Pergunta rasteira a minha! De facto, António Andrade Albuquerque escreveu mais de trinta livros, e foi um dos autores portugueses mais traduzidos, mas nunca os assinou com este nome.
Todas as suas obras, romances policiais, foram editadas sob o pseudónimo de Dick Haskins. Aos 25 anos, depois de ter desistido do curso de Medicina, publicou o seu primeiro livro, O Sono Da Morte, em 1958.
Em entrevista ao DN, AAA – “um nome que é uma verdadeira gargalhada”, como ele próprio gostava de dizer – conta como foi.
“Tudo começa quando fui trabalhar para a editora Ática. Eu já tinha escrito três livros, mas nunca os tinha mostrado a ninguém. Estava a dar-me bem na empresa e um dia lembrei-me de lhes entregar esses originais para que os pudessem analisar e ver se tinham interesse. Havia dois funcionários encarregados de receberem os originais e um deles achou que aquilo não teria valor.
Então, disse ao colega: "Guardamos isto aqui, nem vale a pena ler, e depois dizemos-lhe que foi recusado." Mas o outro discordou, foi o que me contou mais tarde, e mandou o trio de originais para quem de direito.” Foi o que lhe valeu.
Nesse ano criou a coleção Enigma, na Ática, que passou mais tarde para a sua própria editora, a DêAgá (DH, as iniciais de Dick HasKins.)
A partir de 1961, a sua obra começou a ser traduzida, tendo chegado a muitos países europeus e americanos, com destaque para a Alemanha, onde alcançou lugar entre os autores policiais preferidos.
Teve sucesso também na Suíça, Áustria e Espanha, no Brasil e foi publicado em países de língua inglesa. Foi o mais destacado autor policial português dos anos 60 e 70 e em toda a história da ficção policial portuguesa, não havendo um caso de sucesso internacional comparável ao seu.
[LER_MAIS] Surgiram, na mesma época, outros autores de policiais que adotaram nomes ingleses, como foi o caso de Ross Pynn (José Roussado Pinto) ou até Dennis McShade, o “transparente” pseudónimo de Dinis Machado, que com ele assinou uma “brilhante trilogia de policiais irónicos que, em termos literários, estão fora do alcance de qualquer dos seus concorrentes domésticos, Haskins incluído.” (L.M. Queirós, in Público)
No ano 2000, publicou A Embaixadora, um policial, em 2007 editou dois romances assinados com o seu nome civil: O Papa que Nunca Existiu e O Expresso de Berlim, e ainda deixou mais um livro pronto a publicar: A Metáfora do Medo.
Morreu no passado dia 21 de março. Tinha 88 anos.Se tivesse usado o seu nome próprio português teria tido o mesmo sucesso? Talvez sim. Ou não. É que vivemos num país em que se dá mais valor ao que é estrangeiro…
*Professora
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990