Leiria foi surpreendida na quarta-feira passada com uma situação de risco na Escola Secundária Afonso Lopes Vieira (ESALV), em Leiria. Um aluno do curso profissional, que deveria aguardar o resultado do teste PCR em isolamento profiláctico, decidiu ir à apresentação da turma. O jovem foi ainda almoçar ao centro comercial com amigos de outra turma e de uma escola de Leiria.
Mais tarde, a directora da escola recebeu um “balde de água fria”, como a mesma desabafou: a autoridade de saúde telefonou a informar que o aluno tinha testado positivo ao SARS-Cov-2. O jovem, que tinha o pai positivo para a Covid-19, deveria estar em isolamento recomendado pela autoridade de saúde, como explica Odete Mendes, coordenadora da Saúde Pública do Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal Litoral.
O desrespeito pela ordem médica levou a directora da ESALV, Celeste Frazão, a denunciar a situação à PSP, tendo em conta que o aluno acabou por colocar em risco várias pessoas da escola. “As pessoas não se podem esquecer dos outros. Temos professores e assistentes operacionais com problemas oncológicos”, afirma.
A sala foi desinfectada pelos bombeiros e a autoridade de saúde colocou sete alunos em isolamento profiláctico, que vão ter agora aulas à distância. Odete Mendes explica que os contactos de risco foram os jovens que estiveram sentados nas proximidades do aluno e os amigos que almoçaram juntos, uma vez que “estiveram mais de 45 minutos sem máscara, com um distanciamento inferior a dois metros”.
Todos os restantes alunos terão de fazer uma auto-monitorização para verificar se surge algum sintoma associado à Covid-19. Dias depois a Escola Básica 2, 3 D. Dinis, em Leiria, anunciou na sua página que um aluno também deu positivo à Covid-19. Também aqui, a celeridade da autoridade de saúde em identificar os contactos de risco foi imediata e apenas três jovens estarão em quarentena profiláctica.
A coordenadora da Saúde Pública do Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal Litoral, Odete Mendes, confirmou que foi registado um caso positivo na Escola Profissional de Leiria (EPL).
Susana Nogueira, directora deste estabelecimento, revelou dias depois a existência de outro positivo, detectado no mesmo grupo de jovens. “No contexto de sala de aula, naquela turma não houve contactos de risco entre alunos ou professores. Mas no contexto social, verificaram-se nove contactos de alto risco, pois os jovens estiveram num espaço fechado sem máscara, pelo que foram colocados em isolamento profiláctico”, revela a delegada de saúde.
Susana Nogueira adianta que os jovens da EPL “estão doentes, pelo que não estão em condições de ter, para já, aulas, mas quando estiverem melhores terão aulas em simultâneo com os colegas, através das plataformas já usadas no confinamento”.
“Nunca nenhum aluno ficará sem acompanhamento do professor. Se não for possível assistir às aulas em directo, terão trabalhos e a explicação da matéria”, acrescenta. Clarisse Bento, delegada de Saúde da Marinha Grande, confirmou também a existência de dois casos positivos na Escola Secundária Pinhal do Rei e num ATL do concelho. (Nota: A coordenadora da Escola Secundária Pinhal do Rei, Ana Luísa Viegas, informou o JORNAL DE LEIRIA, no dia 26 de Setembro, que “à data do fecho do jornal estavam, na realidade, confirmados dois casos positivos de Covid-19 no Agrupamento de Escolas Marinha Grande Nascente, mas nenhum dos alunos frequentava a escola Secundária Pinhal do Rei”. “O que aconteceu foi que duas alunas da minha escola estiveram em contacto, no ATL, com um dos casos positivo e, foi-lhes comunicado que não podiam ir à escola e teriam de ser testadas (o resultado foi negativo).”
Em qualquer dos casos, o protocolo da Direcção-Geral da Saúde foi seguido e os contactos de risco identificados, não havendo necessidade de encerrar qualquer estabelecimento.
Aliás, Odete Mendes garante que nunca será uma turma inteira a ficar de quarentena ou se irá fechar um estabelecimento de ensino por existirem dois ou três casos. Uma medida mais drástica só será tomada se se registarem “muitos infectados”.
Escolas ainda a aprender
Os responsáveis pelas escolas têm consciência que não há risco zero e admitem que irão enfrentar, mais cedo ou mais tarde, situações de infecção de alunos, professores ou assistentes operacionais.
Dentro de portas o controlo dos alunos é mais fácil, estando definidos circuitos internos para diminuir a proximidade e o cruzamento entre turmas, horários de intervalos desfasados. A maior dificuldade para os directores são os convívios fora de portas e as entradas e saídas das escolas, onde, em alguns casos, a concentração de jovens é grande.
Susana Nogueira confirma que “dentro da escola os estudantes são mais ou menos controlados”.
[LER_MAIS]“O problema é à entrada e saída, nos transportes e no convívio social”, realça. Na Escola Secundária Calazans Duarte, do Agrupamento de Escolas (AE) Poente, na Marinha Grande, o ajuntamento à porta foi uma realidade no primeiro dia de aulas, obrigando a escola a abrir um segundo portão. “Nesse dia choveu, o que complicou ainda mais.
