Contribuir para mitigar a escassez de água e a poluição do Maciço Calcário Estremenho, desde a infiltração até às nascentes, é o principal objectivo do projecto que está a ser desenvolvido no Colégio de São Miguel, em Fátima, envolvendo alunos do ensino secundário e do 3.º ciclo. Em termos geográficos, a iniciativa centra-se no designado planalto de Fátima, que abrange não só esta freguesia, mas também Santa Catarina da Serra e Chaínça.
Segundo Álvaro Madureira, professor de Biologia e Geologia que coordena o projecto, uma das áreas que está a ser trabalhada pelos alunos é a identificação e mapeamento de lixeiras “selvagens”, fornecendo elementos para que “os resíduos sejam recolhidos e não contaminem os aquíferos calcários do planato”. Para tal, o projecto conta com a colaboração da Junta de Fátima, apostando também na sensibilização da população para os efeitos da deposição indevida de resíduos na contaminação do aquífero, frisa o docente.
No âmbito do projecto foi também criada uma “brigada de monitorização”, responsável pela recolha de água para análise em vários pontos, como os telhados do colégio, o interior das Grutas da Moeda, em São Mamede, e a nascente do rio Lis, nas Cortes. Essas amostras foram já analisadas quer no laboratório do estabelecimento de ensino, quer pelos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Leiria, avança Álvaro Madureira, revelando que, no caso da nascente do Lis, os dados evidenciam a existência de “contaminação por bactéria, com a presença de 365 e-coli por 100 milímetros de água”.
Outro indicador prende-se com o “aumento dos níveis de cálcio da água desde a superfície até à profundidade”, o que se deve às características do maciço calcário. Entre as actividades do projecto está também o aproveitamento da água pluvial, através de um sistema que encaminha a chuva que cai nos telhados do colégio para um depósito, que irá depois alimentar um pequeno lago a criar no recinto escolar.
Os alunos irão também construir bebedouros para as aves usufruírem durante os meses mais secos e proceder à elaboração e instalação de placas em madeira para a identificação de espécies vegetais. Já em desenvolvimento, está a criação de um viveiro de árvores autóctones – azinheira e carvalho cerquinho -, mais resistentes à escassez de água. “Fizemos recolha de sementes, que estão já em desenvolvimento, para depois fazermos a plantação em áreas ardidas”, adianta Álvaro Madureira.
O docente destaca o carácter multidisciplinar do projecto, que abrange não só as áreas da Biologia, da Geologia e das Ciências Naturais, mas também a Informática, com o envolvimento dos alunos no mapeamento dos pontos de contaminação através da aplicação informática Google Earth, e da disciplina de Educação Visual, com a elaboração de materiais de sensibilização.
“Conciliamos o programa curricular, com actividades práticas. É um projecto que sai da escola, trabalhando com as famílias e a comunidade”, acrescenta Álvaro Madureira, referindo a colaboração de várias entidades, entre as quais, os municípios de Leiria e de Ourém, a Junta de Fátima e a União de Freguesias de Santa Catarina da Serra e Chaínça, a empresa Be Water e os programas Escola Electrão e Eco-Escola.