Numa escola do 1.º ciclo do concelho de Leiria o comportamento de um menino está a preocupar alguns pais, que se queixam de agressões e violência contra colegas, professores e funcionários.
A denúncia chegou ao JORNAL DE LEIRIA de forma anónima e foi confirmada pela direcção do agrupamento, que garante que a situação está “controlada” e que a criança em causa “está a ter acompanhamento de um pedopsiquiatra e dos serviços de psicologia da escola”, salientando, contudo, que a situação “não é tão grave” como foi relatada ao jornal.
“Trata-se de um menino com instabilidade emocional e quando está descontrolado torna-se mais agressivo, mas as professoras e as funcionárias fizeram formação e sabem como lidar com as situações de crise”, garante o director, que o JORNAL DE LEIRIA prefere não identificar, uma vez que o caso relatado está longe de ser uma situação isolada nas escolas portuguesas.
“A cultura da escola é de inclusão. Já temos uma professora auxiliar, que intervém junto da criança quando ela se torna mais irrequieta. Afasta-a da sala onde estão os colegas e trabalha com ela noutro local. Também temos de ajudar os pais deste menino, que são colaborantes, e estão preocupados”, sublinha o responsável.
O pai que denunciou o caso questiona até que ponto a integração deve ser feita nas escolas, sobretudo, quando numa turma um elemento pode prejudicar 20 ou mais alunos, impedindo uma aprendizagem tranquila, concentrada e consolidada. Este pai não está sozinho nesta dúvida.
Alguns docentes ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA também deixam a dúvida: integrar a todo o custo? E os outros?
Quando e como integrar
Além dos alunos problemáticos, que são seguidos pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, também eles vítimas de um meio desestruturado e com pouco acompanhamento familiar, as escolas recebem, cada vez mais, alunos com perturbações mentais, que podem criar desequilíbrios dentro de uma sala de aula. Todos concordam que é necessário integrar e ensinar os alunos a conviver com a diferença e a respeitar o outro, mas os docentes lamentam que sejam poucas as escolas que tenham respostas concretas para os alunos que necessitam de maior acompanhamento.
“As escolas não têm os meios para integrar todos os tipos de alunos”, reconhece uma docente. “Alguém questiona a razão do mau comportamento dos alunos?” A pergunta é deixada por Idalina Gordo, professora de Educação Especial há quase 40 anos, que garante discordar da ideia de integração a todo o custo. “Isso não é inclusão.”
A docente acrescenta que incluir é “quando há presença, participação e desenvolvimento do aluno”. “Não é só estar lá”.
Para Idalina Gordo, é fundamental “perceber a razão” que leva os alunos a perturbar as aulas, independentemente de terem ou não necessidades específicas. “Pode ser um aluno que tenha algum problema emocional, que necessite de terapia, mas também se deve questionar como está a decorrer a aula. Há muitas variáveis, umas intrínsecas e outras sócio-familiares e de natureza escolar”, reforça.
Escola tem de mudar
A professora considera que a organização do sistema de ensino tem de se adaptar aos dias de hoje. “A tendência ainda é para as aulas expositivas. Até há alunos que não têm qualquer problemática e vão ter problemas comportamentais, porque a escola não lhes diz nada. É preciso alterar estas dinâmicas para todos. Temos de ensinar numa vertente mais activa, mais participativa”.
“Os alunos, a sociedade, os pais e a forma de chegar ao conhecimento mudaram. O ensino não”, lamenta, ao afirmar que não “pode passar pela cabeça de alguém isolar estes alunos”, até porque o objectivo é preparar estes jovens para se inserirem na sociedade. “Se não praticarem essa integração como será quando forem para a sociedade? Vão passar por essas dificuldades.”
“Estas crianças são de pleno direito da escola. A questão é que escola estamos a dar a esses alunos e aos outros. Mas, se há alunos e pais, e até professores e funcionários, que se incomodam por haver alunos com essas necessidades dentro da escola, esses pais e alunos têm também direito em se incomodar se entenderem que não estão a ser respeitados os seus direitos.”
Idalina Gordo reconhece que a maioria das escolas não está preparada para dar a resposta a estes e a outros alunos, que não aprendem com tanta facilidade. “São precisos mais recursos humanos e materiais e é absolutamente fundamental a formação dos professores e do pessoal não docente”, que deveria ser contratado a longo prazo. A formação inicial de professores “ainda não está a formar para o paradigma da diversidade, que já existe nas escolas há muito tempo”.
Com essa preparação a “dinâmica na sala de aula iria alterar-se”, mas a avaliação também teria de ser modificada e deixar de assentar nas inteligências lógico-matemáticas. “Se ficarmos nestas duas inteligências, muitos alunos vão ficar de fora.”