Ainda há muito a fazer, mas, de forma geral, foi cumprido o primeiro conjunto de metas proposto há dez anos, aquando da nomeação da Reserva da Biosfera das Berlengas pela UNESCO.
Ao cabo de uma década, a paisagem do arquipélago está renovada e foi controlado o avanço de várias espécies invasoras, que constituíam à época uma das maiores preocupações do grupo de trabalho permanente que passou a gerir a reserva, congratula-se Sérgio Leandro, investigador do Politécnico de Leiria, que actua em articulação com a Câmara de Peniche, o Instituto para a Conservação da Natureza e Florestas, a Universidade de Aveiro e a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves.
Foi praticamente erradicado, em cerca de 90%, o chamado “chorão da praia”, Carpobrotus edulis, espécie invasora, cujo desaparecimento tem proporcionado a expansão das plantas nativas. A espécie só não foi totalmente removida “por razões de segurança”, já que por vezes se encontra “em zonas de grande instabilidade”, nota o grupo de trabalho no relatório que faz o balanço de actividade nas Berlengas nos últimos dez anos.
Também foi conseguida a erradicação de mamíferos introduzidos na ilha pelo homem, o coelho e o rato negro, espécies que afectam as populações de aves marinhas nidificantes.
No que à preservação das aves diz respeito, foram construídas e melhoradas mais de 100 cavidades artificiais de forma a acolher e proteger os ovos e as crias de cagarras de predadores como os ratos ou as gaivotas-de-patas-amarelas. “Ano após ano, a taxa de ocupação destes ninhos artificiais tem aumentado significativamente”, congratula-se o grupo de trabalho.
E com a remoção do rato negro da Ilha da Berlenga “surge um vislumbre de um futuro promissor [LER_MAIS]para a reprodução de aves marinhas”, salienta ainda. Permitiu, designadamente, a expansão da população de roque-de-castro à Ilha da Berlenga, que até agora estava limitada aos Farilhões.
A sensibilização e a mobilização dos pescadores e dos mariscadores para a pesca e para a captura sustentável de percebes são outras das acções que têm vindo a ser realizadas e que têm contribuído para uma boa gestão dos recursos, salienta o grupo, que também se congratula pela aposta feita na monitorização do número de visitantes da ilha, bem como na melhoria de infra-estruturas e condições de visitação.
“Pelo facto de se ter tornado numa marca da UNESCO, as Berlengas passaram a ser um território muito atractivo para mergulho, gastronomia e actividades de turismo de natureza, o que melhorou também a capacidade dos operadores económicos que actuam na ilha e em Peniche”, salienta Mark Ministro, vereador daquela Câmara Municipal.
Do investimento realizado nos últimos dez anos fizeram ainda parte os projectos, já concluídos, de instalação de equipamento para produção de energia eléctrica a partir de fontes renováveis e instalação de equipamento para produção de água doce a partir da água do mar. Nos próximos anos, no arquipélago das Berlengas, espera-se maior aposta no fundo do oceano, com caracterização e inventariação dos peixes e outros grupos de espécies marinhas, mas também melhorias no património histórico-militar, como por exemplo no Forte de São João Baptista.
“Mas a principal aposta reside no cruzamento entre as Berlengas e o continente, visto que a reserva abrange a cidade de Peniche. A valorização dos produtos e serviços locais, através da utilização da marca Reserva da Biosfera da UNESCO, será uma das apostas do futuro. Assim como também uma maior atenção à sensibilização e à capacitação, nomeadamente com a criação de uma disciplina de oferta local sobre a Biosfera”, salienta Maria de Jesus Fernandes, bióloga do ICNF.
Em números, nos últimos dez anos a Reserva da Biosfera de Berlengas contou com um orçamento de cerca de cinco milhões de euros, para projectos de sustentabilidade, conservação da natureza e de infra-estruturas, bem como estudos científicos e de tecnologia. A estimativa de orçamento para os próximos dez anos é da mesma ordem, realça o grupo de trabalho.