“Antigamente, quando nas aldeias se pretendia abrir um novo caminho, o povo soltava um burro”, recorda Paulo Moreiras. “O trilho feito pelo burro seria então a nova estrada. E foi o que eu fiz, ao longo de mais de vinte anos a escrever, a descobrir e a construir o meu caminho. Trago na albarda muitas histórias para contar”.
O Caminho do Burro é o título do livro que Paulo Moreiras apresenta este sábado, 4 de Dezembro, pelas 17 horas, na Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira.
Uma antologia, pela editora Visgarolho, que reúne 11 contos escritos entre 1996 e 2017. Todos eles revistos, corrigidos e aumentados para a nova edição, que inclui um inédito e está nas livrarias desde 5 de Novembro.
Depois de apresentações em Sines, Setúbal e Aveiro, O Caminho do Burro passa por Leiria.
Os contos que o delimitam têm em comum a admiração do autor pela língua portuguesa. E por palavras a cair em desuso. “Cada um deles está relacionado com um tempo da minha vida, de pessoas que conheci e aventuras que tive. Todos eles representam aquilo que sou e que escrevo”. Partilham também uma identidade: “a arte de ser português, com o que existe de bom e de mau”.
Paulo Moreiras acredita que os contos são salas de ensaio, que lhe permitem experimentar possibilidades literárias. “Gosto da concisão, do desafio de conseguir contar uma história, de atrair o leitor para o que lhe proponho. São interessantes pois permitem diferentes abordagens formais que gosto de explorar e trabalhar”.
Algumas histórias “precisam de mais espaço, outras contam-se de uma penada”. O Caminho do Burro serve como pontapé de arranque para celebrar os 20 anos da publicação do primeiro romance de Paulo Moreiras, A Demanda de D. Fuas Bragatela, que se assinalam em 2022.
“Espero durante o próximo ano, se a pandemia não me trocar as voltas, apresentar outros livros que, assim desejo, venham a deliciar os leitores que me têm acompanhado nesta jornada. Estar com eles é o meu melhor prémio”, adianta o escritor, de 52 anos, a residir no concelho de Pombal.
A Demanda de D. Fuas Bragatela é descrito por Paulo Moreiras como “uma defesa acerca da existência do romance picaresco em Portugal, na continuidade da teoria defendida por João Palma-Ferreira no livro Do Pícaro na Literatura Portuguesa”, de 1981. “Foi um romance que buscou inspiração nas novelas picarescas espanholas do Siglo de Oro, uma das minhas paixões literárias. Tenho Espanha no coração e gosto da sua literatura”, afirma ao JORNAL DE LEIRIA.
Natural de Moçambique, Paulo Moreiras publicou poesia em Do Obscuro Ofício (2004), além do ensaio Elogio da Ginja (2006) e dos romances Os Dias de Saturno (2009) e O Ouro dos Corcundas (2011), entre outras obras, como é o caso de Pão & Vinho – mil e uma histórias de comer e beber (2014).
Por estes dias, encontra-se “a desfrutar os bons momentos” que a edição da antologia de contos está a proporcionar. “Agora não é tempo de escrever, é tempo de ler, ler muito, como sempre. Antes de escrever um novo projecto, preciso de ler muito. Há sempre algo a aprender. E eu não sei nada”.
Entretanto, O Caminho do Burro pode ser comprado em algumas livrarias da RELI – Rede Independente de Livrarias ou na loja online da editora Visgarolho.