O vídeo, gravado em casa, é o bilhete para o que pela primeira vez acontece em Portugal. Garante um passaporte VIP para a zona mais exclusiva – o palco – na noite em que mil músicos vão tocar ao mesmo tempo no relvado do estádio municipal de Leiria.
“Tem à volta de cinco minutos, em que fiz uma junção de várias músicas, inclusive algumas que eles normalmente tocam”, explica Ricardo Fernandes. Temas de Foo Fighters, Green Day e Nirvana, entre outros, submetidos como candidatura na plataforma online do projecto Rockin’1000 – A Maior Banda Rock do Mundo. É ali que se começam a criar os laços do que a organização considera uma família, com membros de diferentes países e continentes.
“Serve também para comunicação interna e externa”, diz o guitarrista de 44 anos, da Marinha Grande, que trabalha como desenhador de moldes numa fábrica de vidro. “Temos uma conta, tem as tablaturas, ou seja, eles dão todo o material de que precisamos, fazem toda a divulgação, e de modo muito frequente, de tudo o que vai envolver o espectáculo. Estão sempre a pôr-nos a par”, adianta. “Funciona um pouco como uma rede social onde todos podemos falar uns com os outros e até marcar encontros”.
200 vagas exclusivas
O concerto só se realiza em Setembro, dia 14, com bilhetes a partir de 48 euros no segundo anel, mas já está a mexer com a região, sobretudo, desde que ficaram disponíveis 200 vagas exclusivas para músicos portugueses. “Abriram as inscrições no dia 15 de Maio, às nove da manhã, e eu consegui estar ali, logo, à espera do sino. E depois esperei uns dias até saber que tinha efectivamente ficado”. Apesar de tocar guitarra desde os 16 anos, Ricardo Fernandes é um amador com escassa experiência de palco que espera viver “uma experiência única” quando actuar ao vivo perante uma plateia que a organização estima em dezenas de milhar, no Magalhães Pessoa. Os ensaios a solo já começaram. “Ainda hoje, eram duas e meia da manhã. É muito a sério, porque, realmente, 20 músicas, durante duas horas, para tanta gente, eles incentivam muito a malta a divertir-se, mas nós próprios temos a pressão de sermos bem sucedidos”.
Por estes dias, e a dois meses da grande data, o espírito de missão alastra nos grupos de Whatsapp, vários deles com ramificações internacionais. “Ajudam-se uns aos outros, partilham ideias, é uma loucura”. E os pressupostos, para quem adere, não podiam ser melhores: “Estarmos dentro do próprio concerto e sentirmos aquela energia e magia de todos estarmos a fazer o mesmo. E a expectativa é sair de lá com grandes amizades”, afirma Ricardo Fernandes. “Já há malta que se anda a juntar, a fazer bandas novas, que se vão formar”. O alinhamento, por outro lado, também parece corresponder aos objectivos: “Sou mais da vertente de metal, mais pesado, mas toco muito rock. Vamos tocar Muse, que gosto muito”. Além de “Nights Of Cydonia”, estão anunciados êxitos de Nirvana (“Smells Like Teen Spirits”), The White Stripes (“Seven Nation Army”), Metallica (“Enter Sandman”), AC/DC (“Highway To Hell”), Rage Against The Machine (“Killing Int The Name”) e ainda outros de Foo Fighters, Linkin Park, Blur, Green Day, Coldpay, Pink Floyd e Oasis. O convidado especial, Pedro Abrunhosa, participa com a canção “Fazer O Que Ainda Não Foi Feito”.
O convite aos Foo Fighters
Numa conferência de imprensa em Abril, o director executivo da MOT Memories of Tomorrow, promotora do evento, anunciou três dias de estadia na cidade, entre ensaios e espectáculo, período em que, segundo Tiago Castelo Branco, “Leiria será a capital do rock em Portugal”. No relvado do estádio municipal vão estar 200 bateristas, 300 guitarristas, 200 baixistas, 50 teclistas e 250 cantores amadores e profissionais. A organização diz ter recebido inscrições de várias nacionalidades e de várias regiões do globo durante a primeira fase de candidaturas, que decorreu até 15 de Maio. Já os oito músicos residentes do projecto são todos italianos.
É precisamente em Itália, que se encontra a origem da maior banda rock do mundo, uma ideia de um geólogo marinho, em 2015, com o objectivo de convencer os Foo Fighters de Dave Grohl a tocar em Cesena, o que, de facto, veio a acontecer, no mesmo ano. Presente através de videochamada na conferência de Leiria, Fábio Zaffagnini prometeu um espectáculo “majestoso e diferente”, que segundo o fundador se baseia na “potência incrível” emanada por mil músicos, mas em que “o lado humano do concerto”, acredita, “talvez seja ainda mais poderoso”. E conclui: “O vínculo que se cria entre o público e os músicos é muito intenso. É muito difícil explicar com palavras”.
Depois de Itália, seguiram-se outros países, como França, Espanha, Alemanha e Brasil, e outros formatos, com cem músicos ou exclusivamente online, e ainda o primeiro tema original: “How We Roll”. A base de dados Rockin’1000 já terá atingido 70 mil pessoas inscritas no mundo inteiro.