Em 22 anos, muita coisa mudou. Hoje, há condições para fazer um festival de teatro com uma dimensão totalmente diferente do que era então. Mas, este ano, a mudança é mais “radical”.
Nesta 22.ª edição do Acaso Festival de Teatro, a organização optou por trabalhar com outro tipo de grupos e de projectos, afirma Pedro Oliveira, actor e encenador da companhia O Nariz, que organiza o evento.
Será “um teatro mais duro e em que o acto de representação do actor é mais intenso”. Os temas abordados serão os mais diversos. Sempre com um objectivo: mudar mentalidades. “Nem que seja a nossa. Se conseguirmos mudar a nossa também conseguimos mudar a de alguém. Nem que seja só mais um”, sublinha Pedro Oliveira.
Racismo, violência, migração ou censura – “que continua a existir” – são apenas alguns dos temas retratados nos diversos espectáculos proporcionados pelo Acaso, que mostram as “realidades contemporâneas”.
Além disso, o Acaso quer apresentar projectos que, de outra forma, o público não teria oportunidade de assistir na cidade. É essa a “espinha dorsal” do festival. E é por isso que se torna tão difícil destacar algum, considera Pedro Oliveira.
Ainda assim, O Cravo Espanhol, Cinderella, Cândida ou o Pessimismo, Leôncio & Lena, Estrangeiras e Pedro e o Capitão são, para o responsável, os destaques da programação, não só pelo que transmitem as peças – dada a intensidade dos textos e das representações – como também pelos actores que as interpretam.
Cucha Carvalheiro, Maria João Luís, Ângela Pinto, Sylvie Dias, Ivo Canelas e Pedro Gil são alguns dos principais nomes que marcam presença no Acaso.
Com texto de Romeu Correia e encenação de Maria João Luís, O Cravo Espanhol, pela companhia Teatro da Terra, sobe ao palco do Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, a 30 de Setembro. Ângela Pinto, Gonçalo Ferreira e Sylvie Dias levam a Cinderella ao Auditório Municipal da Batalha, um espectáculo dirigido a crianças a partir dos 3 anos. Cândida ou o Pessimismo é um monólogo, com texto e interpretação de Cucha Carvalheiro. Uma “comédia amarga” que se apresenta no Teatro Miguel Franco, em Leiria.
O Teatro Stephens, na Marinha Grande, recebe Leôncio & Lena, interpretado por André Nunes, Carlos Malvarez e Joana Ribeiro Santos e Estrangeiras, pelas actrizes Ângela Pinto e Sylvie Dias, a partir do texto Os Emigrantes, de Slawomir Mrozek.
No penúltimo dia do festival, Ivo Canelas e Pedro Gil interpretam Pedro e o Capitão, que tem como mote o texto de Mário Benedetti, escritor emblemático da literatura da América Latina.
Diversas dinâmicas
[LER_MAIS] O Acaso é essencialmente teatro. No entanto, não fecha a porta a outras artes. Este ano, entre os 19 espectáculos dinamizados, há também a apresentação de um livro, uma exposição e lançamento de álbuns de música.
Além de Lullaby de Rui Paixão e da sessão de contos de Jorge Serafim, que já marcaram presença noutras edições, todos os espectáculos se apresentam neste festival pela primeira vez.
O lançamento do livro de textos de teatro de Luís Mourão e Constantino Mendes Alves, com ilustrações de Rui Pedro Lourenço, marca o primeiro dia do Acaso, no Teatro Miguel Franco. Os textos têm sido apresentados no Mosteiro da Batalha, no Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota e no Castelo de Ourém.
Faz também parte da programação uma exposição temporária de isqueiros roubados, uma ideia de António Cova no espaço O Nariz – Recreio dos Artistas, em Leiria. Também neste espaço serão apresentados os mais recentes trabalhos musicais de Surma, de El Roupe e de Knok Knok.
