Faltam poucos dias. O plano da viagem está feito, as contas aos gastos também e a ansiedade cresce à medida que a grande data se aproxima. Há mais de duas décadas rendido “às paisagens e à adrenalina” do ciclismo, Martinho Saragoça estava longe de imaginar que um dia iria vestir as cores portuguesas num mundial.
Agora, aos 42 anos e na categoria ‘master’, o atleta de Alqueidão da Serra, prepara-se para embarcar na “aventura de uma vida”: o Campeonato Mundial Granfondo que se realiza de 14 a 18 de Setembro, em Trento, Itália.
“Apaixonado pelas bicicletas” desde os tempos em que “a rapaziada da aldeia se juntava para brincar pelas ruas” de Porto de Mós, confidencia que ainda experimentou o futebol mas “a falta de vocação” sentenciaram a aposta no ciclismo.
“Comecei a convite de uns amigos para dar umas voltas, fazíamos os passeios de domingo de manhã que acabavam com um pequeno convívio, e depois começámos a ir a algumas provas”, conta, “fã dos percursos em Leiria, nas Cortes e no Juncal”.
“Mas o melhor lugar é a Serra de Aire e Candeeiros que tem todo o tipo de caminhos, paisagens diferentes e locais muito bonitos”, vinca, sem descartar “os passeios para explorar outros lugares, como a Serra da Estrela”.
Desde então já se propôs a vários desafios, participou em provas internacionais e conquistou algumas medalhas tanto no BTT, “onde há mais contacto com a natureza”, como na estrada, “onde têm surgido mais resultados”.
“A vitória que mais me marcou foi a primeira, porque não estava à espera, mas com trabalho e treinos diários os resultados foram aparecendo”, confessa.
Na colecção que entretanto começou a fazer, destaca-se o 4.º lugar na geral da prova internacional de sete dias Transpyr (2015), a vitória no Campeonato Nacional XCM Maratonas e a Taça de Portugal (2019).
No último ano, não fez a coisa por menos e arrebatou quatro títulos: Campeão Nacional de XCO Cross- Country, de Estrada e de Rampa e ainda revalidou a conquista da Taça de Portugal.
“Foi um bom ano”, atira entre risos o atleta da equipa Rodinhas Master Vantagem da Benedita que este ano também já lidera a Taça de Portugal. No entanto, vai falhar a última prova e deixar escapar um novo título em prol de uma experiência maior.
O apuramento para o mundial foi conseguido recentemente em Coimbra, com a conquista do segundo lugar numa “prova de 148 quilómetros onde o mais difícil foi lutar contra o calor”.
“Na meta só pensei no sofrimento que tive para lá chegar, foi um sentimento de trabalho concluído e a realização de um sonho”, recorda.
Casado, com duas filhas e tecelão, move-se nos tempos livres “pelo bicho da competição”. “Isto já vem de nós, cada pessoa tem uma maneira de estar na vida e eu gosto deste desafio, de ultrapassar limites pessoais e de evoluir. Também gosto de dar umas voltas por lazer, mas não há nada como treinar para evoluir.”
A caminho do sonho, à distância de pouco mais de duas dezenas de horas de viagem de carro, leva na bagagem a bicicleta, o equipamento e “o grande prémio de poder participar numa prova destas”.
“A única expectativa que tenho é gostar da participação e da experiência, vou competir com profissionais ou perto disso, quero conhecer o ambiente de uma prova mundial e tentar não cair”, afirma, com a única certeza de que vai “fazer de tudo para não ficar em último”.