O aumento crescente da RA é um problema complexo resultante de múltiplos fatores, entre os quais se encontra a utilização excessiva, e por vezes sem indicação clínica, dos antibióticos, quer nos seres humanos quer nos animais.
Nos Estados Unidos, utilizam-se cada ano 3,4 mil toneladas de antibióticos em seres humanos doentes e 8,9 mil toneladas em animais, ou seja, cerca de 70% da produção de antibióticos é utilizado em animais, muitas vezes associada à alimentação, erradamente como fator de crescimento.
Apesar do aumento das bactérias multirresistentes, sem medicamentos capazes de as combater, prevê-se que o consumo de antibióticos, a nível mundial, aumente 67% até 2030. Caso se mantenha este consumo excessivo, em 2050 estima-se que morrerão 10 milhões de pessoas devido a infeções causadas por bactérias resistentes.
Na Europa, o consumo de antibióticos tem uma grande variação entre os diferentes países, com menor consumo no Norte, moderado no Leste e alto no Sul, ou seja, há um gradiente de consumo Norte-Sul, em que os do Sul são os maiores consumidores. Este facto tem impacto na RA, que é menor nos países do Norte da Europa, onde o consumo é menor.
[LER_MAIS] Em 2002 Portugal ocupava a 3ª posição como maior consumidor, melhorando significativamente até 2015, ocupando a 14ª posição, ainda assim superior à média da OCDE. Estamos rapidamente a atingir a era pós-antibiótica, situação que no limite impedirá as cirurgias seguras, o tratamento das pneumonias ou até de uma simples infeção urinária.
Comemora-se, de 13 a 19 de novembro a Semana Mundial dos Antibióticos, e o Dia Europeu dos Antibióticos a 18 de novembro, que este ano completa o seu 10º aniversário. Trata-se de uma oportunidade única para repensarmos a nossa atitude perante este bem precioso.
Os produtores de animais devem usar os antibióticos apenas por indicação do médico veterinário. A prevenção da infeção faz-se com o uso de vacinas e com higiene rigorosa. Como cidadãos, devemos optar por uma cidadania responsável, não forçando os médicos para que os prescrevam ou mesmo questionando sobre a sua necessidade, já que os antibióticos não são eficazes contra gripes ou constipações.
Devemos usá-los rigorosamente como prescritos e não os deixar para situações futuras ou para partilhar com alguém. Deixo o convite para aceitar o repto do ECDC (Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças) e partilhar conteúdos, sobre utilização racional dos antibióticos, através das redes sociais (facebook: EAAD_EU; Twitter:@EAAD_EU #EAAD; ou em #KeepAntibioticsWorking). “Antibióticos: use-os com cuidado!”
*Médico
Texto escrito de acordo com a nova ortografia