O festival marca presença em diversas cidades e localidades: Leiria, Batalha, Marinha Grande, Pedrógão Grande, Santa Eufémia (Leiria), Fátima (Ourém) e Pisões (Pataias, Alcobaça). “Sempre tentámos ir a vários sítios, para apanhar públicos, realidades e situações diferentes.”
Já nos primórdios do Acaso, quando não existiam as condições técnicas de hoje, se tentava dinamizar os espaços, de forma a não centralizar o festival numa só sala, lembra o responsável.
Em Pedrógão Grande, existe um cariz solidário. Devido aos incêndios que assolaram o Norte do distrito no mês de Junho, a autarquia não terá gastos com a presença do Acaso no concelho. Durante um dia inteiro, vários contadores deslocam-se às escolas do 1.º ciclo para contar histórias. “Somos actores e contadores de histórias e vamos fazer o nosso trabalho que é aquilo que sabemos fazer melhor. E aqueles miúdos também devem precisar de ouvir umas histórias.”
“Sem teatro ficamos pobres e sem identidade”
Maria João Luís é uma das fundadoras da companhia Teatro da Terra, de Ponte de Sor, Portalegre. Apesar de ser em Lisboa e no Porto que o teatro tem maior visibilidade, para a actriz é fundamental que o teatro continue vivo fora dos grandes centros urbanos, “embora as dificuldades sejam muitas”, afirma a actriz ao JORNAL DE LEIRIA.
Todo o trabalho é feito com “muito sangue, suor e lágrimas” mas que, por vezes, não é reconhecido pelo público. Apesar de, actualmente, já se começar a aceitar o teatro de outra forma, adianta Maria João Luís, “a grande maioria das pessoas ainda acha que isto não é uma profissão” e não tem “noção” do esforço e das dificuldades que se enfrentam. Mas, afirma, o teatro é fundamental. “Sem teatro ficamos pobres e sem identidade. É muito importante que se faça, que se continue a fazer e que se lute por mais apoios para se poder continuar a fazer.”
Em 2016, a companhia Teatro da Terra produziu a peça O Cravo Espanhol, que sobe ao palco do Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, no dia 30 de Setembro pelas 21:30 horas. É uma “trágicomédia” neo-realista de Romeu Correia, que aborda temas diversos, como a luta das classes. A peça conta a história de um homem que quer muito ser toureiro mas que tem fobia a touros. “É um espectáculo muito divertido”, salienta Maria João Luís.
28 de Setembro
Leiria, 21:30 horas, Teatro Miguel Franco
Lançamento do livro de textos de teatro de Luís Mourão e Constantino Mendes Alves, com ilustrações de Rui Pedro Lourenço. Durante a apresentação, o elenco irá fazer leituras dos vários textos, acompanhados com projecção de imagens.
29 de Setembro
Batalha, 21:30 horas, Auditório Municipal
Lullaby, de Pedro Paixão. Um espectáculo criado e interpretado por Pedro Paixão, com música e sonoplastia de Carlos Reis.
30 de Setembro
Leiria, 21:30 horas, Teatro José Lúcio da Silva
O Cravo Espanhol. Uma produção do Teatro da Terra, com texto de Romeu Correia e encenação de Maria João Luís, na qual o neo-realismo é ponto de partida para uma peça de teatro bem humorada e que faz pensar.
4 de Outubro
Leiria, 22 horas, O Nariz
Exposição temporária de isqueiros roubados. Durante a apresentação, os visitantes poderão assistir a relatos de indivíduos aos quais já foram roubados isqueiros e de indivíduos que mergulharam no terrível mundo do roubo organizado de isqueiros de bolso.
6 de Outubro
Leiria, 22 horas, O Nariz
Lançamento do álbum 14.000 dias entre Terra e Marte de mARCIANO. De forma emotiva e profunda, mARCIANO invoca os sentimentos mais viscerais do ser humano tal como o amor, o medo, o desosto, a solidão, a felicidade, entre outros. O espectáculo ao vivo conta com Miguel Cervini e Duarte Cabaça, elementos de Balla.
