chocolate, mesmo ali ao lado. E prove as criações de Daniel Gomes.
Nazaré Dizem que é a mais antiga casa da Nazaré, ainda em funcionamento e nas mãos da mesma família. Aliás, em toda a vila, não se sabe fazer má cozinha. É um facto. O Aleluia tem uma esplanada – elemento essencial nos dias que correm – e dedica-se aos sabores do mar, ao bife da casa e à doçaria, com muitos segredos.
Óbidos Procurar onde bem comer em Óbidos é fácil. O pior é conseguir entrar e arranjar lugar, pois este é um segredo que toda a gente sabe. Do polvo aromatizado e temperado com malagueta do restaurante da Pousada, ao Comendador Silva, passando pela Casa noa do Ramiro ou pelo Jámon Jámon, há sempre um motivo para uma visita demorada.
Pedrógão Grande No centro da vila, tudo orbita em torno da Taberna do Ferrador. Abusa- se nos adjectivos para este espaço. A cozinha regional, com os buchos e maranhos estão lá, o cabrito e o porco preto também. Tempera-se com queijo e uma dose extra de doce.
Peniche Recomendar um local em Peniche é sempre uma dor de cabeça. Invariavelmente, caímos no comentário: “mas é tudo bom!” E é! Da mais pequena petisqueira ao mais requintado. O peixe é sempre fresco e com sabor a oceano. Sugerimos a Tasca do Joel, porque é incontornável: pica-pau de peixe, mexilhão à casa, bacalhau, robalo… e até há carne em modo premium e na lenha, para quem prefira.
Porto de Mós É na serra que encontramos as principais iguarias do concelho de Porto de Mós. Os bolos fritos de São Bento, os grelhados mistos da Tasquinha D. Maria e a cozinha cuidada do Cooking and Nature Emotional Hotel, onde é possível, com a ajuda de um chef cozinhar e empratar o nosso próprio jantar, num misto de requinte e orgulho pessoal.
Pombal Sejamos realistas, o IC2 que deveria ligar Leiria e Pombal em 15/20 minutos é um inferno e um sorvedouro de tempo e de paciência, com o seu piso degradado e tráfego intenso. Mas, se dissermos as palavras “arroz de tomate no Manjar”, não há ninguém que consiga resistir. O tradicional ainda continua a ser uma das grandes razões para nos metermos à estrada. Os pastéis e a posta de bacalhau só vêm ajudar aos argumentos.
Leitão… À Boa Vista ou no Mosteiro?
Uns dizem que o melhor leitão é o da Boa Vista, outros asseveram que é o do Mosteiro do Leitão. Entre o mais antigo e o mais recente, não metemos a colher. Para nós, são ambos bons e suspiramos por uma paragem em ambos. O primeiro serve-se, em todos os restaurantes da localidade a meros cinco minutos a norte de Leiria, aberto e assado como um frango, acompanhado por batata ou arroz de miúdos e vinho leve frisante. O segundo não só é confecionado em fornos a lenha – são cinco -, como ainda oferece outros três espaços com iguarias: o Mundo do Peixe, os petiscos dos Claustros Experiences e o EME Lounge. O Mosteiro torna-se ainda mais apetitoso para as famílias, devido às suas esplanadas e jardins, que permitem uma refeição com distanciamento.