Decorreu sexta-feira, no Panorama Multiusos de Alcobaça, o III Congresso Portugal Fresh, um dos mais importantes eventos dedicados ao sector agroalimentar. A iniciativa contou com a presença do ministro da Agricultura e das Pescas, José Manuel Fernandes, que ouviu as principais preocupações do sector, transmitidas pelo presidente da Associação para a Promoção das Frutas, Legumes e Flores de Portugal (Portugal Fresh).
“O principal importador da produção do sector das frutas e legumes é a União Europeia, representando 81% das exportações em valor”, realçava Gonçalo Santos Andrade. “Porém, a nossa produtividade continua bastante reduzida em comparação com outros grandes mercados. Temos condições para aumentar os nossos índices de produtividade, mas, em contrapartida, ainda temos uma área de regadio muito reduzida”, lamentava o presidente da Portugal Fresh.
“No contexto do Oeste, estamos a travar uma luta contra o fogo bacteriano, que tem afectado seriamente [LER_MAIS]a produção da Pera Rocha, uma das marcas agrícolas mais importantes desta região e de todo o País. Para podermos enfrentar todas estas adversidades contamos com o apoio total do Governo, nomeadamente, através do acesso a financiamento mais eficiente e mais rápido.”
O ministro da Agricultura reconheceu “a lentidão burocrática que afecta os procedimentos concursais para o financiamento comunitário. Porém, um dos grandes objectivos do actual Governo é não perder um único cêntimo dos fundos comunitários disponíveis para a agricultura. É fundamental tornar as candidaturas mais simples e estamos a trabalhar nesse sentido.”
Até porque é necessário aumentar o rendimento e renovar as gerações. A média de idades dos agricultores em Portugal é de 64 anos e na União Europeia é de 58, informou. Nesse sentido, anunciou que será reforçado o apoio na formação, em particular a escolas profissionais.
Relativamente ao fogo bacteriano, José Manuel Fernandes considerou que “é um problema que carece sobretudo de investigação científica e tem havido alguns avanços nesse sentido”. “Os números apontam claramente para um aumento global da produtividade agrícola em Portugal, mas para sermos verdadeiramente competitivos estamos a estudar várias soluções para aumentar a disponibilidade de água nas nossas zonas de regadio”, considerou ainda.
“A agricultura portuguesa está na moda e Alcobaça tem uma palavra a dizer neste contexto de crescimento deste sector que tanto nos diz”, frisava Hermínio Rodrigues, presidente do município anfitrião. “A Maçã de Alcobaça é hoje uma marca identitária do nosso território, marca essa em permanente construção e evolução há quase 30 anos. Goza hoje de uma distinção e estatuto que poucos produtos agrícolas conquistaram em Portugal. Exporta 15% da sua produção, o que representa sensivelmente 10 milhões de quilos, destinados maioritariamente ao Brasil, Espanha e mercados árabes. Em média, a Maçã de Alcobaça factura 60 milhões de euros anuais numa produção de 60 milhões de quilos”, sublinhava o autarca.
“Outra das grandes marcas da nossa fruticultura é a Pera Rocha do Oeste, com uma produção total de cerca de 115 mil toneladas, sendo que 60% é para exportação. Em 2023, as exportações geraram receitas anuais na ordem dos 85 milhões de euros. Os seus principais destinos de exportação são Brasil, Europa e Marrocos”, acrescentava.
Campus de investigação na agricultura é uma realidade
Após o III Congresso Portugal Fresh, o Panorama também acolheu a VI Gala Viva Frutas e Legumes de Portugal. O presidente de Câmara de Alcobaça mostrou-se satisfeito com o trajecto de modernização da agricultura para o qual tem contribuído o seu concelho. Elogiou que o Centro Operativo Tecnológico Hortofrutícola Nacional tenha sede em Alcobaça. Valorizou que no ano passado tenha sido lançado um hub, um consórcio que envolve autarquia, Escola Profissional de Agricultura, Desenvolvimento Rural de Cister, Instituto Politécnico de Santarém, Universidade de Coimbra e Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, que visa juntar academia, investigação e formação. Recordou ainda que no presente ano lectivo, Alcobaça teve a primeira turma de curso TeSP em Produção Integrada de Hortofrutícolas, inaugurando, no próximo, um TeSP de Inovação Gastronómica. “O Campus de Investigação e Experimentação Agrícola, Gastronómica e Tecnológica era um sonho, hoje, posso afirmar, é uma realidade.”