A estratégia portuguesa de captação de investimento externo parece corroborar a teoria que defende a inovação como o principal meio de uma nação auferir crescimento e desenvolvimento económico.
A última operação de charme do governo em Davos permitiu anunciar a instalação em Portugal do novo centro de serviços para a Europa, Médio Oriente e África da Google. E esta captação não é propriamente um caso isolado, vem na senda de outras conquistas, desde o centro de competências digitais da Mercedes, até ao centro de investigação da Bosch.
Certamente Portugal não é o único país na corrida por estes investimentos. Em pano de fundo, os países batem-se pelos potenciais investidores numa quase comparação fálica adolescente, “o meu país é maior e melhor que o teu!”.
Mas ser competitivo nessa corrida é mostrar relevância em critérios que despertem o interesse dos investidores. Que bons critérios apregoam os nossos governantes? Talvez digam que a nossa competitividade assenta no pilar educativo.
No entanto, quer o défice geral de formação do mercado laboral quer o facilitismo com que tem sido permitida a fuga de cérebros para outros países, que em 2016 representou 40% da emigração (entre eles, muitos engenheiros ligados ao sector das tecnologias, e eu conheço uns quantos aqui da região!) não abonariam a favor.
Talvez mencionem que a nossa vantagem competitiva assenta em subindicadores de inovação, que são preditores estatisticamente relevantes do crescimento económico e por conseguinte uma garantia de taxa de retorno para os investidores.
Porém, não obstante as nossas boas escolas tecnológicas e as infraestruturas de I&D instaladas, outros países da união europeia estão bastante mais fortes, por exemplo, na criação de startups de base tecnológica, que é uma proxy do nível da inovação.
[LER_MAIS] Perante as evidências, prefiro acreditar veementemente que este sucesso competitivo na atração de investimento não se baseia de uma forma escamoteada no acesso a mão de obra barata e qualificada, ou no benefício de medidas fiscais privilegiadas e outras contrapartidas.
Por aí se perpetuaria a não valorização do capital humano e o enfadonho impasse no crescimento pessoal e dignidade dos trabalhadores, sempre com dificuldades financeiras e de tempo para as suas vidas pessoais.
De notar que a maior parte dos emigrantes qualificados na área de ciências, matemática e informática saíram do país não por desemprego, mas à procura de realização profissional e melhores salários.
Se o caminho é a inflexão para um estádio de desenvolvimento económico movido pela inovação, a sustentabilidade da captação de investimento e do próprio crescimento económico dependerá com certeza da valorização dos recursos humanos e da procura do que efetivamente os motiva, de forma a extrair o melhor que têm para dar.
*Mestre em negócios internacionais
Texto escrito de acordo com a nova ortografia