Quanto custa a corrida a capital europeia da cultura? A pergunta tem mais do que uma resposta e depende da latitude. Com equipas e orçamentos, até ver, muito desiguais, 11 cidades de norte a sul (e também das ilhas) já anunciaram publicamente a intenção de disputar a vaga que cabe a Portugal em 2027: Aveiro, Braga, Coimbra, Évora, Faro, Funchal, Guarda, Oeiras, Ponta Delgada, Viana do Castelo e Leiria.
O prazo para candidaturas decorre até 23 de Novembro de 2021. Depois, a lista de finalistas é conhecida no primeiro trimestre de 2022 e a escolha será anunciada em Dezembro de 2022 ou Janeiro de 2023.
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Ambas as decisões (shortlist e cidade vencedora) são da responsabilidade de um júri de peritos independentes, com dez membros nomeados pelo Parlamento Europeu, Conselho Europeu, Comissão Europeia e Comité das Regiões e dois membros indicados pelo Ministério da Cultura português.
Raul Castro colocou o assunto em agenda, pela primeira vez, em 2015, no feriado municipal de 22 de Maio. Leiria está há mais tempo no terreno do que as outras cidades, o que não significa que vá à frente. A oito meses da meta, as candidaturas encontram-se em diferentes pontos intermédios, umas mais adiantadas, outras mais atrasadas.
Os orçamentos
Até agora, o investimento no âmbito do objectivo capital europeia da cultura ascende a 750 mil euros, segundo a Câmara Municipal de Leiria. Muito longe dos milhões com que Oeiras acena, abaixo de Évora, à frente de Aveiro, Braga e Faro.
A candidatura de Leiria é, na verdade, uma candidatura em rede, de 26 municípios distribuídos por três distritos (Leiria, Santarém e Lisboa) na região entre Castanheira de Pera e Arruda dos Vinhos. Um trunfo? Talvez sim, talvez não. Faro assume a representação de todo o Algarve, Évora quer envolver o Alentejo, Viana do Castelo apresenta-se como capital do Alto Minho, o Funchal agrega os 11 municípios da Madeira, a Guarda lidera 17 municípios da Beira Interior e junta-lhe a Universidade de Salamanca, Ponta Delgada reúne os 19 municípios dos Açores, Coimbra e Aveiro são suportadas pelas respectivas comunidades intermunicipais, Oeiras propõe valorizar a Área Metropolitana de Lisboa, Braga vai a jogo com apoio da Câmara do Porto e do governo regional da Galiza. Todas procuram aliar-se a universidades e politécnicos.
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Oeiras não respondeu às perguntas do JORNAL DE LEIRIA, mas Isaltino Morais já anunciou publicamente que a candidatura a capital europeia da cultura se integra num conjunto de investimentos que ascende a 400 milhões de euros nos próximos seis anos e contempla, por exemplo, um centro cultural para 1.400 pessoas e a reabilitação do Convento da Cartuxa para acolher um centro internacional de artes contemporâneas.
Em Évora, o presidente da Câmara, Carlos Pinto de Sá, adianta, através da assessoria de imprensa, que os custos da estrutura se aproximam dos 200 mil euros por ano, a que se somam “programas e projectos que, concorrendo para a capital europeia da cultura, vão além dela”. Desde logo, “o Programa de Revitalização do Centro Histórico de Évora, com várias componentes, como o Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano onde estamos a investir mais de 9 milhões de euros na requalificação de equipamentos culturais e noutras áreas”.
Já em Braga, o investimento atingiu 512 mil euros até 31 de Dezembro e deverá subir para 1,1 milhões no final de 2021, explica a responsável pela comunicação, Carolina Lapa.
Em Faro, o investimento realizado é de 650 mil euros e estão previstos 400 mil euros em 2021, segundo Bruno Inácio, chefe da Divisão da Cultura na Câmara Municipal de Faro.
Aveiro prevê investir 557 mil euros até ao final de 2021, informa fonte da autarquia.
Oeiras, Guarda, Viana do Castelo, Funchal, Coimbra e Ponta Delgada não forneceram dados ao JORNAL DE LEIRIA
Os nomes
Mais do que o dinheiro, importam as ideias e as acções. Mas, também, os nomes, que trazem conhecimento, experiência, rede de contactos e notoriedade. Para presidir ao conselho estratégico da candidatura, Leiria apostou em João Bonifácio Serra, antigo programador e presidente da Fundação Cidade de Guimarães, responsável pelo projecto Guimarães 2012, a última capital europeia da cultura em Portugal. E entregou ao antigo ministro da Cultura Luís Filipe Castro Mendes a presidência do congresso O Futuro da Nossa Cidade,que encerrou em Outubro.
Braga reforçou-se com Luís Sousa Ferreira (director do 23 Milhas e, antes, fundador do festival Bons Sons) na consultoria artística e tem três antigos ministros e um antigo secretário de Estado no conselho estratégico: Francisco José Viegas, Isabel Pires de Lima, Maria João Bustorff e Luís Braga da Cruz.
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Na comissão executiva de Aveiro, sobressai Carlos Martins, que foi director executivo da Guimarães 2012, e o presidente da comissão de honra é Carlos Moedas, antigo comissário europeu.
Já o conselho consultivo de Coimbra inclui Alexandre Farto (Vhils), Amélia Muge, António Sampaio da Nóvoa, Edson Athayde, Nuno Artur Silva, Ricardo Pais, Rui Vieira Nery e Viriato Soromenho Marques.
Guarda tem o socialista Francisco Assis no conselho estratégico. Mas é Oeiras, mais uma vez, que se destaca: Jorge Barreto Xavier (ex-secretário de Estado da Cultura) é o comissário da candidatura, Robert Palmer (foi director das capitais europeias da cultura Glasgow e Bruxelas) é o consultor estratégico, no conselho geral estão, entre outros, David Justino, Eduardo Marçal Grilo, Guta Moura Guedes, Katia Guerreiro, Miguel Poiares Maduro e Nicolau Santos.
Os dados estão lançados e o prémio já é conhecido: além de milhão e meio de euros da Comissão Europeia, o Ministério da Cultura reserva 25 milhões de euros para a cidade vencedora, que vai suceder a Lisboa (1994), Porto (2001) e Guimarães (2012).
Em 2027, além de Portugal, também a Letónia terá uma capital europeia da cultura.