“A luta por igualdade, liberdade, justiça e bem-estar colectivo está intrinsecamente ligada à luta por justiça climática e ambiental”. A convicção é de Daniela Subtil, activista natural de Vimeiro, Alcobaça, que, a partir da Alemanha, exerce funções de coordenação na Stay Grounded, uma rede de campanhas pela redução do tráfego aéreo, cujo percurso o JORNAL DE LEIRIA foi conhecer a propósito de mais uma conferência pelo clima, que terminou, esta terça-feira.
Formada em Línguas e Relações Internacionais, Daniela Subtil vive na Alemanha desde 2017, onde ajuda a coordenar organizações do Sul Global (termo também usado para países em desenvolvimento e sub-desenvolvidos) que lutam pela redução do tráfego aéreo, sob o chapéu da Stay Grounded, uma rede global, constituída por cerca 160 instituições-membro que promovem alternativas à aviação para enfrentar as mudanças climáticas.
“A Stay Grounded tem como objectivo a redução drástica da aviação e a criação de um sistema de transporte justo” e “sustentável dos pontos de vista ambiental e climático”, explica Daniela Subtil, que é “coordenadora de rede”, com foco nas organizações do Sul Global. É ela que trata da adesão de novas organizações-membro à rede e que cuida dos processos de “tomada de decisão colectiva”.
A activista responde ainda às necessidades das organizações que fazem parte da Stay Grounded, através, por exemplo, da promoção de webinars, palestras e acções de protesto ou da criação de materiais informativos. O objetivo da rede “é fomentar a troca de experiências, o apoio mútuo e a campanha conjunta para a redução da aviação e dos seus impactos negativos”, acrescenta Daniela Subtil, que justifica o foco no tráfego aéreo por este meio de transporte ser o “pináculo da injustiça climática”.
Além de ser “o mais poluente e o mais difícil – se não impossível – de descarbonizar, o transporte aéreo serve uma minoria e metade das emissões da aviação podem ser atribuídas apenas a 1% da população” global. “O resto da Humanidade, além de contribuir com os seus impostos para a construção de aeroportos que nunca usará, fica apenas com os impactos devastadores da crise climática, para a qual a aviação contribui”, alega.
Parar mina de carvão na Alemanha
Daniela Subtil despertou para o activismo durante o tempo de faculdade, com o envolvimento em grupos e movimentos sociais, focados, sobretudo, em questões de direitos humanos e justiça social. Mas, à medida que tomou consciência da “devastação ecológica e climática que enfrentamos”, foi percebendo que a luta pela igualdade e bem-estar colectivo está intimamente ligada às questões ambientais, tornando-se “militante pela justiça ambiental”.
É nesse contexto que surge o seu segundo mestrado em Gestão Sustentável de Recursos, que a levou à Universidade Técnica de Munique (Alemanha), onde acabou por se ligar à Stay Grounded. Em Portugal, já tinha trabalhado em várias organizações não governamentais, como a Amnistia Internacional e a TESE – Associação para o Desenvolvimento.
Entre as acções em que participou como activista, Daniela Subtil destaca a ocupação e interrupção da actividade da maior mina de carvão da Alemanha, juntamente com duas mil pessoas.
“Seguramente que está entre os momentos mais empoderadores da minha militância política”, assume, referindo ainda a participação na manifestação “Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!”, em 2012. Mas, frisa, o que mais valoriza é o processo de “construção de poder colectivo”, por ser “mais transformador.