Natura – ferramentas que promovem o brincar na natureza foi o tema do projecto de tese de mestrado em Design de Produto de Maria Bártolo Coutinho, aluna da Escola Superior de Arte e Design, de Caldas da Rainha, do Politécnico de Leiria.
A jovem de 25 anos concebeu três projectos diferentes, que incentivam as crianças a “partir à descoberta”, a “sujar as mãos” e a apelar à “capacidade inata de construção das crianças”.
“Todos os projectos pretendem ser um veículo de aproximação ao exterior e têm como elemento comum a utilização de componentes adquiridas na rua, através de um contacto próximo com a natureza. Desta forma, as crianças são incentivadas a partir à descoberta, estimulando a autonomia, desenvolvendo a capacidade de superação e aprendendo mais sobre o meio ambiente, através dos seus diferentes elementos”, explica Maria Bártolo Coutinho.
Segundo a estudante, “este trabalho, mais do que desenhar brinquedos enquanto objectos, tem como objectivo desenvolver ferramentas que incentivem brincadeiras no espaço exterior, com um determinado grau de liberdade, permitindo estimular a criatividade das crianças”.
Com uma infância e adolescência passadas nos escuteiros, o projecto é o “reflexo” das suas vivências com a natureza e em grupo. Constatando que ao longo dos tempos as crianças se têm vindo a afastar da natureza, Maria Bártolo Coutinho [LER_MAIS]pretendeu “criar alternativas que invertessem esta tendência, tentando incentivar crianças e pais a usufruir da natureza como espaço de desenvolvimento, aprendizagem, partilha e aventura”.
Na pesquisa para a sua tese , a estudante percebeu que as crianças continuam a ter um “grande interesse por actividades na rua, por ultrapassar limites e por sair da sua zona de conforto”. “Mais do que incentivar as crianças a brincar na rua, é necessário incentivar os pais a permiti-lo.”
Segundo Maria Bártolo Coutinho, os produtos desenvolvidos podem ser utilizados das mais variadas formas, sendo esta “ uma das suas mais-valias”.
O projecto de construção pretende “também encorajar os pais a colaborarem, ajudando não só no momento de recolha das canas ou ramos, mas também na construção da estrutura”.
Tiro ao alvo com sementes
Este projecto tem por base uma brincadeira tradicional, que consiste em atirar as sementes de uma erva daninha para a camisola de outra pessoa, para se contarem o número de namorados que esta supostamente tem, dependendo de quantas ficam agarradas ao tecido. Maria Bártolo Coutinho explica que teve a ideia de “recriar esta brincadeira, transformando-a num jogo de tiro ao alvo – as sementes assumem o papel de setas e o alvo está representado numa aplicação em burel feita numa tshirt”. “Nas costas estão estampadas as instruções de utilização do produto, ilustrando os vários passos da acção, desde o momento da recolha e colecção das sementes até ao ponto em que estas são atiradas e se prendem à superfície do alvo.” A aluna defende que esta ferramenta “torna mais presente a necessidade de procurar e recolher os elementos da natureza necessários à acção sugerida, incentivando assim as crianças a desenvolver um sentido de observação mais activo e incrementando competências físicas, como a destreza e a pontaria”.
Criar a própria saia e coleccionar folhas
Um dos projectos apresentados por Maria Bártolo Coutinho na sua tese de mestrado teve como referência o herbário tradicional. “Procurou-se desenvolver um suporte que propiciasse momentos de procura e descoberta no espaço natural, incentivando as crianças a sujar as mãos e a construir a sua própria saia, podendo criar composições diferentes e únicas a cada utilização”, explica. Produzida em linho, a saia “possui um conjunto de pequenos bolsos, na parte frontal, nos quais podem ser colocados todo o tipo de elementos coleccionados, desde folhas a penas ou pequenos ramos”. Estes são exemplos já que, segundo a autora do projecto, “qualquer matéria que desperte a atenção e curiosidade da criança” pode ser apanhada. “A colocação destes elementos naturais é feita de forma muito fácil e intuitiva, posicionando-os nos bolsos à sua escolha e inserindo-os de forma vertical.” Para Maria Bártolo Coutinho, esta ideia contribui para o desenvolvimento da capacidade criativa dos mais pequenos, “dando um cunho pessoal à sua roupa, podendo alterá-la as vezes que desejarem e demonstrando também assim os seus gostos e personalidade”.
Construir à medida da imaginação
Através de três peças distintas “produzidas em PLA através de impressão 3D, inspiradas em tipos de amarrações feitas com cordas e utilizadas frequentemente pelos jovens nos escuteiros” este projecto apela à “criatividade e capacidade inata de construção das crianças”. “O botão em esquadria, o peito de morte e a ligação do tripé são algumas das amarrações mais importantes, pois permitem criar uma grande variedade de construções”, adianta Maria Bártolo Coutinho. Este projecto poderá auxiliar as crianças “no mais variado tipo de construções no espaço exterior, utilizando canas ou outro tipo de ramos”. “As peças de ligação desenvolvidas são de utilização simples e intuitiva e permitem criar uma infinidade de estruturas.” Ao contrário dos outros dois projectos, que possuem “um carácter mais artesana”l, este foi pensado de forma a “acompanhar a evolução das tecnologias de produção actuais, aliando a tecnologia e a brincadeira no exterior e encontrando um equilíbrio saudável entre estes dois universos”. “Sendo a impressão 3D uma tecnologia em grande crescimento e cada vez mais acessível, este produto poderá ser disponibilizado online para que a sua impressão seja feita em casa.”