Casou com um tio, que adoptou o filho dela, que casou com a filha dele. Terá envenenado o primeiro, terá sido morta por ordem do segundo. Irmã de imperador, esposa de imperador e mãe de imperador, Agripina, a Menor, uma das mulheres mais poderosas na Roma antiga, é a protagonista da nova produção do colectivo O Nariz, que leva a palco uma narrativa com dois mil anos encenada por Pedro Oliveira, a partir de texto de Victor Martins Sant’Anna, com interpretação de Isabel Muñoz Cardoso, actriz que desde 1995 integra elencos da companhia Artistas Unidos.
A peça tem estreia agendada para amanhã, 29 de Setembro, no arranque da edição de 2023 do Acaso – Festival Internacional de Teatro.
No monólogo, emerge a dinastia dos primeiros cinco imperadores de Roma. Os laços de sangue e casamento ligam Agripina a Calígula (irmão), Cláudio (tio e depois marido) e Nero (filho) e também a Augusto, o primeiro imperador romano, e Tibério, o segundo, de quem era, respectivamente, bisneta e sobrinha-neta.
Filha de um general e político, Agripina casou pela primeira vez aos 13 anos de idade, com um primo, conheceu o luxo das elites e as agruras do exílio, mas movimentou-se sempre no xadrez da intriga e da traição.
“Como é que uma pessoa consegue passar por aquilo tudo?”, questiona Pedro Oliveira. “Não é uma coitadinha”, é “uma assassina nata”. Por vezes, “com muito poder”, outras vezes, “ostracizada e exilada”.
É a primeira vez que o texto de Victor Martins Sant’Anna é representado. O autor brasileiro inspira-se nos relatos de historiadores da época e entrega o protagonismo a Agripina, a Menor.
“Vem contar a história dela, que é rocambolesca”, comenta Pedro Oliveira. “Uma história de sobrevivência, de uma mulher poderosa”.
A nova produção do colectivo O Nariz começou a ser pensada ainda antes da pandemia de Covid-19 e acabou por ser desenvolvida ao longo dos últimos meses. “Cortámos uma série de coisas e secámos o texto todo”, explica o encenador. “Era uma comédia e deixou de ser”.
O resultado que o público vai descobrir amanhã em Leiria é algo que, segundo Pedro Oliveira, “já se faz pouco”. Só voz e palavra. “E era isso que me interessava”.
Cabe a Isabel Muñoz Cardoso assegurar a ponte com a Roma antiga e com uma personagem controversa que chega a obter o estatuto de “augusta” e morre por decisão do próprio filho, de quem era, por outro lado, madrasta e sogra, por via do casamento de Nero com a filha de Cláudio.
“É mais uma mulher fortíssima, que eu tenho todo o orgulho que os encenadores deste país me vão dando, ao longo destes 40 anos. Adoro esta Agripina, tenho imensa pena dela”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. “Afinal de contas, se não tivesse havido estas “agripinas”, teríamos demorado mais tempo, se calhar, a chegar aqui”.
A apresentação de Agripina, a Menor, tem início pelas 21:30 horas, no Teatro Miguel Franco.