O desejo de passar férias com a família no Algarve ou o simples sonho de poder ver o sol antes de morrer são algumas das vontades que a equipa de cuidados paliativos do Centro Hospitalar de Leiria (CHL) já ajudou a concretizar. São pequenas histórias que enchem o coração da equipa multidisciplinar que trabalha na unidade liderada por Catarina Faria, a mais nova directora de serviço do CHL.
“Ajudamos e fazemos a diferença nas pessoas numa fase difícil,onde ninguém tinha apoio até este momento, seja um doente que estava a vomitar há semanas e depois consegue fazer uma refeição natural em casa com os filhos e manda-nos a foto ao final do dia, como proporcionar um pequeno momento de sol a uma doente que estava internada há um mês. Trouxemo-la até à frente do hospital de Leiria para ver o sol. Morreu nessa noite”, recordou a médica durante a apresentação da unidade de internamento no Hospital Bernardino Lopes de Oliveira, em Alcobaça, que foi inaugurada na sexta-feira pela ministra da Saúde.
Catarina Faria contou ainda a história do senhor José que só tinha um desejo: “ir passar as férias ao Algarve com a família e com os netos, como fazia todos os anos”. “Estávamos com medo, mas a rede de cuidados paliativos funciona muito bem. Bastou um telefonema e a equipa do Algarve estava disponível para receber o senhor se fosse preciso alguma coisa. Quando regressou, o senhor José fez questão de nos vir cumprimentar. Morreu uma semana depois, descansado e feliz.”
[LER_MAIS]A equipa fica também reconfortada quando é surpreendida com os mimos de doentes que já morreram, mas que deixaram essa missão aos seus familiares, como a oferta de uma garrafa de vinho da zona da Batalha para cada um dos elementos da unidade, o preferido de uma utente falecida, ou o barco, em miniatura, de um pescador.
“Promover a qualidade de vida dos utentes com doença incurável ou grave em fase avançada, progressiva ou com prognóstico de vida limitado, e apoio aos seus familiares é o objectivo. Não tratamos uma pessoa só, mas três ou quatro pessoas ao mesmo tempo”, destacou a responsável. A única unidade de internamento de cuidados paliativos do distrito de Leiria foi inaugurada pela ministra da Saúde, Marta Temido, que destacou a importância, da dignidade no momento da morte.
Dignidade e humanismo é sem dúvida o que salta à vista nas novas instalações. A ala é bastante soalheira, minimalista, mas com todo o conforto necessário aos utentes e seus familiares. “Pretendemos que o CHL seja um centro de referência para os cuidados paliativos dentro de um ano na região Centro e em dois anos a nível nacional”, revelou Catarina Faria.
O desafio não se fica por aqui. “O nosso objectivo é continuar a cuidar do doente e da família com necessidades paliativas complexas e também quando estão nos seus últimos dias de vida. O futuro passa por ter uma equipa domiciliária de cuidados paliativos em Leiria. Candidatámo-nos à Fundação La Caixa para este programa. Se não acontecer, iremos encontrar uma solução para que isto aconteça em Leiria, que é uma lacuna muito grande”, disse.
Marta Temido deixou a porta entreaberta a um apoio da tutela, caso a candidatura não seja seleccionada. “Se não for pela Fundação La Caixa, que seja por outras respostas que consigamos arranjar e para as quais tenho o apoio do Ministério da Saúde e de toda a equipa governamental”, afirmou.
Para Licínio de Carvalho, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Leiria, que integra o hospital de Alcobaça, a unidade de cuidados paliativos vai “conferir acrescida dignidade assistencial a doentes altamente vulneráveis”, que passam a ter uma resposta “multidisciplinar com elevada preparação técnica e grande sensibilidade para a humanização dos cuidados, assegurando aos doentes ‘vida até ao fim’”.