Os campeonatos secundários estão parados desde o início de Janeiro. Exceptuando o futebol, apenas o primeiro escalão das diversas modalidades continuaram a ser disputadas.
Agora que a prática dos desportos de médio risco voltou a ser possível, as várias federações e associações distritais procuram encontrar campeões e definir subidas e descidas, mas o método seleccionado não foi similar.
E se uns, por falta de tempo e receio de uma nova vaga, optaram por cumprir apenas a primeira volta dos respectivos campeonatos, outros optaram por fazer jogar todas as jornadas em falta, como é o caso da Federação de Andebol de Portugal.
Ora, esta decisão superior criou um problema à Juve Lis, cuja equipa masculina terá de cumprir, de 1 de Maio a 10 de Julho, nada menos do que as 12 jornadas em falta para terminar a competição, mas também os cinco jogos que tinham sido adiados devido a surtos associados à Covid-19.
Ou seja, para terminar a primeira fase da 2.ª Divisão de andebol masculino, a equipa de Paulo Félix terá de fazer nada menos do que 17 jogos em 71 dias, o que obrigará a uma cadência de um jogo a cada quatro dias.
“Tentámos marcar jogos ainda para Abril, mas ninguém aceitou. O que é compreensível, porque só agora começam a treinar”, explica João Marques, director desportivo do clube de Leiria.
“Possivelmente terá de haver jogos a meio da semana”, o que, para uma equipa 100% amadora, será particularmente difícil de gerir. E também há a questão da igualdade de circunstâncias, pois outras equipas, como o líder São Bernardo, só tem uma partida em atraso, pelo que terão de fazer menos quatro jogos em igual período.
“É complicado, realmente. Não somos uma equipa assim tão extensa e normalmente completamos o grupo com os jogadores dos sub-23, que também vão ter o campeonato deles. Não poderemos ter tantos treinos e vamos ter de gerir muito bem a condição física e o cansaço.”
Para o responsável, esta sobrecarga de jogos “aumenta exponencialmente o risco de lesão”, algo que “está a preocupar os atletas” e, por todas esta razões, admite não concordar com o método preconizado pela Federação de Andebol de Portugal, num ano particularmente “difícil de gerir” para a Juve Lis, “sem receitas o ano todo”.
O fisioterapeuta Rui Faria também considera o o momento perigoso. “A verdade é que há competições em que pouco se treina, é apenas gerir carga, como na NBA. Quase que só jogam, mas há uma monitorização grande de todos os atletas. A este nível da Juve Lis, amador, tentar fazer um programa competitivo seguindo o mesmo modelo, mas sem a mesma retaguarda, é um bocado arriscado. Se calhar até há atletas neste nível que não treinam com essa frequência, de quatro em quatro dias, quanto mais jogar.”
[LER_MAIS]Ainda por cima, após três meses de paragem, o compromisso entre atletas amadores e clube pode ter sido quebrado. “Fica-se com planteis mais curtos, os jogadores jogam mais e estão mais expostos ao risco. Deviam arranjar outro modelo para acabar a época que implique menor realização de jogos”.
De uma forma ou de outra, a equipa não vai virar as costas ao sonho de chegar à fase final e disputar a subida à 1.ª Divisão, mas João Marques não antevê tempos fáceis.
“Não somos muito a favor do que se vai passar. Podiam ter ouvido mais os clubes. Acho que seria preferível a uma volta só, até porque não sabemos se daqui a uns tempos não vai estar tudo fechado outra vez. Se acontecer, acredito que já não chegará ao fim.”
Foi precisamente para evitar eventuais novas interrupções a Federação Portuguesa de Futebol decidiu disputar as competições apenas até ao final da primeira volta, numa decisão seguida pela entidade que gere o futebol e o futsal a nível distrital.
“A decisão não foi unânime, mas a grande maioria dos clubes decidiu desta forma. É excepcional, é injusto, mas é o mínimo dos mínimos para que exista verdade desportiva”, explica Manuel Nunes, presidente da Associação de Futebol de Leiria.