Há uns bons anos atrás, concluí que queria saber mais de agricultura. Sete anos depois, percebi porquê.
Tudo parte do truísmo de que todos temos de comer, e de como isso me pareceu tantas vezes irreconciliável com a ideia de lutar “por um mundo onde todos sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”.
A minha obstinação diz-me que é possível, mas foi a minha horta biológica que mo demonstrou. A natureza tem as suas formas de garantir existência, e nos lugares intocados pelos seres humanos observa-se um equilíbrio notável, onde há espaço para todos e onde os pequenos desequilíbrios que vão aparecendo são facilmente neutralizados.
O ser humano, essa fantástica força transformadora, tornou-se um factor de enorme desequilíbrio quando teve uma ideia genial – cultivar o que precisava de comer.
As dinâmicas agrícolas desenvolvidas ao longo do tempo chegaram a um ponto, em muito, comparável ao do capitalismo: alimentam o mundo, mas com cada vez mais doenças e onde as crises cíclicas (os tais desequilíbrios) têm efeitos [LER_MAIS] tão recorrentemente devastadores que se torna cada vez mais difícil voltar ao ponto de equilíbrio.
É insustentável. Mas não foi em vão, tudo isto: fomos adquirindo conhecimentos valiosos, inventámos muito e essas invenções e conhecimento serão muito úteis sempre. Na minha horta, aprendi que existe mais vantagem na diversidade do que na divisão, cada coisa por si.
Se souber juntar tudo da forma certa, com espaço e alimento, as espécies cuidam-se entre si: o tomateiro dá a sombra que a alface ou o manjericão precisam; o estrume das galinhas alimenta as plantas que quero comer; as folhas que estão a tapar a vizinha, arrancam-se para alimentar as galinhas e ainda fazem um antídoto que afasta os insectos que lá andam a mais.
Se eu estiver a fazer um bom trabalho como hortelã, nem isso será necessário, porque quanto mais espécies de animais, plantas e microrganismos houver, menos tenho de fazer. Na natureza totalmente livre, parece que se cada um andar por si tudo dará certo.
Mas acrescentando o elemento humano, ou o hortelão aprende a observar, compreender e cooperar com o mundo à sua volta, organizando, redistribuindo e nutrindo tudo e não apenas o que lhe interessa, ou rapidamente entrará numa espiral de falsa cura que depressa se torna em gestão de pragas.
Ainda tenho muito que aprender e melhorar na minha horta, mas há uma coisa que posso dizer: ela está cada vez mais bonita e os meus tomates são os mais saborosos da cidade!
*Activista