Do ponto de vista da Macroeconomia (ou seja, do todo da actividade económica), um país vive acima das suas possibilidades quando o valor da produção é inferior à procura interna realizada. Isto é, quando, com os recursos que temos, consumimos mais do que produzimos.
Uma das ópticas de apuramento do PIB é a da despesa. Ou seja, PIB = Consumo Privado (C) + Consumo Público (G) + Investimento (I) + Exportações (X) – Importações (M) A Procura Interna (PI) é a soma de C + G + I. Portanto, PIB = PI + X – M. No entanto, X – M expressa o saldo na Balança de Bens e Serviços, ou seja, a balança comercial do país com o resto do mundo.
Nesse sentido, o sistema de Contas Nacionais diz-nos que: Se o valor do PIB for menor do que o da PI, X será menor que M, e teremos um saldo negativo com o exterior em termos de comércio internacional.
Ou seja, em larga medida, se PIB < PI, o país está a consumir mais do que está a produzir e, por isso, está a viver acima das suas possibilidades e a criar
um défice externo.
PIB Óptica da Despesa, em milhares de euros
|
PIB |
Procura Interna |
X – M |
2000-2010 |
154.125 |
167.308 |
– 13.183 |
2011-2014 |
171.000 |
172.776 |
– 1.776 |
Fonte: Pordata e INE
[LER_MAIS] A primeira década do século XXI, e que coincide com a entrada de Portugal no euro, revela claramente o quanto o país esteve a viver acima das suas possibilidades. No período 2000-2010, o país criou rendimentos, em média, de 154.125 milhões de euros e consumiu 163.308 milhões. Ou seja, teve um saldo negativo com o resto do mundo de 13 mil milhões.
Ora, no período da intervenção troika, a orientação da política macroeconómica foi para o reequilíbrio das contas públicas (défice) e a diminuição da procura interna (corte nos salários e redução da despesa pública). Durante a troika, houve um esforço (brutal) de ajustamento entre o que temos e o que podemos comprar. O fosso entre o PIB e a PI caiu de 13 para 1,8 mil milhões de euros.
De acordo com o INE (Setembro, 2017), no ano passado, a PI foi superior ao PIB no valor de 4 mil milhões de euros. Ou seja, tudo aponta para que o país esteja a regressar ao seu modelo anterior de viver acima das possibilidades.
Segundo o Banco de Portugal (Outubro, 2017), em Dezembro de 2015, o empréstimo ao consumo cresceu 1,9% ao passo que este ano cresceu 9,5%. Até Setembro deste ano, o crédito concedido às famílias foi de 25 mil (excepto habitação) representa 21% do PIB, e o volume de crédito vencido (malparado) é de 5 mil milhões de euros.
Portanto, a resposta é inequívoca. Uns mais que outros, mas vivemos todos acima das nossas possibilidades. E, mais dia ou menos dia, o modelo colapsa.
Docente do IPLeiria