Apesar de continuar a ser permitido pela União Europeia (UE), o herbicida glifosato, usado na agricultura e também na limpeza dos espaços públicos, para eliminação de ervas daninhas, tem sido desaconselhado por ambientalistas, devido aos efeitos nocivos que traz ao meio- ambiente, à saúde de pessoas e animais. A própria Organização Mundial de Saúde identifica o glifosato como “provavelmente carcinogénico”.
Em vários concelhos do distrito, onde o uso deste químico tem sido substituído por técnicas ecológicas, o crescimento de ervas nos passeios e arruamentos tem sido mais rápido, para desagrado da população. Mas autarcas e ambientalistas são unânimes, o futuro passa pela eliminação de químicos e urge sensibilizar a comunidade para a inevitável mudança.
Na última reunião de Câmara da Marinha Grande, uma munícipe apelou à manutenção de uma via que, entre outros problemas, se bate com o crescimento de erva, que os próprios moradores têm vindo a cortar. Embora tenha delegado a competência de limpeza urbana às juntas de freguesia, a Câmara da Marinha Grande continua atenta ao fenómeno, conta João Brito.
O vereador explica que, num município que pugna pela sustentabilidade ambiental, [LER_MAIS]com duas juntas que são eco-freguesias, como é o caso, a utilização de glifosato entrou em desuso, para dar lugar a “produtos biológicos, mas que são menos eficazes” na eliminação das ervas daninhas. Dado que a vegetação cresce mais depressa entre as aplicações desses produtos e técnicas alternativas, a população reclama.
Para manter todos os espaços públicos sem ervas seria preciso mais mão-de-obra, que não existe, expõe o autarca. Cimentar também não é boa política. “Se alcatroarmos tudo, como se escoa a água no Inverno?”, indaga João Brito, para quem é importante sensibilizar a comunidade para a questão.
As queixas dos moradores são recorrentes também na Nazaré, reconhece Salvador Formiga, que defende campanhas para informar a população sobre os efeitos nocivos do glifosato. Neste município, tem-se optado pela monda térmica (equipamento com aspersor de água a 120º) ou monda mecânica (roçadora). Mas se a aplicação de glifosato elimina as ervas por seis ou sete meses, o efeito da monda térmica dura três, compara o vereador. Mais manutenção carece de mais mão-de-obra nas juntas, o que não se verifica.
“Neste concelho, só usamos herbicidas em zonas onde o impacto é menor, com os avisos necessários, porque pode ter efeitos nos animais domésticos”, frisa Salvador Formiga. “É importante encontrar formas alternativas para eliminar ervas daninhas e não ficar refém do caminho mais fácil”, considera.
Isabel Fonseca, presidente da União de Freguesias de Alcobaça e Vestiaria, informa que, nesta zona, a limpeza pública no perímetro urbano compete à câmara, enquanto a limpeza pública nas áreas rurais é da competência da sua junta. Nesta união de freguesias, “utilizamos glifosato o menos possível, no máximo, duas vezes por ano. Nunca infringimos nas quantidades recomendadas e anunciamos previamente a aplicação. E nas zonas mais movimentadas, preferimos fazer o corte das ervas”, conta a presidente. “A utilização de glifosato na limpeza das zonas públicas é prejudicial, assim como é na agricultura”, reconhece.
Contudo, os produtos e máquinas testadas como alternativos são demasiado caros para juntas e não são tão eficazes.
Este ano, com mais humidade de noite e sol durante o dia, cria-se um “efeito estufa ideal para o crescimento das ervas”, observa.
Quercus desaprova
Pedro Santos, da Quercus, reprova a utilização do químico, lembrando que existem técnicas alternativas, como a monda térmica. Embora esta última requeira “trabalho de continuidade”. A adopção de manta geotêxtil nalguns espaços é outra opção, recomenda.
Se a UE vai permitindo o uso de glifosato é por uma questão de pressão de grandes marcas, acredita. Quanto aos decisores políticos, “têm que ter estofo para aguentar este período de transição, sensibilizando a população e procurando alternativas junto de especialistas, como a Quercus”, sugere Pedro Santos.