O que nos preocupa não é o circuito dentro da escola, mas o acesso. Temos agora duas entradas e saídas para permitir maior fluidez”, afirma Cesário Silva. Na Calazans Duarte, a temperatura corporal é medida à entrada, seguindo- se a obrigatória higienização das mãos, pelo que ainda se tornou mais premente a necessidade de abrir uma segunda porta de acesso, explica o director do agrupamento. Esta é também a preocupação da Associação de Pais da ESALV. A presidente, Margarida Araújo, denuncia o ajuntamento de alunos à primeira hora da manhã.
“Deveria ser aberta a porta de baixo da escola, para ajudar a fluir as entradas dos alunos.” Esta foi a solução encontrada na Escola da Batalha. Depois de perceber a dificuldade de escoar os alunos através de uma porta apenas, o director, Luís Novais, procedeu à abertura de uma segunda entrada. “Temos circuitos definidos no chão e os blocos impedem os alunos de andarem pela escola.”
“Tudo isto é novo para todos. Temos estado a criar rotinas e a avaliar no dia-a-dia. Em caso de necessidade estamos preparados para avançar com o ensino misto ou à distância, com trabalho autónomo e com um professor”, explica.
Na D. Dinis foram estabelecidas duas entradas e saídas, segundo aponta o plano de contingência do agrupamento, estando estabelecidos horários diferentes de entrada e saída para os diferentes ciclos de ensino, por forma a evitar ao máximo o cruzamento de maiores grupos.
“Os horários de intervalo são desfasados, sempre que, no horário de cada turma, existirem aulas de 100 minutos, de forma a desencontrar os alunos nos espaços disponíveis e a permitir um maior distanciamento físico”, lê-se no documento, que aponta ainda zonas específicas de recreio definidas para cada turma.
A mesma situação sucede na EB 2, 3 Guilherme Stephens e no 1.º ciclo, do AE Marinha Grande Poente, onde “há zonas delimitadas para o recreio”. Na Calazans, a opção foi por desfasar as pausas entre as disciplinas, para que “o fluxo de circulação seja menor”.
Neste agrupamento, os alunos que tiveram de enfrentar um isolamento, seja por estarem positivos ou por precaução, terão aulas à distância. “Equacionámos desde logo um cenário misto quer para reduzir a afluência à escola ou para situações de infecção”, constata Cesário Silva. No refeitório da Calazans, as mesas e cadeiras estão dispostas de modo a não haver contacto frontal e há a possibilidade de take away.
Na Guilherme Stephens foi aberta mais uma sala para alargar o local de refeições. Cesário Silva pede a toda a comunidade escolar uma “responsabilidade partilhada” e o “compromisso” de serem cumpridas todas as orientações. Também o director do Agrupamento de Escolas Domingos Sequeira, Alcino Duarte, admite que o controlo à porta da escola e nas entradas e saídas “é difícil” e o “distanciamento nem sempre é cumprido”.
À semelhança dos outros estabelecimentos, foram criados circuitos de circulação dentro das escolas e “houve a preocupação de tentar que os alunos ocupassem sempre a mesma sala”.
Na secundária Domingos Sequeira, os alunos sobem por um lado e descem pelo outro. “Isto ainda é tudo muito novo e todos os dias estamos a ajustar as medidas, que entendemos ser as mais adequadas.”
Alcino Duarte lamenta que não tenha sido possível encontrar uma solução em conjunto com os transportes públicos, para permitir às escolas um desfasamento dos horários das turmas.
“Na José Saraiva, por exemplo, os alunos que tivessem aulas apenas de manhã teriam de ficar na mesma o dia inteiro na escola, porque não tinham transporte para ir para casa”, denuncia.
“Deveria ter havido um esforço maior para ir ao encontro das necessidades das escolas neste contexto de pandemia”, acrescenta o director. O Município de Leiria adiantou que “foi feito um reforço do Mobilis, nomeadamente na linha universitária”.
“Nas linhas 1, 2, 3, 4 e 7 foi feito o desdobramento com recurso à segunda viatura de modo a evitar situações de sobrelotação. Na linha interurbana, houve um reforço com 20 viaturas para permitir desdobramentos”, informou.
Também este AE está preparado com equipamentos com câmaras que permitam dar aulas em directo, perante situações de alunos em isolamento. Basta a câmara estar virada para o quadro e o aluno em casa acompanha a aula, ouvindo o professor”, explica.
No refeitório da secundária, as regras cumprem o recomendado, havendo turnos de 80 alunos. “Para os alunos que levam comida de casa foram colocadas mesas no corredor perto da entrada.”
Na Batalha, o serviço de refeitório foi ‘alargado’ para o polivalente, permitindo assim o acesso às refeições a um maior número de alunos, incluindo aqueles que trazem comida de casa. “Não conseguimos desfasar os horários escolares, por causa dos transportes públicos, mas fizemo-lo no interior”, informa Luís Novais.
Cesário Silva e Alcino Duarte alerta ainda para o tempo de Inverno que irá trazer as habituais viroses, gripes ou amigdalites, que deixam, já por si, alunos em casa. “A tendência será complicar ainda mais neste quadro, em que se tem de despistar a Covid-19. Tudo tende a ter uma atenção redobrada”, afirma o director da Marinha Grande.
O responsável pela Domingos Sequeira acrescenta que habitualmente “metade das turmas ficava em casa” e agora com a realização de testes e com a quarentena “vai complicar”.
Dois infectados no Politécnico de Leiria