PUBLICIDADE
  • A minha conta
  • Loja
  • Arquivo
  • Iniciar sessão
Carrinho / 0,00 €

Nenhum produto no carrinho.

Jornal de Leiria
PUBLICIDADE
ASSINATURA
  • Abertura
  • Entrevista
  • Sociedade
  • Saúde
  • Economia
  • Desporto
  • Viver
  • Opinião
  • Podcasts
  • Autárquicas 2025
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Abertura
  • Entrevista
  • Sociedade
  • Saúde
  • Economia
  • Desporto
  • Viver
  • Opinião
  • Podcasts
  • Autárquicas 2025
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Jornal de Leiria
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Home Entrevista

Abbas Butão: “A riqueza de Portugal é a bondade das pessoas”

Elisabete Cruz por Elisabete Cruz
Junho 26, 2025
em Entrevista
0
Abbas Butão: “A riqueza de Portugal é a bondade das pessoas”
0
PARTILHAS
0
VISUALIZAÇÕES
Share on FacebookShare on Twitter

Como está integrada a comunidade muçulmana em Leiria?
Estou cá desde 2012 e nunca tivemos algum incidente ou acidente entre nós e os não-muçulmanos ou com vizinhos. Também não me lembro de algum incidente dos muçulmanos a invadir uma igreja ou um cristão pela sua religião. Este é um país laico, onde há liberdade de expressão e religiosa. Nenhuma religião é expulsa neste País. Em Leiria, nunca me senti estrangeiro. Às vezes, faço trabalho de intérprete no tribunal, na Polícia Judiciária ou na PSP. Chamam-me e eu vou. Sinto-me à vontade e livre em qualquer lugar e a comunidade que está cá sente o mesmo.

Qual é o papel do imã?
É importante, porque não há rebanho sem pastor. O imã tem de conduzir a sua comunidade na base teórica dos ensinamentos do Islão, do Alcorão, das tradições e dos nossos sagrados profetas Muhammad, salallahu alaihi salam. Este é o foco do imã para poder exortar a todos e conduzi-los para o que está correcto. Quando se falou muito sobre o terrorismo, por exemplo, o nosso foco era conduzir a nossa comunidade para ler mais o Alcorão e todos os ensinamentos, para que os muçulmanos não pratiquem este tipo de fenómeno.

O Alcorão não defende o terrorismo.
O Alcorão diz que quem mata uma pessoa, propositadamente, é comparado a matar toda a gente do mundo. Imagine-se o peso. Uma vez estava a passar de carro e um pombo chocou com o veículo. Parei e afastei-o, pois não podia fazer mais nada. Mas, não consegui dormir toda a noite a pensar no pombo. Agora, imagine-se matar alguém e toda a gente do mundo. Qual o peso que pode ter? Por isso, não é algo que o Islão incentiva ou ensina. Essas atitudes não têm nada a ver com o Islão. São actos por causa de ódio, vingança pessoal ou de alguma coisa qualquer.

Como é que os muçulmanos se integram na comunidade sem perder a sua identidade?
Chama-se sociedade porque estamos por baixo do mesmo tecto, que é o céu. Temos de aceitar as diferenças entre nós e isto também indica o poder de Deus, que traz pessoas diferentes, animais diferentes, plantas diferentes, frutas diferentes e até pedras diferentes. O poder de Deus não indica para o orgulho. Da mesma maneira, que vacas de cores diferentes comem juntas do mesmo capim, ninguém luta, ninguém empurra o outro. Esse é também o ensinamento que Deus transmite aos seres humanos. É o respeito de saber que estamos numa sociedade, onde existem vários tipos de pessoas e várias religiões e temos de nos respeitar, cada um com o seu foco.

A chegada de muçulmanos do oriente trouxe maior desconfiança às pessoas?
As pessoas é que podem responder a isso, pois não sei exactamente o que pensam de nós. Mas, acredito que as pessoas têm aquela mentalidade das guerras contra os muçulmanos e pensam que os muçulmanos são terroristas e que matam. Mas veja-se a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, estão a matar-se e ninguém os apelida de terroristas. A guerra entre Israel e o Irão está a acontecer e não tem nada a ver com religião. Guerra é guerra. Pôr na lista que todos os muçulmanos são desta forma, não é bom. Aliás, eu costumo dizer que há pessoas que têm medo de serem muçulmanas. Mas se todos fossem muçulmanos haveria menos crimes e menos problemas. A situação iria melhorar e não piorar. Não conheço nenhuma religião que incentive a guerra. Religião é paz, não é guerra. Guerra é matar e matar é pecado.

