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O ponto de partida da exposição, o centro de onde irradia todo o discurso, é o Almanach Perpetuum, o primeiro livro científico da imprensa portuguesa, impresso em Leiria, na tipografia de Abraão d’Ortas, há 525 anos.
Instrumento importante para a navegação na era dos Descobrimentos, vai estar durante quatro meses no Moinho do Papel, numa oportunidade rara para o grande público conhecer o contexto e o acontecimento, à época com impacto em Portugal e na Europa.
A exposição Tipografia Matemática Portuguesa 1496-1987 que inaugura esta sexta-feira, 2 de Julho, pelas 17 horas, no Moinho do Papel, em Leiria, com o alto patrocínio da Presidência da República, é um acontecimento inédito, segundo Samuel Rama, Pró-Presidente do Politécnico de Leiria, porque reúne 32 obras significativas da história da tipográfica matemática em Portugal, incluindo o Almanach Perpetuum, da autoria de Abraão Zacuto.
Através de símbolos, tabelas e ilustrações, entre outros elementos, percorre os tesouros da história das ciências matemáticas no nosso País, passando pela engenharia militar, essencial nas guerras da Restauração, pela reforma dos colégios, academias e universidades e ainda pela investigação científica contemporânea. E já se prevê que em 2022 venha a circular por Lisboa, Porto e Coimbra.
“Nunca houve em Portugal algo que reunisse num mesmo espaço, com uma narrativa, estas obras todas, nunca aconteceu antes”, explica Samuel Rama, membro do comissariado científico e responsável pelo projecto museográfico da exposição patente até 31 de Outubro que também celebra mais de cinco séculos de tipografia em território nacional, numa iniciativa conjunta do Município de Leiria, da Leiria Cidade Criativa da Música Unesco, do Politécnico de Leiria e do Centro Internacional de Matemática, com a colaboração de várias universidades e bibliotecas.
Segundo Samuel Rama, os organizadores da exposição pretenderam “fazer justiça a uma centralidade que Leiria teve em relação à tipografia e à impressão”, no final do século XV. Em destaque, o Almanach Perpetuum ganha especial relevância “porque é uma das primeiras publicações na Europa, de referência, nesta área, na matemática”, um componente incontornável na cadeia de avanços científicos que permitiram navegar entre continentes e que tornaram Portugal numa potência mundial, explica o docente e investigador do Politécnico de Leiria.
Mas cada uma das 32 obras seleccionadas contém uma história, conta uma história, porque todas elas “tornaram possíveis coisas que não eram possíveis até aí”. E porque mostram que “o pensamento matemático em Portugal está a par daquilo que melhor se fez na Europa”.
O comissário científico e museológico da exposição Tipografia Matemática Portuguesa 1496-1987, José Francisco Rodrigues, também salienta que “é a primeira vez que se faz uma exposição deste tipo relativa a um assunto, a matemática, e a um período tão vasto”, com “exemplos notáveis da nossa tipografia”.
José Francisco Rodrigues elege cinco títulos, de entre os 32 seleccionados para o Moinho do Papel, pelo significado que têm: o Almanach Perpetuum, cuja publicação considera “um marco da teoria matemática da navegação”; o volume 44 da Portugaliae Mathematica, de 1987, por marcar “o fim de uma era tipográfica”, também o Methodo Lusitanico (1680), de Luís Serrão Pimentel, Princípios Mathematicos (1790), de José Anastácio da Cunha, e o Curso de Analyse Infinitesimal (1887), de Francisco Gomes Teixeira.
Entre as edições mais antigas em exposição, descobrem-se o Tratado da Pratica Darismetyca (1519) de Gaspar Nycolas, o Tratado da Sphera (1537), De Crepusculis (1542) e De Arte Atque Ratione Navigandi (1573), todas de Pedro Nunes, também Elementos Mathematicos (1634) de Ignacio Stafford ou, por exemplo, Methodo Lusitanico (1680) de Luís Serrão Pimentel. A mais antiga é mesmo o Almanach Perpetuum, impresso há 525 anos.
Nos autores representados, contam-se Pedro Nunes, Luís Serrão Pimentel, José Anastácio da Cunha, Daniel Augusto da Silva, Francisco Gomes Teixeira, Bento de Jesus Caraça, António Aniceto Monteiro e José Sebastião e Silva.
