Carlos Oliveira Dias segura nas mãos um livro, cujas folhas vai desembraçando, uma a uma, demorando-se, ocasionalmente, numa ou noutra página, para falar das caras que a habitam.
“Temos aqui o Filipe Carvalheiro, médico dos Marrazes, José Ribeiro, que foi campeão nacional e é da Marinha Grande…”
Árbitro internacional de xadrez, Escalão A, visitou, nessas funções, mais de 40 países e mediou partidas onde tomaram parte 27 campeões do Mundo, entre eles os famosos sovié- ticos Anatóly Kárpov e Garry Kasparov, ou o indiano Viswanathan Anand.
“Xadrez é vida”, afirma, recordando que, tal como na vida, este é um jogo realizado em três momentos; abertura, meio do jogo e final. “Se não tivermos uma boa abertura, não teremos um bom meio do jogo e o final será duvidoso.”
Recentemente, coligiu um livro que é uma memória de uma longa carreira e intitulou-o Recortes de Memória. “Neste volume, juntei os artigos que escrevi para o JORNAL DE LEIRIA e para o Jornal de Marinha Grande, entre 1994 e 1997.”
Nas suas páginas, Carlos Oliveira Dias conta o desenrolar de várias partidas nos vários escalões e cidades do distrito de Leiria e algumas incursões ao estrangeiro.
Já não é a primeira vez que escreve sobre o assunto – com Eduardo Viana deu forma a O livro do árbitro de xadrez -, mas, desta vez, há posições, há movimentos, estratégias e jogadas, sempre com uma pitada de imprensa regional.
E há a reprodução dos problemas que Carlos Dias colocava aos leitores do JORNAL DE LEIRIA, publicados ao lado da sua crónica semanal. “É um livro para guardar a memória do xadrez do distrito, do País e do Mundo, durante esta década.”
“‘Mata em dois; mata em três; as pretas ganham ou as brancas vencem’. Era assim que lançava o seu desafio semanal aos leitores do jornal.”
O volume foi lançado no dia 4 de Outubro, em Pombal, durante o Open Internacional de Xadrez de Pombal, que o próprio autor arbitrou e onde foi homenageado.
[LER_MAIS]Mas Carlos tem já outro livro planeado para publicação no próximo ano, além de uma segunda edição dos Recortes de Memória, para a qual procura agora apoios mecenáticos. O novo livro será integralmente suportado pela Editora Solis Portugal.
“É a melhor casa de publicação de livros de xadrez, em língua portuguesa, contando com dezenas de títulos publicados””, explica o autor.
Quando, em Abril, a nova obra chegar às livrarias, será publicado em toda a Lusofonia, com as histórias e as partidas explicadas dos campeões do mundo onde foi juiz.
Será um misto entre livro de carreira e uma espécie de manual anotado com as jogadas e partidas de alguns dos maiores campeões do mundo.
“Os campeões seniores foram 27. Se contarmos os jovens, foram 52 campeões que tive a oportunidade de arbitrar”. A apresentação pública está marcada para uma cerimónia onde irá apadrinhar o Comité Olímpico de Cabo Verde e “pendurar o apito”.
“O livro terá uma parte autobiográfica, outra onde contarei muitas histórias sobre coisas que aconteceram nos campeonatos. O primeiro capítulo será sobre oTorneio da Commonwealth na África do Sul, o segundo será o Mundial de Jovens, no mesmo país.
O terceiro será sobre a Taça do Mundo em Baku. Em todos eles, irei fazer uma súmula daquilo que foi a prova, as classificações, além de histórias pitorescas que aconteceram para fazer o leitor rir um pouco!”
São episódios como aquele que aconteceu com o actual treinador do Barcelona, Xavi, convidado para efectuar o primeiro lance no primeiro tabuleiro na ronda inaugural no Open do Qatar, um dos mais importantes do mundo.
O então futebolista, pouco conhecedor de xadrez, chegou à cerimónia e perante as televisões pegou no Rei e colocou-o no centro do tabuleiro, “voando” sobre os peões. Um movimento impossível de realizar pelas regras do jogo.
Para piorar, o lance foi efectuado no tabuleiro do campeão do Mundo, Magnus Carlsen.
“Curiosamente, Carlsen é um excelente jogador de futebol”, recorda Carlos Dias.