Há muita desinformação?
Existe informação falsa, que está a ser manipulada nas redes sociais contra os muçulmanos. Mas, quem consegue meditar e ver que tem vizinhos que são muçulmanos há anos e que nunca fizeram mal percebe que o que se diz não é verdade. Por exemplo, as pessoas falam que a aglomeração dos muçulmanos é uma ameaça. Que tipo de ameaça pode existir quando os cristãos ou quando os religiosos se juntam para celebrar a sua própria festa? Nunca foi crime juntar-se para orar a Deus. Portanto, costumamos ignorar o que dizem e focamos-nos naquilo que somos.

Portugal é um país racista?
Reafirmo, desde que estou cá, nunca me senti estrangeiro. Já vivi na África do Sul e tinha de andar a toda a hora com o passaporte, porque a qualquer momento, a polícia podia chegar e pedir para me identificar. Lá sente-se racismo e xenofobia até das autoridades. Aqui nunca acontece este tipo de acção. Eu ando vestido com as minhas batas e nunca senti racismo. Mas quando vamos às redes sociais, ou nestas últimas semanas, antes e depois das eleições, percebemos que há racismo, só que estava congelado e agora está a descongelar. Mas isto não é com todos. São só alguns.

O facto de as mulheres continuarem a usar véu em Portugal, pode prejudicar a sua integração?
Usar véu, usar calças, usar mini-saia, usar legging, isto é roupa. Acho que Portugal não tem lei de roupa. Falando dos alunos, cada um usa aquilo que pretende. Em França foi proibido o uso do hijab nas escolas. Estamos a falar de Portugal. Em Portugal não conheço nenhuma lei específica de roupa. Existe o uso das sete saias na Nazaré, que faz parte da sua cultura, mas não é lei. Não somos obrigados a usar sete saias. Cada um está livre de se vestir como se sente confortável. Quando uma mulher muçulmana usa hijab, ela sente-se confortável com aquela roupa. A roupa nunca ameaçou ninguém. O que ameaça é arma. Não conheço ninguém que se tenha prejudicado por causa de roupa.

Mas na cultura muçulmana, a mulher tem de usar o hijab?
É ordem por parte do Alcorão que uma muçulmana tem de tapar o seu corpo. Só pode mostrar o corpo para o seu marido. Se ela mostrar o seu corpo, então significa que tem de considerar todos os homens que se cruzam com ela para serem seus maridos. Na mesquita há um espaço para as mulheres e outro para os homens. Nos dias de hoje, não deveria haver uma maior integração ou a cultura muçulmana mantém o papel mais submisso da mulher? Quando tratamos de oração, estamos a falar de uma acção específica, que requer muita concentração e muito foco ao Deus. Precisamos de cortar com tudo naquele momento, das dívidas, das facturas, dos problemas… para nos concentrarmos Nele. Portanto, não podemos ter alguma coisa que nos possa desconcentrar. A mulher tem sangue muito quente e quando se aproxima de um homem chama a atenção. O homem fica desconcentrado e perde-se o foco. Não sei se as mulheres sentem assim quando estão sentadas perto dos homens. Por isso, as senhoras ficam concentradas na sua área e os homens na sua parte.

A mulher muçulmana já tem permissão para trabalhar?
Quando alguém casa, uma das condições é a de o homem ter capacidade para alimentar, vestir e dar onde descansar à filha do dono que ele está a levar. Da mesma forma que a responsabilidade dos filhos está sob o pai. Então, o pai é que deve lutar para sustentar e cuidar de tudo. Mas a situação, hoje em dia, é diferente. A pessoa, às vezes, pode esforçar-se, trabalhar, mas recebe o ordenado mínimo e, em Portugal, já não dá para pagar a casa, cujos preços aumentaram de forma espectacular. Chegou uma fase em que já se pode deixar a mulher procurar algum trabalho, mas, de acordo com as normas. Ela deve ser responsável pelas suas acções e saber o que é que está a fazer.

Mas a mulher pode trabalhar mesmo que não precise?
Ou tem de fazer o que o marido manda? Algumas coisas já perderam força. Antigamente, não era permitido desta forma. Mas, por causa das condições financeiras algumas coisas quebraram. A mulher não pode viajar sozinha. Mas, se são três ou quatro em casa, tem de comprar bilhete para todos. Como é que vamos conseguir pagar esses bilhetes? Às vezes, não é por permissão, mas temos de deslizar pelas condicionantes.

