Os casos de SARS-CoV-2 que têm aparecido nas escolas estão a preocupar alguns pais, que nem sempre entendem as decisões tomadas pelas autoridades de saúde locais.
Muitos questionam a razão dos filhos não ficarem em isolamento profiláctico, quando estiveram perto de uma criança infectada, ou a diferença de decisões entre turmas da mesma escola.
A explicação parece simples, mas a decisão não é fácil nem imediata. Cada caso é um caso e obriga a um trabalho de verdadeiro detective para reconstituir os passos do infectado nos últimos dias. Quando há um aluno que testa positivo, as autoridades de saúde pedem a organização da sala de aula para avaliarem onde cada criança está sentada e o respectivo distanciamento.
“Fazemos a avaliação de risco em função da proximidade”, afirma Odete Mendes, coordenadora da Unidade de Saúde Pública de Leiria. O trabalho de rastreio não se fica por aqui. São solicitados todos os contactos do positivo: “com os colegas em contexto fora da sala de aula, as relações de amizade no recreio e durante a hora do almoço”.
“Preocupam-nos muito as actividades de educação física.” Apesar de ser sugerida uma actividade individual, há quem realize jogos de contacto, o que pode ser um problema acrescido, admite Rui Passadouro, médico de saúde pública.
Depois de todos os dados recolhidos, a equipa reúne-se e toma uma decisão partilhada. Há situações em que o colega mais perto da sala não fica em isolamento profiláctico e o jovem do fundo vai ficar em casa, porque esteve junto ao almoço.
Odete Mendes explica que na sala, o distanciamento por que se regem é de dois metros, maior do que o sugerido nas orientações da Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (um metro). Há pais que ficam preocupados porque o filho almoçou na mesma mesa do colega infectado. “Se esteve a três [LER_MAIS]metros o risco é baixo.”
Toda a informação é obtida após dezenas de telefonemas e de várias horas de avaliação. “Se os contactos de alto risco forem muitos, a turma ficará em casa. Se não forem, vamos isolar aqueles que têm contactos mais próximos.”
Rui Passadouro acrescenta que “não há risco zero”, mas a avaliação estratificada é baseada em risco alto e risco baixo. “Os alunos que são considerados de risco baixo continuam a ir às aulas, com a recomendação de autoautovigilância de sintomas”, adianta. Segundo revela, a “avaliação de risco pressupõe protecção, que passa pelo distanciamento, uso de máscara e tempo de contacto”.
“Estar no recreio, que é um espaço aberto, onde as crianças não estão em contacto durante 15 minutos seguidos, torna as pessoas de baixo risco.” O médico alerta ainda que é necessário avaliar o tempo que medeia o aparecimento de sintomas.
“Imagine-se que está uma colega ao meu lado. Vai para casa e os familiares ficam positivos. Deixa de vir à escola e fica positiva três dias depois. Por ter estado com ela há três dias sou de baixo risco. Isto é uma situação difícil de os pais entenderem e que a Saúde 24 atribui como alto risco, o que nos traz muitos problemas”, constata.
As autoridades de saúde seguem as normas da Direcção-Geral da Saúde, com base nas orientações da Organização Mundial de Saúde, que estão sustentadas “em evidência científica”.
Quando um caso é detectado durante a noite e não há tempo para uma avaliação estratificada imediata, as autoridades não correm riscos e avisam a escola para colocar toda a turma em isolamento profiláctico.
Para Rui Passadouro, os assintomáticos são um “risco menor”.
“Segundo a evidência cientifica, apesar de transmitirem o vírus, a carga viral é muito baixa.” Os médicos defendem que a informação prestada à comunidade escolar deve ser “transparente, clara e dar tranquilidade aos pais”.
Rui Passadouro destaca a “proximidade” que existe entre as autoridades de saúde e as escolas, com contactos directos, o que permite tomar decisões mais céleres. Na escola os alunos estão em grande parte do tempo protegidos pelas medidas de segurança. Além das máscaras, distanciamento e higienização, as janelas e portas estão abertas, enquanto o tempo o permite. O problema poderá ser fora dos portões.