Num país e numa cultura diferentes, em muitos casos com enormes barreiras linguísticas para transpor, a comunidade imigrante da Marinha Grande enfrenta dificuldades no acesso ao apoio social, constrangimentos que sobressaem em tempo de pandemia. São já mais de dois mil estrangeiros a residir no concelho, provenientes de cerca de 50 nacionalidades, sem que tenha sido ainda accionada uma resposta específica de apoio a estes cidadãos.
A Câmara está a projectar um gabinete, que ajude na integração destas pessoas, mas enquanto isso não acontece, por desconhecimento dos apoios que podem beneficiar, há quem quebre o isolamento para tratar de questões burocráticas e há empresas a criar redes informais de solidariedade para que quem está doente não tenha de sair de casa.
“Não há uma resposta social dirigida à população imigrante, quando há comunidades muito fechadas, por razões culturais e por linguísticas, como é o caso dos paquistaneses”, exemplifica Ana Patrícia Quintanilha, presidente da Associação Novo Olhar II, da Marinha Grande.
Nas fases de desconfinamento, ainda é possível perceber se há dificuldades junto da população imigrante, porque muitas mulheres vão passando pela Loja Social para levar alguns artigos. Mas nesta fase, com o serviço da Loja Social suspenso, é mais difícil perceber como estão, conta Ana Patrícia Quintanilha.
Mas o isolamento pode agravar o risco, reconhece a presidente, a quem foram relatadas situações envolvendo imigrantes, que deveriam estar em isolamento, mas arriscaram uma ida ao banco por não conhecerem outra forma de tratar dos seus assuntos.
Na Tecfil, unidade industrial que chegou a estar encerrada devido a um surto de Covid-19, também colaboram cidadãos estrangeiros. De acordo com Paulo Valinha, responsável pela empresa, uma das suas preocupações foi fazer um levantamento mais detalhado do [LER_MAIS]contexto dos agregados.
No caso dos imigrantes que trabalham na Tecfil, “vivem com a sua família ou, no máximo, com outra pessoa”, expõe o empresário. E, acautelando o bem- estar de quem tem de ficar isolado em casa, “criámos nós uma rede de apoio, para não deixar ninguém para trás”, expõe o responsável da empresa, que já tratou da entrega de alimentos ao domicílio. “O número de imigrantes no concelho já justificava a criação de uma associação para apoiar estes cidadãos”, defende Paulo Valinha.
Retrato da multiculturalidade
De acordo com os últimos dados estatísticos disponibilizados no site do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, em 2019 residiam no distrito de Leiria 21436 cidadãos estrangeiros, dos quais 2138 na Marinha Grande. O número de imigrantes a residir neste concelho aumentou mais de 30% em cinco anos. Em 2014, viviam na Marinha Grande 1358 cidadãos estrangeiros.
Segundo os dados de 2019, entre pessoas de mais de 50 nacionalidades que residiam neste concelho, destacava-se a comunidade brasileira (559 pessoas), seguida pela indiana (431) e pela ucraniana (375).
Célia Guerra, vereadora da Acção Social, adianta que está a ser pensada a criação de um gabinete de apoio a imigrantes, no Município, que os ajude com documentação e que reúna outras respostas sociais.
Presentemente, “a resposta que temos é idêntica para a restante população, como sendo o fornecimento de refeições take away para o caso dos filhos serem alunos dos agrupamentos, linha MG Solidária para levar bens de primeira necessidade, acompanhamento pela Saúde Pública”, acrescenta a autarca.