O acordo de tarifas entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos(EUA) está a ser severamente criticado, embora haja o reconhecimento que, para já, o documento evita uma guerra comercial e pode trazer alguma previsibilidade.
As tarifas impostas e as exigências injustificadas à UE são vistas como prejudiciais para a economia portuguesa, especialmente para os seus sectores exportadores, e para o poder de compra dos consumidores.
Lamenta-se o aumento de custos para empresas e consumidores, embora o acordo fixe as tarifas em 15% para produtos europeus vendidos nos EUA, quando Donald Trump ameaçava 30%, esta percentagem ainda é considerada elevada.
Isto significa que os produtos europeus exportados para os EUA ficarão mais caros, com uma consequente diminuição das vendas para as empresas portuguesas.
Tal, levará a um impacto negativonas exportações para aquele que é o nosso quarto maior mercado global e o primeiro não europeu, representando cerca de 8% do total das exportações em 2024,para áreas como têxteis, calçado, cortiça, mobiliário, vinhos, vidro, cerâmica e cimento.
Acordo é “sinal de tempos estranhos”
“Tudo o que são taxas tem como efeito destruir a capacidade competitiva dos países. Este aumento de taxas é mais uma dificuldade acrescida para a economia e indústria portuguesas e europeias”, entende Rui Tocha.
O director-geral do Centimfe -Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos adianta que, neste contexto,o acordo assinado no fim-de-semana entre a UE e os EUA “não é positivo”, mas um sinal de“tempos estranhos e desafiantes que exigem muita ponderação e diplomacia”.
Fazendo um exercício de predição do futuro, a conclusão, acredita, é que existe um alto grau de probabilidades de vir a trazer efeitos nefastos para o tecido económico nacional e europeu e para todos os cidadãos.
“Além de promover o desvio das actividades comerciais para outras paragens com uma previsão de contextos mais estranhos de acompanhar.”
Sem ilusões, o responsável afirma que serão os cidadãos a “sofrer com o desnorte dos políticos, a ausência de visão, de estratégia e de orientação”, durante mais “um ciclo de manobras pouco previsíveis”, que prejudicam quem investe ou planeia fazê-lo.
Os impactos, a nível dos negócios ,poderão traduzir-se em retaliações comerciais e subidas das taxas de juro, num processo que Rui Tocha entende que irá obrigar o tecido empresarial a pensar em formas alternativas de produzir e escoar produtos.
“As tarifas agora acordadas são como uma forma de IVA, aplicada em cima dos bens, sem que haja uma razão justificável, que não seja uma visão sectária do mundo. Tudo isto irá criar mais dificuldades aos jovens e novos empreendedores que queiram criar novos negócios”, diz, prevendo mais cedo ou mais tarde, uma contracção geral na economia.
“Após a subida dos preços, mesmo após um regresso às taxas anteriores, dificilmente os valores voltarão a baixar. Haverá um aumento da inflação”, conclui, lamentando que este cenário tenha sido provocado, precisamente, quando a indústria estava a corrigir os seus problemas, através da abertura de novos caminhos.
Quanto a impactos na indústria dos moldes, uma das mais importantes na região, os EUA são um “mercado potencial, mas não efectivo há anos”.
“Não têm já o peso que tiveram há muito tempo.”
Sector das peças para automóvel aguarda informação
“Temos expectativa relativamente ao relatório final, uma vez que ainda não conhecemos a totalidade dos dados constantes no acordo entre a UE e os EUA”, entende José Couto, presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel.
Cauteloso, o empresário acredita que, apesar de tudo, este acordo era importante para “estabilizar o cenário e reduzir as incertezas” criadas pelo cenário de imposição de taxas aduaneiras decididas pela administração de Donald Trump.
“Ainda não sabemos se os 15% anunciados serão aplicados a todo o sector automóvel e se a área dos componentes também constará do documento ouse aplicarão taxas apenas às marcas europeias de construtores. Vamos esperar para ver.”
Rui Tocha, por seu turno, defende que este é um momento crucial para a Europa se tornar mais unida do que nunca, formando um bloco coeso de vontades, com metas bem definidas em estratégias lúcidas e directas.
Acabado de regressar de Singapura e Dubai, teme que a Europa esteja a ficar para trás, perante estas economias emergentes, mas também relativamente ao Vietname e Tailândia.
“Temos de nos fortalecer e de ser mais unidos. Temos de perceber se queremos ser um espaço político com força, capaz de se edificar em ritmo acelerado”, resume.