Até ao último dia de Maio, o posto de Turismo de Leiria, acolhe uma exposição de pintura e escultura organizada pela ACLAL – Academia de Letras e Artes Lusófonas com obras de artistas de relevo nacionais e estrangeiros.
São 150 trabalhos de autores como Alves Cardoso, Abel Salazar, Carlos Alberto Santos, Columbano, Cutileiro, Carlos Reis, Acácio Lino, Silva Porto, Joana Vasconcelos, Eduardo Guerra ou João Villaret, que fazem parte desta mostra onde se podem ainda encontrar obras de mestres como o surrealista Salvador Dalí, T.S. Cooper ou Francis Smith e até criações do príncipe consorte, D. Fernando do Saxe Coburgo-Gotha, marido da rainha D. Maria II.
Há também trabalhos de alguns artistas ilustres nascidos na região, como Lino António, Sousa Lopes (Leiria) ou Gama Diniz (Marinha Grande). A ACLAL pretende alienar parte destas obras de arte, com o intuito de angariar fundos para constituir bibliotecas e núcleos museológicos em países da Lusofonia.
Arménio Vasconcelos, presidente da ACLAL, dá-nos as boas-vindas à mostra e, num discurso estruturado e loquaz, guia-nos pela mão, apresentando- -nos a cada uma telas ou esculturas, disponibilizadas pelos membros da academia, como se fossem velhos amigos… o que, provavelmente, são.
Conta-nos histórias de quem conhece intimamente a vida de cada um dos pintores expostos, os gostos, os amores, as paixões e os desamores. Na verdade, cruzou-se com muitos deles, numa relação [LER_MAIS]estreita que estabeleceu entre os dois lados do mar atlântico.
Membro honoris causa da Academia Brasileira de Belas Artes, grande oficial da Associação Brasileira de Desenho e membro do Conseil International des Musées da UNESCO, iniciou a vida profissional no Direito, mas a arte levou-o a outros amores.
É doutorado em Museologia, fundou a Casa-Museu Maria da Fontinha, em Além do Rio, localidade do concelho de Castro d’Aire, de onde é natural, e é autor de livros como Carlos Gomes, Pintor da Luz, dedicado ao artista brasileiro.
Uma vida cheia de reconhecimentos e obra feita e, talvez por isso, o desabafo de que está cansado de ser alvo de atenções e prefere contar as histórias da arte que o rodeia.
A meio da confidência, aponta, orgulhoso, para uma parede onde se pode ver um quadro do mestre Domingos Sequeira.
À direita da tela, espreita um Malhoa e, ao lado, um José Barrias repousa num cavalete.
Arménio Vasconcelos tem boas notícias. “Hoje de manhã, vendi um Árpád Szenès e parte da receita reverte para o projecto.”
Sorri, satisfeito, perante a perspectiva de a ACLAL continuar a abrir núcleos expositivos em locais onde escasseia a oferta cultural, fazendo bom uso de um espólio que conta com mais de 1.500 obras de outros tantos artistas.
Concluídos ou em fase de instalação, estão espaços promovidos pela academia em locais como Moura Morta (Castro d’Aire) e em três “Almofalas”, a de Castro d’Aire, a de Figueiró dos Vinhos e a do Ceará, no Brasil.
“Em Julho, será a vez de Biscoitos, na ilha Terceira e seguem-se São Tomé, Timor, Angola e Guiné- Bissau”, revela.
Desde que a mostra abriu, Arménio Vasconcelos foi contactado por uma empresa da zona de Leiria que pretende adquirir uma representação do Mosteiro da Batalha, da autoria de Ribeiro Cristino, artista do Grupo do Leão, com o intuito de a oferecer para o espólio do monumento, património da Humanidade, da UNESCO.
Do outro lado da sala, há mais uma referência à Batalha e a um dos seus: Joaquim Mousinho d’Albuquerque. Mousinho com S, porque o do Z era o Mouzinho da Silveira, ministro da Fazenda, que nada tinha que ver com este explorador do continente africano e responsável por um dos restauros do Mosteiro de Santa Maria da Vitória.
Na grande sala da antiga sede da Região de Turismo Leiria-Fátima, há ainda representações da Nazaré, de Figueiró dos Vinhos, de Leiria e até desenhos a carvão que recordam a passagem por esta cidade do escritor Miguel Torga, local onde escreveu os famosos Bichos, Contos da Montanha e Novos Contos da Montanha, livros maiores da literatura portuguesa do século XX.
Arménio Vasconcelos guia- -nos por cada uma das obras expostas, detém-se em frente das suas favoritas, olha-as como se fosse a primeira vez que as admira.
Passa telas pintadas a óleo, pastel e outras técnicas, até chegar a um conjunto de minuciosos desenhos.
O responsável pela ACAL pára, chama-nos a atenção e desabafa: “estes deveriam estar no Museu do Teatro”.
Aponta para oito representações de figurinos de palco.
Explica que se trata de obras de Manuel Maria de Machado e de Manuel Maria Bordalo Pinheiro, a partir de peças levadas ao palco do Teatro D. Maria II, ainda em meados do século XIX.
“São desenhos minuciosos, com pormenores das roupas, das faces e dos movimentos”, descreve.
Até 31 de Maio, esta é uma oportunidade única de apreciar, em Leiria, o trabalho de muitos dos maiores artistas nacionais e internacionais