Pus-me a imaginar o que aconteceria se o Ministério da Educação desse a possibilidade a qualquer cidadão portador de um curso superior de ingressar na profissão docente. Será que economistas e engenheiros se candidatariam para lecionar matemática?
Que enfermeiros apareceriam para dar Ciências Naturais ou Biologia? Que para ensinar português muitos advogados ou jornalistas se apresentariam? Não sei, mas temo que as aulas com que muitos deles brindariam os alunos não seriam assim tão diferentes das aulas a que alguns professores ainda hoje sujeitam os discentes.
É que acompanhando, atualmente, alunos do lado de fora da escola, apercebo-me de que alguns professores mais não fazem do que expor a matéria e verificar nos testes se ela foi, eficazmente, decorada pelos “aprendentes”.
Ora, eu continuo sem entender esta forma de se ser professor! Não, não percebo como um profissional que tem como função formar cidadãos para o futuro consegue estar tão agarrado à educação estruturada para servir a era industrial.
Num artigo excelente de Pasi Sahlberg, publicado no nº84 da revista “noesis”, li, há uns tempos, como até já está ultrapassado o objetivo da Estratégia de Lisboa para a Educação e Formação!
Se bem que importantes, os resultados do PISA apenas representam “uma avaliação parcial e extremamente redutora do complexo e subtil processo de educação para uma economia de conhecimento e uma sociedade democrática”.
Falta a essa antiga estratégia, norteadora dos sistemas educativos europeus, o conseguir fazer uma reforma que torne as aprendizagens na escola interessantes para todos os alunos e que os ajude a descobrir os seus talentos individuais, [LER_MAIS] que os ajude a aprender a aprender, a gostar de aprender, sem sacrificar, claro, os outros objetivos importantes da educação. Mas será isto fácil?
Claro que não, porém esta é precisamente a tarefa do professor. Muitas vezes sozinho, criticado por todos os que ainda têm uma conceção estática do conhecimento, que pensam que ele é construído tendo por base um processo linear e cumulativo, que ainda não perceberam, como diz Edgar Morin, que a crise da civilização ocidental reside na crise da humanidade que não consegue tornar-se humanidade.
A este propósito, muitas vezes até me interrogo porque não andam os professores mais satisfeitos com a equipa de Tiago Brandão Rodrigues?
Será que não se sentem mais livres e apoiados para poderem com sua criatividade e conhecimento pedagógico imprimir um outro vigor nas suas conceções e práticas letivas? Será que aquilo que estudam em didática, em pedagogia, em psicologia não se articula hoje melhor com os objetivos defendidos para a educação pela atual equipa ministerial?
Anseio, por isso, ver os professores “nas bocas do mundo” por outros motivos que não sejam os nove anos, quatro meses e dois dias. Para que possam dizer, por exemplo, a um enfermeiro – tu sabes ser enfermeiro, não sabes ser professor – alguns professores vão necessitar, é um facto, de aprender a “empreender-se para ensinar”.
É que se assim não for, como diz o povo; à noite, todos os gatos são pardos…
*Professora
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990