Há em Portugal quem perfilhe a ideia de que a dona da Cultura em Portugal é a esquerda. Esta é uma ideia peregrina que tem sido desmentida pela realidade, que assim tira o tapete à ficção (e à usurpação, diga-se).
Creio já ter ficado claro que a promoção da Cultura a Ministério foi apenas para inglês ver, uma vez que apesar de os discursos irem no sentido, a prática tem sido bem diferente.
O subfinanciamento do setor nos últimos três Orçamentos do Estado ajudam a suportar a narrativa de que a Cultura está longe de ser uma prioridade política deste Governo e dos partidos que o suportam.
Mas na semana que passou ficou ainda mais evidente a hipocrisia da esquerda em Portugal. Após vários atrasos, ficámos a conhecer os resultados provisórios das candidaturas ao apoio da Direção-Geral das Artes (DGArtes) para o período 2018-2021. E a montanha pariu um rato.
Os resultados ficaram muitíssimo aquém do que se andava a propagandear. Teatros com financiamento cortado e companhias com várias décadas de carreira que ficaram excluídas de qualquer financiamento até 2021.
[LER_MAIS] A indignação que se seguiu é óbvia, até porque o engodo do Governo ficou visível a olho nu. Como noutras vezes, para tentar calar as vozes de descontentamento legítimo o Governo veio anunciar um pequenino reforço de verba, que fica bem aquém do esperado e que está longe de resolver a situação.
Para a posteridade ficou a exclusão de financiamento de companhias de teatro como Coimbra, Évora, Covilhã e Setúbal. E recorde-se o elogio da diretora regional à companhia de teatro de Leiria por não pedir apoios, já previa talvez que mesmo que pedisse acontecesse o que aconteceu um pouco por todo o país: ficasse excluída. E é tudo uma questão de prioridades.
Quem não se lembra da pompa e circunstância com que o Primeiro-Ministro falava da aquisição de seis quadros de Maria Helena Vieira da Silva por mais de cinco milhões de euros?
Comentava aliás a honra que era poder ter um quadro da pintora no seu gabinete. Eu preferia que, ao invés da decoração do gabinete ministerial com tão afamada obra de arte, pudessem as companhias de teatro ter tido o financiamento que lhes tinha sido prometido.
Mas é mesmo tudo uma questão de prioridades.
*Deputada do PSD
Texto escrito de acordo com a nova ortografia