Como apareceu a oportunidade de ser bailarina profissional no Birmingham Royal Ballet?
Aconteceu durante a semi-final do Youth American Grand Prix (YAGP) em Barcelona, em Dezembro de 2019, quando o subdirector da companhia de Birmingham, após a entrega de prémios, veio ter comigo e com a professora Annarella Sanchez, e convidou-me para fazer uma audição. Devido a um imprevisto, não foi possível fazer a audição presencialmente, por isso a Annarella gravou alguns vídeos meus e enviou-os. Em Fevereiro de 2020, recebi o convite para fazer parte da companhia, para ingressar ainda em Abril, antes de fazer 18 anos. Mas devido à pandemia, a data foi adiada três vezes. Agora, é previsto começar a 1 de Setembro de 2020.
O que foi que a distinguiu, perante as outras bailarinas?
O mundo do ballet aprecia um físico com linhas bonitas, com flexibilidade e com uma boa técnica. E eu, com muito trabalho e dedicação, tanto minha, como dos meus familiares e dos meus professores, consegui alcançar esse conjunto de requisitos. Na minha opinião, o facto de amar tanto o que faço possibilita-me transmitir essa paixão pela dança e entregar-me de corpo e alma. Na Grand Audition, que aconteceu em Barcelona, este ano, o director de uma das companhias que se encontravam presentes disse-me que a minha presença em palco era diferente da de outras bailarinas e que se notava que era mesmo aquilo que eu amava fazer.
Já sabe como vão ser os seus dias a partir de agora?
Ainda não sei, mas acredito que irão ser de muito trabalho e sobretudo adaptação. Com esta situação da Covid-19, creio que as próprias rotinas da companhia se tenham alterado um pouco. Apenas sei que está prevista uma digressão, com início em meados de Novembro, com a apresentação do bailado O Quebra- Nozes (The Nutcracker). Como começou o seu interesse pela dança? Teve início ainda na pré-primária, através de uma colega. Nessa altura ingressei num clube de dança desportiva, a Associação Desportiva e Recreativa Clube Vidigalense. Mais tarde, surgiu a oportunidade, através de uma outra amiga, de ir assistir a uma aula na Academia Annarella. Apaixonei-me logo pelo espaço, pela professora e sobretudo pelas músicas e pelo movimento. Penso que comecei logo nessa semana. No início, ainda fiz parte da associação e da academia, mas mais tarde apercebi-me que a minha grande paixão era o ballet.
Determinação férrea
Matilde Rodrigues nasceu em Leiria, no dia 25 de Abril de 2002. “Tenho 18 anos e sempre vivi e estudei em Leiria”, conta. “Desde os meus 7 anos, quase 8, que integro a antiga Academia Annarella, conhecida agora como Conservatório Internacional de Ballet e Dança Annarella Sanchez.”
A jovem bailarina acaba de integrar o Birmingham Royal Ballet após ter recebido um convite da companhia. Tudo aconteceu muito rapidamente. Em Dezembro do ano passado, na semi-final do Youth American Grand Prix (YAGP) em Barcelona, o subdirector da companhia convidou-a a fazer uma audição e, em Fevereiro, foi convidada a ir para o Reino Unido.
A jovem explica que foi o trabalho, o apoio da família e os estudos no Conservatório Annarella, além de uma determinação a toda a prova, que a fizeram chegar a este momento da sua vida.
Num mundo competitivo como o da dança, Matilde deixa um conselho aos outros bailarinos e bailarinas: “há que saber defender-nos e acreditar que ‘sim, é possível!’”.

Que mais-valias lhe trouxe a passagem pelo Conservatório Annarella, uma escola de artes longe de Lisboa ou Porto, no seu percurso pedagógico?
Tive a sorte de ser de Leiria e de a Annarella, há 22 anos, ter gostado da nossa cidade e querer que o sonho dela, de abrir uma escola de artes, se concretizasse. Creio que foi uma sorte tê-la encontrado tão cedo, pois assim foi possível ter um percurso de aprendizagem vasto e exigente, além da [LER_MAIS]oportunidade de aprender com os melhores professores e bailarinos do mundo. A meu ver, a mais-valia que o conservatório proporciona aos alunos é o facto de trazer inúmeros professores de renome para que possamos aprender sempre com os melhores.
Onde se vê daqui a cinco anos?
Primeiramente, quero adaptar-me a esta nova etapa da minha vida e não pensar muito no futuro. Tenho muito que aprender e tenho a sorte de essa aprendizagem se iniciar numa tão conceituada companhia como a de Birmingham. Quem sabe se, daqui a cinco anos, estarei no mesmo sítio com um papel de maior destaque, não como corpo de baile, mas sim, como solista?
Que conselho deixaria a outros bailarinos que também pretendem seguir uma carreira profissional no ballet?
O meu maior conselho é, sem dúvida, nunca desistir! Se é mesmo isto que gostamos de fazer, a nossa paixão e a nossa força superam sempre qualquer obstáculo, sejam eles comentários maldosos, comparações mais negativas ou qualquer outra coisa que influencie a nossa confiança. Infelizmente, é um mundo de grande competição e, não podendo evitar isso, há que saber defender-nos e acreditar que “sim, é possível!”. Em vez de nos deitar abaixo, os comentários devem ser tratados como críticas construtivas e transformados em força e garra!