Permite-me Álvaro que fale eu então da Débora, porque, na verdade, não consigo falar de Domingo. Não consigo dizer nada que não tenha já sido dito mil vezes. E, certamente, não o consigo dizer com a acutilância do comandante dos Bombeiros na Carta Aberta que endereçou ao ministro da Agricultura, ou com a abnegação do que foi sendo escrito no JL desde o primeiro minuto do Domingo que rebentou connosco.
Nem consigo nem quero. Nem sei se lá consigo ir ver, ou se prefiro ficar com a memória de Agosto, quando, ao fim de muito tempo, percorri com a minha companheira a estrada entre o Pedrogão e São Pedro e, ainda com a tragédia de Junho na mente, comentámos “se acontece aqui alguma coisa, é uma desgraça”. Quantos de nós não disseram ou pensaram o mesmo? Não tenho, portanto, nada de novo a acrescentar ao “Domingo”.
Já no que respeita à Surma, não sendo também nada de novo é, pelo menos, bastante mais luminoso. Não é (ou não deveria ser) novidade para ninguém a importância do trabalho que a Omnichord está a fazer a partir de Leiria para o Mundo.
[LER_MAIS] No lema que os rege, “A única verdade é a música”, encontramos tudo o que eles são e tudo o que, de uma forma desassombrada, têm feito pela cidade e pelo País. Antwerpen, o disco de estreia de Surma, a gigantesca Débora Umbelino, é o culminar de um percurso e, ao mesmo tempo, o começo da viagem maior.
Aquela que a vai levar (a ela e aos outros) onde poucos dos nossos chegaram. Não é exagero. É orgulho, claro, mas é apenas, acima de tudo, uma constatação do óbvio. A recepção dos media nacionais e internacionais ao disco da Débora não é algo de somenos, não é um acaso, nem é algo passageiro. Tal como não o é a atenção de programadores e indústria discográfica fora de portas.
O trabalho da Débora, a dedicação da Débora, a humildade da Débora, a sede de criar da Débora, a forma orgânica como absorve tudo o que gira à sua volta, a entrega da Débora à música e ao desenho do seu próprio universo sonoro, não podem nunca ser trocados nesta equação pelo brilhante trabalho de marketing de quem a rodeia. A Débora merece tudo o que o futuro já lhe está a trazer.
*Editor-in-chief Vice Portugal