A Igreja Católica tem perdido fiéis. O islamismo continua a atrair jovens?
O crescimento do Islão está a assustar quase todo o mundo. Quando fui visitar os meus pais [Moçambique], em 2015, lembro-me muito bem que encontrei a mesquita cheia. Algumas pessoas até ficaram na varanda. E encontrei também alguns responsáveis de uma igreja católica que abraçaram o Islão. Ficaram muçulmanos e a igreja já não existe. O crescimento do Islão é em todo lado. Como costumo dizer, o Islão é uma religião, não uma região. Por isso, quando há pessoas que dizem, ‘voltem para a vossa terra’, onde está a terra do Islão? Não existe. O muçulmano pode ser português e o português pode ser muçulmano, assim como americanos ou europeus. O Islão está aberto para todos.

Qualquer pessoa pode vir assistir a uma sessão na mesquita?
Pode assistir. Lembro-me de um vizinho que veio cá numa sexta-feira e participou até quando quis.

Convivem com um seminário católico e têm também a poucos metros uma igreja mórmon. Como é a relação entre todos?
Falando do diálogo inter-religioso, antes do coronavírus, quando o senhor Joaquim era o presidente da Cáritas vinha visitar-me todas as sextas-feiras e juntávamos com quase todos os padres [diferentes religiões] de Leiria uma vez por mês. Encontravamo-nos em diferentes lugares, como na igreja evangélica, adventista, na mesquita… Conversávamos todos. Deixou de acontecer com o coronavírus, mas espero que haja oportunidade de se reviver outra vez. Quanto aos nossos vizinhos, nunca os visitei, mas já pensei em fazê-lo. Só não sei como iniciar. Vou voltar a contactar o senhor Joaquim, que foi o meu protocolo, porque foi muito bom esse diálogo inter-religioso. Até agora, quando me cruzo com os padres paramos para nos cumprimentar. Criámos uma familiaridade. Nunca nos sentimos mal por estarmos aqui nem que alguém pense que os vamos matar.

É importante esse diálogo entre as religiões?
O diálogo é sempre importante em todas as áreas, na religião, nas guerras. Às vezes criam-se guerras e depois mais tarde dizem: ‘vamos fazer diálogo’. Deveriam dialogar antes de fazer a guerra. Esse diálogo é importante, porque os fiéis conseguem perceber que não temos problemas com eles. Se todos perceberem que os pais são amigos e o amigo não faz mal a outro amigo, os filhos respeitam-se.

Esse é um diálogo também importante nas escolas.
Tenho quatro filhos e todos começaram a estudar cá. Dois nasceram em Moçambique, mas vieram muito pequenos. Desde o jardim-de-infância que nenhum chegou com uma queixa a dizer pai chamaram-me de preto ou negro. Nunca. Isto é o orgulho de Portugal. A riqueza de Portugal não é o dinheiro. O dinheiro não existe aqui. A riqueza de Portugal são as pessoas, a bondade das pessoas. Esta riqueza não se pode destruir. Se Portugal destruir essa riqueza acabou.

A riqueza de um país é também esta multiculturalidade?
Essa riqueza é importante e deveria ser mantida. E isso tudo tem a ver com o diálogo. Quando não há diálogo inter-religioso, não sabemos em que é que os cristãos acreditam e os cristãos não sabem no que acreditam os muçulmanos. Automaticamente cada um começa a imaginar e a criar um grande texto na cabeça, que não tem nada a ver com a realidade. Quando há diálogo, percebemos a cultura do outro e respeitamos-nos. Não concordo que ao chegarmos aqui tivéssemos de mudar para a cultura do local. Se na Nazaré usam as sete saias, teríamos de as usar. É preciso respeitar o que cada cultura tem, mantê-la como está e não criar ódio e inveja.

Etiquetas: Abbas Botãoentrevistaimã muçulmanomesquitasociedadeterrorismo
Previous Post

Nascentes volta ao lugar especial onde nasce o rio e morre o medo

Próxima publicação

Estudante Daniel Pinto representa Marinha Grande em Hong Kong

Próxima publicação
Estudante Daniel Pinto representa Marinha Grande em Hong Kong

Estudante Daniel Pinto representa Marinha Grande em Hong Kong

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

  • Empresa
  • Ficha Técnica
  • Contactos
  • Espaço do Leitor
  • Cartas ao director
  • Sugestões
  • Loja
  • Política de Privacidade
  • Termos & Condições
  • Livro de Reclamações

© 2025 Jornal de Leiria - by WORKMIND.

Bem-vindo de volta!

Aceder à sua conta abaixo

Esqueceu-se da palavra-passe?

Recuperar a sua palavra-passe

Introduza o seu nome de utilizador ou endereço de e-mail para redefinir a sua palavra-passe.

Iniciar sessão
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Opinião
  • Sociedade
  • Viver
  • Economia
  • Desporto
  • Autárquicas 2025
  • Saúde
  • Abertura
  • Entrevista

© 2025 Jornal de Leiria - by WORKMIND.