7 de Outubro
Fátima, 21:30 horas, Sede do Diónis – Centro Comercial Fatimae
Sessão de contos e apresentação do livro O afinador de memórias de Jorge Serafim.
8 de Outubro
Batalha, 16 horas, Auditório Municipal
Cinderella. Com texto de Paulo Oom e Hélder Gamboa, a partir do conto de Charles Perrault, e interpretação dos actores Ângela Pinto, Gonçalo Ferreira e Sylvie Dias, a Tenda Produções traz o tradicional conto de A Gata Borralheira, revisitado numa nova versão mágica para toda a família.
12 de Outubro
Leiria, 21:30 horas, Teatro Miguel Franco
Cândida ou o Pessimismo. Uma comédia amarga, com texto e interpretação de Cucha Carvalheiro e encenação de Fernanda Lapa.
13 de Outubro
Marinha Grande, 21:30 horas, Casa da Cultura – Teatro Stephens
Leôncio & Lena. André Nunes, Carlos Malvarez e Joana Ribeiro Santos interpretam o texto de João de Brito, a partir de Georg Büchner, que retrata os dois reinos que dividem o Algarve: Barlavento e Sotavento.
14 de Outubro
Leiria, 16 horas, Teatro Miguel Franco
Teatro de marionetas para crianças e adultos. Pedro del Castillo apresenta uma história divertida de amor absurdo e hilariante.
15 de Outubro
Leiria, tarde e noite, O Nariz
Lançamento do álbum Antwerpen de Surma.
16 de Outubro
Pedrógão Grande, manhã e tarde, escolas do 1.º Ciclo
Contos do nascer ao pôr-do-sol. Sessão de contos tradicionais universais, adágios, trava-línguas e lengalengas da língua portuguesa.
19 de Outubro
Leiria, 22 horas, O Nariz
O voo das aves. Com encenação de Pedro Oliveira, António Cova e David Ramy interpretam um espectáculo que está ainda em produção. Uma leitura encenada que dá conta do momento e do estado em que o processo criativo se encontra.
20 de Outubro
Leiria, 22 horas, O Nariz
Lançamento do álbum Suite 3,14 de El Rupe. Com Samuel Coelho na guitarra, Rui Sousa nas teclas e sintetizadores e Pedro Oliveira na bateria.
21 de Outubro
Leiria, 22 horas, O Nariz
Leitura pública da peça Libelinhas. Da autoria de Paulo Kellerman e encenação de Pedro Oliveira, Libelinhas retrata um grupo de amigos que se reúne com o intuito de ajudar refugiados, mas que se embrenham nos seus problemas e as boas intenções vão-se revelando inconsequentes.
22 de Outubro
Pisões, 17 horas, antiga pré-primária
Contos ao pôr-do-sol. Sessão de música e contadores de histórias, tradicionais ou de autor, ao pôr-do-sol.
27 de Outubro
Marinha Grande, 21:30 horas, Casa da Cultura – Teatro Stephens
Estrangeiras. A partir do texto de Slawomir Mrozek, o clássico da dramaturgia mundial Os Emigrantes é interpretado, numa nova abordagem, por Ângela Pinto e Sylvie Dias.
28 de Outubro
Leiria, 21:30 horas, Teatro Miguel Franco
Pedro e o Capitão. Um texto de Mário Benedetti, interpretado por Ivo Canelas e Pedro Gil, este é um espectáculo que pretende explorar os limites da comunicação cénica através das ferramentas do teatro e do cinema.
31 de Outubro
Leiria, 22 horas, O Nariz
Apresentação de Knok Knok. Armando Teixeira e Duarte Cabaça, dos Balla, apresentam o novo projecto. O Acaso encerra com o primeiro concerto de Knok Knok, um trabalho homónimo que foi editado em Julho numa edição limitada de 100 cassetes.