Mas ainda me lembro do pontilhado de casas clandestinas espalhadas pela costa de São Pedro de Moel ou do Pai do Frangos, versão casa antiga, rés-do-chão, agarrada à terra.
Quando comecei a crescer, foi primeiramente a noite que me levou a estas praias: a discoteca Riomar na Praia da Vieira, e a Hot Rio em São Pedro de Moel.
As praias eram os vestígios do dia seguinte quando a noite se prolongava. Mas as memórias dessas manhãs não deixavam grandes glórias matinais. Um dia a vida levou-me para São Pedro de Moel.
Passei lá um dia inteiro. Depois, vários dias. Fui à praia. Conheci o famoso nevoeiro que não deixa levantar o sol antes do meio-dia. Fui apresentado aos restaurantes e cafés da terra.
Palmilhei as ruas, os empedrados, a caruma, a areia. Conheci o anfiteatro que é a construção de São Pedro. Fiz a volta dos Cinco e dos Sete. Cheguei, antes de me aburguesar, a acampar nos dois parques de campismo existentes, um virado para o mar, outro para o pinhal.
Comi os percebes arrancados às suas rochas, mas daqueles virados ao mar onde são açoitados pela fúria das águas – e não, não era eu que os ia apanhar. Cheguei a acompanhar as quatro estações e descobri a beleza que era (e ainda deve ser) São Pedro de Moel no Inverno.
[LER_MAIS] O tempo cinzento, a chuva miudinha, o barulho do mar ao fundo mas sempre muito presente, os raios a cair no horizonte em noites de temporal, os cafés e o mini-mercado que nunca fechavam para servir a meia-dúzia de pessoas que lá vivia o ano inteiro.
Gostava bastante daquele silêncio, da pouca gente, do que parecia ser um fim-do-mundo bastante agradável onde conseguia ouvir os sons dos meus passos ou da respiração mais pesada no dias de maior humidade.
Mas o que mais gostava de São Pedro de Moel era dos tremoços e das pevides que a mesma senhora, ano após ano, ali, sempre no mesmo sítio, sempre ao lado do senhor das pipocas, me servia e que, por vezes, me levava a ir de longe, de propósito, só para as ir buscar.
Não sei se a Senhora dos Tremoços ainda lá está. A vida afastou-me de São Pedro de Moel. Mas se ainda lá estiver, acredito que continuarão a ser os melhores tremoços e as melhores pevides do mundo.
* Cineasta