Nos últimos dias, fomos surpreendidos por um localizado e concertado ato de contrição daqueles que durante anos se insurgiram violentamente contra quem colocasse alguma questão ou levantasse alguma suspeição sobre os governos socialistas liderados por José Sócrates.
Ainda que fossem muitas as evidências de que a bancarrota estava longe de ser explicada pela crise internacional, houve durante demasiado tempo um pacto de silêncio sobre um dos períodos mais negros da história democrática do nosso país.
As obras faraónicas, a manipulação e o condicionamento da comunicação social, a instrumentalização da justiça, a mentira como forma de estar e de fazer política, foram sucessivamente sinais conscientemente negligenciados por aqueles que agora vêm assumir a vergonha por terem apoiado ou suportado um governo que tem vários dos seus membros sob investigação.
Vergonha alheia é apenas o que me ocorre. O ato de sentir vergonha pelo próximo, no caso, pelos que estando tão próximos não viram nada.
Nos anos que se seguiram, e nos que se seguirão, a fatura deste período ficou para os que vieram a seguir, para quem teve de custear a festa que outros fizeram à custa do erário público.
A austeridade foi a filha enjeitada de um conjunto de políticos e de políticas que cativaram em muito o futuro das novas e das próximas gerações.
É verdade que a corrupção não tem esquerda nem direita. Mas que isso não sirva de pretexto para tratar tudo e todos por igual.
Sabemos ao dia de hoje com clareza, agora para todos, que um grupo de indivíduos [LER_MAIS] que fazendo parte de um mesmo governo estão sob suspeita de uma teia de corrupção e promiscuidade.
Que nada disto poderá ficar sem punição, caso se prove a sua culpa, e que jamais poderá voltar a repetir-se.
Que isto sirva tudo também para mostrar que a Democracia esteve muito próxima de ser capturada por um conjunto de interesses bem antagónicos e contrários ao interesse público.
*Deputada do PSD
Texto escrito de acordo com a nova ortografia